O apartamento de Bella Martinelli era um cubículo no terceiro andar de um prédio antigo e malconservado o cheiro de mofo e desinfetante barato pairava no ar.
Era um lugar pequeno, mas era dela seu refúgio, mesmo que a paz fosse sempre passageira a humilde decoração e os móveis de segunda mão contrastavam com a imagem profissional que ela havia sustentado na Pavini Pharmaceuticals.
Bella estava na pequena cozinha bebendo água e comendo um pão velho, o cansaço da entrevista ainda pesando, quando o som estrondoso da porta sendo chutada a fez estremecer ela não precisava ver para saber quem era.
No batente, a silhueta imponente de seu pai, Silvio, preencheu a entrada ao lado dele, sua irmã, Carmen, de beleza fria e olhos duros, a encarava com desprezo. Eles não eram a família no sentido de amor; eram os parasitas que drenavam sua vida e controlavam seu destino.
— Então, a vadiazinha conseguiu o emprego? — A voz áspera de Silvio o era um trovão , ele avançou, inspecionando o lugar com desdém.
— Sim, pai começo na segunda. — A voz de Bella era monótona, desprovida de qualquer emoção, aprender a desligar-se era sua única defesa.
— Como é que é? — Carmen deu um passo à frente, e o terror gelou o sangue de Bella.
Em um movimento rápido e cruel, Carmen a alcançou, puxando-a pelo cabelo com força o primeiro tapa estalou no rosto de Bella, fazendo sua cabeça virar com violência o segundo veio antes que ela pudesse recuperar o equilíbrio.
— Isso… é… para você aprender a ter modos! — Carmen sibilou, os olhos injetados de ódio.
O terceiro tapa veio mais forte, forçando Bella a cair de joelhos no chão frio a dor era familiar, quase uma velha conhecida.
— Você acha que conseguiu isso com sua competência? Você conseguiu porque é a prostituta que abriu as pernas para ele. E porque Luigi Pavini é o Don e o nosso pai precisa dele! — Carmen cuspiu as palavras com veneno.
Silvio se ajoelhou à frente de Bella, agarrou seu queixo com força brutal e forçou-na a encará-lo o hálito dele fedia a álcool e cigarro.
— Escute bem, Bella. De agora em diante, você será o nosso par de olhos e ouvidos lá dentro. Você vai falar bem de mim para o Luigi. Vai dizer a ele o quanto sou leal, o quanto sou um conselheiro confiável. Entendeu?
— Entendi, pai.
— E mais importante… — Ele apertou o queixo dela com tanta força que Bella sentiu a saliva de sangue.
Seus olhos se moveram para a barriga dela, e o medo real, o pânico que ela tentava suprimir, inundou-a.
— Se você falhar se você ousar cometer um erro, ou se tentar fugir de nós… — Ele inclinou a cabeça, o olhar maligno. — Já sabe o que acontece com o seu bastardo.
A menção do filho não nascido era a sua fraqueza suprema a única razão pela qual ela ainda tolerava a vida de abusos.
— Eu não vou falhar. — A voz de Bella era um sussurro sufocado, mas firme o suficiente para ele ouvir.
Por horas, a casa de Bella foi seu inferno pessoal, eles vasculharam seus poucos pertences, pegaram o pouco dinheiro que ela tinha guardado e, como um ritual sádico, a torturaram para "garantir sua lealdade".
Carmen usava o cinto de couro, Silvio, as palavras, ele a forçava a ficar de pé, imóvel, enquanto a chicoteava nas costas e nos braços.
— Você é uma desgraça para a nossa família. — Whack. — Uma traidora suja. — Whack. — Seu dever é servir, Bella! Servir ao seu sangue!
O sangue escorria de pequenos cortes e vergões nas costas de Bella, mas ela mal reagia, seus lábios estavam cerrados. Seu corpo estava acostumado com a dor, com a fome que eles a submetiam para "mantê-la fraca e obediente". A dor física era menos insuportável do que a dor em sua alma, do que o medo constante pelo bebê.
Ela não podia quebrar , não agora quando eles finalmente se foram, levando consigo toda a dignidade e paz que restava, Bella rastejou até o banheiro. Ela se olhou no espelho quebrado: lábios inchados, um hematoma roxo se formando na maçã do rosto, os olhos fundos e vazios.
Ela ligou a água do chuveiro, a água fria batendo nas feridas e lavando o sangue.
— Pelo meu filho. — Ela sussurrou para o reflexo, um juramento silencioso e desesperado. — Eu vou suportar tudo. Eu vou usar esse monstro na Pavini Pharmaceuticals para nos libertar.
A dor a lembrava de que ela estava viva, e de que tinha um propósito: sobreviver e proteger o pequeno segredo que crescia dentro dela, o segredo que, se Luigi Pavini descobrisse, poderia salvá-los ou destruí-los para sempre.
A segunda-feira chegou, e com ela, Bella Martinelli, ela vestia um blazer simples, mas elegante, cobrindo as marcas do último fim de semana. Seu rosto, cuidadosamente maquiado, disfarçava o roxo do hematoma, mas a dor, e o medo, eram cicatrizes profundas.
Luigi Pavini esperava por ela a tensão em sua sala era palpável, ele a observava com uma intensidade que Bella fingia não notar, sentado atrás de sua mesa de ébano.
— Boa tarde, Sra Martinelli começamos a trabalhar.
— Boa tarde, Sr Pavini estou pronta.
Bella não era apenas competente; era um prodígio. Nas duas primeiras semanas, ela absorveu o fluxo de trabalho de Luigi com uma rapidez assustadora.
Antecipava ligações, organizava a agenda caótica com precisão cirúrgica e preparava relatórios com uma clareza que superava a de qualquer executivo.
Os problemas na Pavini Pharmaceuticals, que haviam atormentado Luigi, começaram a se dissipar sob o toque metódico de Bella.
Ela cumpria todas as ordens com obediência militar, sem questionar, sem reclamar Luigi podia exigir que ela ficasse até as dez da noite, e ela estaria lá, trabalhando em silêncio e eficiência, mas era exatamente essa perfeição que estava deixando Luigi cada vez mais irritado.
Ele a sobrecarregou de propósito pilhas de documentos confidenciais da farmacêutica, relatórios de due diligence das propriedades da máfia, tudo para forçá-la a um ponto de ruptura, a um deslize. Mas ela não quebrava ela simplesmente entregava tudo, impecável e a tempo.
O que o enfurecia acima de tudo era a falta de interesse dela Bella não flertava, não sorria com segundas intenções. Seu olhar era sempre focado no trabalho, profissional e distante ela era uma parede de gelo de competência. Ele era o Don da máfia, um homem que exalava poder e desejo, e ela o tratava como um mero empregador.
— Sra. Martinelli! — Luigi a chamou certo dia, com a voz carregada de frustração mal disfarçada. — Traga-me os documentos do acordo com os russos e peça o meu almoço.
— Sim, senhor os documentos estão aqui. — Ela colocou a pasta na mesa dele. — E o seu almoço já foi pedido. Uma salada de frango grelhado e água com gás, conforme a sua rotina.
Ele a encarou, procurando alguma fenda, algum sinal de que ela o estava testando.
— O que você vai comer, Sra. Martinelli?
— Eu já comi, Sr. Pavini.
Ele sabia que era mentira ela raramente tocava na comida, quando ele a via comendo, o fazia com a lentidão e a repulsa de alguém que estava sendo forçado a engolir veneno.
— Mentirosa. — A palavra saiu em um rosnado baixo, e ele se levantou, andando até ela Bella não recuou, apenas manteve a postura profissional. — Eu não tolero mentiras você tem passado horas aqui vai comer agora.
— Não estou com fome, Sr Pavini.
— Eu não pedi sua opinião. — Ele pegou o sanduíche que ela havia pedido para si e colocado de lado. — Coma agora.
Bella pegou o sanduíche com as mãos trêmulas e deu uma mordida minúscula, mastigando com visível esforço, como se o sabor a nauseasse Luigi a observou com atenção sombria, o nojo em seu rosto era real mas o que estava por trás disso?
— Você está doente?
— Não, senhor só não estou com muito apetite, ele sabia que ela estava guardando segredos e isso só o impulsionava a descobrir tudo.
Duas semanas depois, a máfia Pavini organizou uma festa de gala na sua sede mais suntuos, era um evento de negócios e poder Luigi, forçado a aparecer por obrigações sociais, convidou sua nova secretária como "acompanhante profissional".
Bella compareceu impecável em um vestido preto discreto, parecendo uma estátua de mármore em meio ao brilho excessivo.
Seus pais e sua irmã, Carmen, estavam lá, é claro e o plano de Silvio era simples: usar Bella para se aproximar de Luigi Carmen tentou se insinuar, forçando sorrisos para o Don, mas Luigi, com Bella ao seu lado, mal a notou, tratando-a com a mesma indiferença fria que dedicava a todos que considerava irrelevantes.
Carmen foi ignorada a noite toda e ela sabia que pagaria por isso.
O pagamento veio naquela mesma noite , assim que Bella abriu a porta do seu apartamento, a escuridão era o único prenúncio seu pai, sua mãe e Carmen estavam lá, esperando, com os rostos contraídos em ódio puro.
— Você não serve para nada! — Carmen gritou, o cheiro de álcool forte em seu hálito. — Ele me ignorou! Me ignorou como se eu fosse sujeira!
— Eu tentei, Carmen ele estava…
— Cale a boca! — Seu pai a atingiu no estômago, fazendo-a dobrar-se.
O pai e a irmã se revezaram, uma orgia de violência e desprezo. Chutes, socos, tapas a dor rasgava Bella, e ela mordia o lábio até sangrar para não gritar e acordar os vizinhos.
Quando o pai e Carmen pararam, exaustos, sua mãe, Lucia, se aproximou. Lucia raramente usava as mãos, preferindo armas verbais, mais afiadas. Ela olhou para a filha jogada no chão, em um monte de dor e sangue.
— A pior coisa que fizemos… — A voz de Lucia era fria, sem uma gota de calor materno. — A pior coisa que fizemos foi ter aceitado você na nossa casa.
Bella levantou a cabeça, os olhos implorando, ela já estava acostumada com a dor, mas algo na voz da mãe a atingiu mais fundo.
— Você não é nossa filha, Bella. — Lucia continuou, o tom indiferente, mas cada palavra era uma facada. — Você é só uma qualquer uma vadia que encontramos no lixo.
O choque gelou Bella mais do que qualquer pancada não era a primeira vez que eles a ameaçavam, mas a confirmação direta, dita com tamanha crueldade, abriu um buraco em sua alma.
— Eu…
— Não fale. — Lucia deu as costas. — Seu único valor é fazer o que mandamos agora, levante-se e esteja apresentável para o seu Don amanhã ele não pode saber que você tem feridas.
Bella ficou ali, no chão frio e imundo, as palavras ecoando: achamos no lixo, não é nossa filha a dor em seu corpo era irrelevante comparada à verdade que acabara de ser jogada em seu rosto. Não havia laços de sangue para defendê-la havia apenas ela, seu bebê e o monstro que ela tinha que usar para sobreviver.
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Atualizado até capítulo 37
Comments
Leitora compulsiva
puts coitada, que vida 😥
2025-10-20
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