A viagem para a fronteira foi silenciosa e longa. Eu estava espremida entre dois guardas da Matilha Moon Black, brutos e fedorentos, que pareciam ter tanto desprezo por mim quanto Lívia. Eu encarei o escuro, agarrando-me à única coisa que me restava: minha teimosia.
Eu não era um objeto. Eu era Serena. Eles podiam ter vendido meu corpo, mas minha alma, a loba silenciosa que vivia dentro de mim, jamais se curvaria. Eu teria que ser inteligente. O Lorde Darian podia ser um Alfa, mas eu havia sobrevivido à tirania da minha madrasta e à indiferença do meu pai por dezenove anos. Eu era uma sobrevivente.
Quando a carruagem parou abruptamente, o ar estava mais frio, e o cheiro... ah, aquele cheiro. Era como pinho congelado e poder puro. O cheiro que havia arrepiado meus pêlos mais cedo estava aqui, amplificado. Ele me dizia: perigo.
Um dos guardas abriu a porta com um rangido.
"Chegamos, Ômega. Desça e se comporte."
Eu desci, ignorando a mão estendida do guarda. O local era uma pequena clareira na divisa das terras, iluminada pela lua quase cheia e por uma fogueira que crepitava.
E lá estava ele.
Lorde Darian.
Ele não era um monstro, como as lendas sugeriam, mas era algo mais intimidador: uma escultura viva de domínio. Ele era imensamente alto, com ombros largos que se curvavam sobre um corpo duro e musculoso. Sua jaqueta de pele de animal escuro o fazia parecer ainda maior. Seus cabelos eram escuros como a meia-noite, caindo um pouco sobre sua testa.
Mas foram seus olhos que prenderam os meus. Eram de um cinza-prateado, como gelo refletindo o luar. Olhos que não demonstravam emoção, apenas uma avaliação fria e exaustiva.
Ele estava acompanhado por três Alfas da Matilha da Geada, todos com expressões sérias, vestindo armaduras leves e pesadas capas. Darian parecia o rei, e eles, seus súditos leais e mortíferos.
Ele não se moveu. Apenas me observou, os olhos percorrendo-me lentamente, como se estivesse inspecionando um pedaço de gado antes da compra. O olhar parou em minhas curvas, em meu corpo... a razão pela qual eu estava ali. Senti o calor do constrangimento, mas o transformei em fogo de indignação.
Um dos guardas da Moon Black pigarreou e fez uma reverência apressada.
"Lorde Darian. Trouxemos a Ômega. Serena, filha do Alfa da Lua Negra."
Darian finalmente falou. Sua voz era profunda, um barítono rouco, como gelo rachando.
"Eu vejo."
Ele deu um passo lento em minha direção. A presença dele era esmagadora, e meu lobo interior uivava de submissão instintiva, uma reação que eu odiava com todas as minhas forças.
Ele estendeu a mão. Não era para me tocar. Era para tocar meu queixo, e ele o fez, levantando-o um pouco para forçar um contato visual mais íntimo.
"Você é uma Ômega muito... formosa," ele disse, a palavra soando como um cálculo, não um elogio. "Seu pai disse que você é resistente e fértil. Você sabe por que está aqui, Serena?"
Seu toque era frio e autoritário. Eu senti a pressão de me encolher, de balbuciar 'sim, senhor', mas a memória do rosto sorridente de Lívia e da traição do meu pai me deu força.
Eu puxei meu queixo para longe de seu toque, ignorando o bufo chocado dos guardas. Levantei a cabeça, olhando-o diretamente nos olhos de gelo, apesar do meu coração bater como um tambor no peito.
"Sei. Fui vendida como uma cadela de reprodução para gerar seus herdeiros, Lorde Darian," respondi, minha voz firme e controlada, sem um traço de medo perceptível. "Mas permita-me esclarecer um ponto, já que meu pai omitiu detalhes."
A sobrancelha escura de Darian se ergueu, em um sinal de surpresa sutil que parecia exigir meu silêncio imediato. Os Alfas dele ficaram tensos.
"Eu não sou resistente. Sou teimosa. Não sou submissa. E farei o que for preciso para sobreviver, mesmo em um canil real," declarei, a respiração mais rápida. "Eu serei sua Ômega, mas eu não serei seu pet submisso, Lorde. Se espera uma puta que rasteje, o senhor comprou a pessoa errada."
Um silêncio pesado caiu sobre a clareira. Os guardas da Moon Black pareciam querer me estrangular. Os homens de Darian se entreolharam, chocados com a audácia de uma Ômega.
Darian não demonstrou raiva. Pelo contrário. Um sorriso lento e perigoso começou a surgir nos cantos de sua boca, um sorriso que não alcançava seus olhos frios. Não era divertido. Era o sorriso de um predador que havia encontrado um brinquedo inesperadamente interessante.
"Fascinante," ele sussurrou, a voz carregada de ironia. Ele acenou para um de seus Alfas com um gesto mínimo. "Paguem o preço completo à Matilha Lua Negra, e o dobro pelo... entretenimento."
Ele se virou, me dando as costas. "Venha, Serena. Você acabou de garantir que sua estada no Norte não será tediosa. Agora, vamos ver se essa sua boca atrevida tem a mesma determinação na cama."
Eu senti o calafrio percorrer meu corpo.
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Atualizado até capítulo 20
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