Um mês. Trinta dias de tortura sensorial e física se arrastaram para Melody como um inferno monótono. O mundo dela não era mais a escuridão da cegueira; era a escuridão do Coringa.
A rotina era previsível, e o sadismo dele não diminuía. Na verdade, crescia com a sua resignação. Ele não gostava que ela estivesse calada; ele queria a quebra, os gritos. O fato de Melody não lhe dar esse prazer o enfurecia, e ele aumentava a crueldade, esperando encontrar o ponto de ruptura.
O Coringa explorava a cegueira dela de maneiras que iam além do abuso físico. Ele a fazia rastejar pelo chão frio e úmido, rindo quando ela esbarrava nas poucas peças de mobília que ele tinha. Ele a forçava a comer, colocando a comida (quase sempre arroz duro e feijão frio) fora do alcance de sua mão, obrigando-a a farejar como um animal para se alimentar. Ele sussurrava nomes, dizendo que a levaria para conhecer "amigos", e depois a jogava de volta no colchão, rindo ao descrever o pavor que ela sentia ao imaginar novas mãos sobre si.
Melody não tinha mais esperança. O corpo dela era uma tapeçaria de hematomas, e a dor constante havia se tornado um companheiro silencioso. Ela já não conseguia distinguir o cheiro do seu próprio sangue do cheiro da sujeira do colchão.
A escuridão, que antes era apenas a ausência de visão, agora parecia um peso sobre seu peito. Ela desejava o fim. Ela tentava se lembrar da voz de sua mãe, da sensação do sol em seu rosto, mas as memórias estavam se desvanecendo, engolidas pela opressão do barraco.
Uma noite, após um abuso particularmente brutal, o Coringa a deixou jogada no chão. Ele estava rindo enquanto se vestia.
"Você não aprende, não é, boneca? Eu gosto de ver a sua ferocidade. Mas você é inútil. Ninguém vai te procurar. Seu pai recebeu o dinheiro e sumiu. Você é minha até eu me cansar. E quando isso acontecer, vou vendê-la para o próximo que pagar mais."
As palavras dele não foram uma ameaça; foram a constatação de sua verdade. Ela era uma mercadoria, descartável.
"Por que você não me mata?" Melody conseguiu sussurrar, a voz rouca e quase inaudível. Pela primeira vez em semanas, ela estava implorando. Implorando pela única forma de libertação que lhe restava.
O Coringa parou, o som de seu coturno paralisado no chão.
Ele se inclinou, e o cheiro repugnante dele invadiu o ar.
"Matar você? Por que eu faria isso? A dor de saber que você vai acordar amanhã... A dor de saber que eu voltarei... isso é muito mais divertido. A morte é muito fácil, Melody. Eu quero que você sofra a vida."
Ele saiu, trancando a porta com uma chave que parecia girar o eixo de sua existência.
Melody rastejou de volta para o colchão. Não havia lágrimas; ela havia chorado todas elas. Ela sentia o frio subindo do chão e desejava que ele congelasse seu coração. Ela era cega, abusada e estava sozinha. A única coisa que ela sentia era um cansaço avassalador, a necessidade urgente de fechar os olhos e não mais acordar.
Ela tentou visualizar a imagem de sua mãe, mas a imagem estava borrada. A única coisa nítida era a crueldade do homem que a possuía. A luta havia acabado. Ela estava quebrada.
Melody se encolheu, e o desejo de morrer se tornou o seu único e último refúgio. Ela não tinha mais forças para esperar.
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Atualizado até capítulo 42
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