Andei sem rumo pelo estacionamento e depois pelas ruas adjacentes. Minha contenção, forjada em dois séculos de liderança, estava em frangalhos. A visão panorâmica de Nova York, antes um símbolo de meu controle, agora parecia um labirinto vasto demais, um lugar onde a única coisa que importava havia escapado. Eu buscava desesperadamente por qualquer pista, o resquício mais tênue do portador daqueles feromônios que haviam me feito perder a compostura.
Eu andei sem rumo por quarteirões inteiros, meu nariz de Alfa farejando o ar frio da noite, ignorando os olhares humanos assustados. Conan, meu lobo, estava um turbilhão de raiva e desespero. O cheiro da nossa companheira era a promessa de vida; a perda era o presságio de uma morte lenta da alma. Eu não tinha visto a fonte, não sabia a forma que ela tinha, apenas que o aroma era real, único e potente.
E então, eu senti algo.
Era um leve cheiro. Não era aquele aroma inebriante de canela e baunilha, mas sim o odor familiar e terroso de lobos de um clã específico: a Alcateia Lua Negra. Era fraco, quase imperceptível, mas estava ali. Um rastro de esperança, uma trilha fria.
Uma esperança surgiu em meu peito, e meus olhos brilharam com um tom frio e perigoso. A Lua Negra. Eles eram aliados menores, mas próximos do Luar Prateado, o clã extinto. Lembrei-me do convite que Patrick havia arquivado. Em um mês, seria a coroação da Luna daquela alcateia. Eu havia rejeitado o convite, considerando-o abaixo do meu status. Agora, a reunião ridícula de uma alcateia menor se tornou a minha única pista.
Parei em um beco escuro e liguei para Patrick. Ele atendeu na primeira chamada, sua voz tensa, ainda sentindo o efeito da minha Voz de Comando.
— Noah — ele murmurou, surpreso pela hora.
— Consiga-me o convite para a coroação da Lua Negra — minha voz era grave e fria, um contraste com a excitação violenta que fervilhava em meu peito. — Resolvi que farei presença naquela reunião.
Houve um silêncio chocado do outro lado. Patrick sabia o quanto eu desprezava essas cerimônias provincianas.
— E Patrick, prepare a Princesa. Ela virá comigo.
O silêncio ficou mais longo. Levar minha filha ômega para um evento de alcateia menor? Era inédito. Mas era uma jogada política para silenciar os anciãos sobre o herdeiro, e talvez, apenas talvez, para usar a garota como isca para atrair quem quer que tivesse roubado minha companheira.
Eu estava a imaginar. Talvez o portador do cheiro fosse daquela alcateia, ou estivesse se escondendo ali. A Lua Negra antes era próspera, mas depois que a Alcateia Luar Prateado foi massacrada, eles perderam seu maior pilar. Começaram a enfraquecer e já não eram sombra do que foram um dia.
Meus pensamentos me levaram ao Luar Prateado, o clã das Sacerdotisas da Lua, um clã que detinha uma linhagem poderosa. Lembrei-me do caso do massacre anos atrás. Eu havia pedido para que a alcateia Lua de Sangue da minha falecida Luna investigasse o caso. Eles me disseram que era uma rixa de alguns renegados e que, por vingança, haviam exterminado o clã.
Eu não me importei muito. Apesar de ser um clã forte e com ligações diretas com a Deusa da Lua, eu senti uma satisfação secreta com sua queda. O poder do Luar Prateado era um obstáculo potencial à minha autoridade. Parecia que eu havia conseguido me vingar daquela Deusa da Lua que me abandonou, que me deixou viver apenas por obrigação, sem uma companheira de alma para legitimar meu reinado.
Engraçado. Eu, o Rei Alfa, o governante de todos, teria que ir a uma cerimônia de uma alcateia menor. Chegava a ser ridículo. Mas se fosse para encontrar o cheiro que me fez sentir a vida novamente, eu iria até o inferno.
Conan estava furioso, rosnando em minha mente com mais força do que nunca.
Devíamos tê-la alcançado! Seu cheiro estava por todo lado! Você é o Rei!
Em um tom tirânico e irônico, respondi ao meu lobo: O que você queria que eu tivesse feito, Conan? Entrado em frenesi no meio da Quinta Avenida? O cheiro foi tão forte, mas tão breve. Não deu tempo de localizar. Tivemos apenas sorte de sentir o rastro de outro lobo para nos guiar.
Apesar da minha racionalização, senti-me inquieto. Não era apenas a fúria da perda. Era uma intuição gélida, a sensação de que havia mais na história daquele aroma do que apenas a minha companheira.
Minha mente voltou à profecia que os velhos sussurram, sempre ligados ao Luar Prateado e à linhagem da Deusa. A profecia falava de uma loba branca, mas o que ele sentiu foi a essência de sua alma.
Nossa companheira não poderia ser apenas nossa luz, mas também minha destruição.
O Rei Alfa controlava tudo, mas a Deusa da Lua controlava o destino. E meu destino parecia estar correndo, literalmente, para longe de mim, sendo levado para o covil dos meus "aliados" mais fracos. A caça havia começado, e eu sabia que não pararia até que o **portador daquele cheiro** estivesse sob meu domínio, seja para me iluminar ou para ser esmagado sob a minha fúria.
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Atualizado até capítulo 44
Comments
Lucilene Palheta
poxa ,ela já sofreu tanto e agora vai ter um bruto como companheiro tadinha 😕😕
2025-10-23
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