Três meses. Noventa dias de horror ininterrupto, e a alma de Melody estava quase totalmente gasta. O corpo dela, antes esguio, estava agora marcado por uma constelação de hematomas. Ela não tinha mais forças para se mover, apenas para respirar o ar mofado daquele barraco. O Coringa havia conseguido o que queria: ela estava quebrada.
Um dia, em meio à sua resignação, a porta se abriu de repente, e o som da violência não se voltou para ela, mas para um novo alvo.
"Cala a boca, pirralha! Você tem que aprender com a cega a ficar quieta!"
Ouvir o baque de um corpo pequeno caindo no chão e os soluços agudos de uma voz infantil despertou Melody de seu torpor suicida. Ela não podia se salvar, mas talvez pudesse salvar aquela vida.
A menina, Hellen, de apenas quinze anos, chorava descontroladamente, assustada e machucada. O Coringa a jogou perto de Melody, informando, com prazer sádico, que ela era a irmã do Capetinha e seria a moeda de troca.
"Não tenha medo," Melody sussurrou, a voz arranhada. Foi a primeira palavra que ela proferiu sem ser sob tortura em meses. Ela tateou o chão, ignorando a dor aguda em suas costelas, até que seus dedos tocaram o braço trêmulo de Hellen.
Hellen se encolheu, mas o calor de Melody e a ausência de intenção sádica a fizeram recuar e se agarrar. Naquele instante, nasceu uma aliança de desespero.
Melody, a cega, tornou-se a protetora. Ela usou a única coisa que lhe restava – seu corpo. Quando o Coringa vinha abusar de Hellen, Melody se interpunha. Ela implorava, trocava-se, assumindo a dor e a violência para que Hellen pudesse se encolher no canto. Hellen a via como um anjo da guarda, a luz na escuridão, e o apego da menina deu a Melody uma nova razão para respirar. Ela não podia mais morrer, pois a morte a faria falhar com Hellen.
Mas a nova rotina de sacrifício tinha um preço terrível.
Passaram-se algumas semanas, e
Melody percebeu a mudança em seu corpo. Os enjoos matinais, o cansaço que não vinha apenas da desnutrição, a sensibilidade nos seios. Ela estava grávida.
Aterrorizada e nauseada, Melody tateou a barriga. Um bebê. Fruto do seu algoz, uma vida crescendo na escuridão. O Coringa não podia saber. Ele faria algo cruel, algo que usaria a vida em gestação para torturá-la ainda mais. Ela escondeu a notícia, protegendo-se com roupas largas e evitando o Coringa o máximo possível.
Mas a alegria do Coringa não era discreta. Certo dia, ele recebeu uma grande quantidade de dinheiro. Bêbado e eufórico, ele entrou no barraco.
"Sabe, Melody, hoje estou de bom humor. Tanto que talvez eu te dê um presente!" ele riu, tocando o ventre dela.
O medo fez Melody encolher. Ela tateou suas mãos, sentindo a mudança em seu corpo.
"O que é isso?" Ele parou de rir, a mão se tornando uma garra sobre a sua barriga. "Você está mais gorda, sua puta! Não vai me dizer que..."
O grito do Coringa foi de fúria e traição. Ele não queria um filho; ele queria um brinquedo quebrado. A ideia de que ela havia escondido a gravidez, de que seu corpo havia gerado algo que ele não controlava, o levou à insanidade.
A surra não foi um abuso; foi uma tentativa de assassinato. Ele a jogou contra a parede, ele a chutou e socou com fúria cega, focando toda a sua raiva no ventre dela. Hellen gritou, se atirando sobre Melody, tentando inutilmente parar a violência.
"Eu vou tirar isso! Vou tirar essa praga daqui! Eu não quero um herdeiro seu!" Coringa berrava.
Melody sentiu a dor mais excruciante de toda a sua vida. Não era a dor das costelas, era uma dor interna, líquida e quente. Ela sentiu algo escorrer por suas pernas.
Quando o Coringa finalmente se cansou e saiu, deixando Hellen chorando e Melody inerte no chão, o cheiro de sangue inundou o quarto. Melody soube. Aquele pequeno ponto de luz, aquela vida que representava o único vestígio de esperança, havia se esvaído.
Ela estava vazia. Duplamente vazia. Ela havia falhado em proteger a única coisa que a fazia querer viver. Ao lado do corpo dela, Hellen chorava, abraçando-a.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 42
Comments
L¿¿z
chorei 😭
2025-10-23
  1