Os primeiros raios de luz da manhã cortaram a janela do quarto, desenhando listras pálidas sobre o chão de madeira rústica. O brilho forçou-me a despertar de um sono caótico, um emaranhado de uivos e visões de lobo. Minha cabeça latejava com a incredulidade. O despertar, a transformação, a fuga, a Xamã... Tudo parecia incrivelmente surreal. Eu me levantei, sentindo um peso diferente no corpo, uma nova consciência vibrando sob a pele.
Fui ao banheiro tomar um banho demorado. A água morna desceu pelas minhas costas, mas não lavou a confusão. Fechei os olhos e chamei mentalmente, pela primeira vez com intenção: Ártemis, você está aí?
A resposta veio, límpida e forte, na minha mente: Sim, ainda sem acreditar em tudo?
— Sim — respondi, articulando apenas o pensamento. — Parece muito irreal, como se fosse um livro de fantasia.
Eu entendo você, Clara, Ártemis respondeu com um toque de paciência que já me era familiar. Mas é a nossa realidade. Você precisa de fatos. Precisa conversar com Catrine para entender o que está acontecendo. Ela é a chave.
Saí do quarto e encontrei um homem alto, de ombros largos e uma expressão solene, esperando no corredor. Ele se apresentou como Wagner, o Beta do Alfa da alcateia anfitriã, a Lua Negra.
— Clara, é um prazer finalmente te conhecer. Meu nome é Wagner. Sou o Beta responsável pelos assuntos importantes da alcateia — ele disse, sua voz transmitindo autoridade e respeito.
Sua presença era reconfortante. Ele começou a me apresentar o local enquanto seguíamos o caminho para a área onde os Xamãs viviam, uma construção mais antiga e isolada. A Alcateia Lua Negra parecia forte, embora sombria, e o senso de vigilância era palpável. Eles eram guerreiros, visivelmente prontos para a batalha.
— Estaremos ao seu lado, Clara. Sua segurança é prioridade para o nosso Alfa — ele garantiu, e essa declaração de lealdade de um estranho me causou um nó na garganta.
Chegamos à moradia da Xamã. Catrine, que estava sentada perto de uma lareira acesa, sorriu calorosamente quando me viu e pediu para que eu entrasse.
Não perdi tempo. Fui direto ao cerne da minha confusão.
— Catrine, onde você conheceu meus pais? Eles eram pessoas comuns, meu pai era advogado e minha mãe, contadora. Nunca comentaram que eu era uma loba — questionei, sentindo que a verdade estava prestes a rasgar o último véu da minha vida antiga.
Catrine suspirou, um som pesado e resignado, e me pediu para sentar. Ela me olhou com uma pena profunda.
— Não, minha querida. Esses são seus pais adotivos. Pessoas boas que eu te entreguei ainda bebê com a promessa de que te protegeriam até que o selo se quebrasse. Seus pais de sangue… eles eram muito diferentes.
Minhas mãos tremeram. Pais adotivos. Mais uma mentira desfeita.
— Nós somos da Alcateia Luar Prateado. Sua mãe biológica era uma Sacerdotisa muito poderosa. O Sangue da Deusa corria nas veias dela. Ela se casou com seu pai, que era o Alfa da alcateia. Juntos, eles fizeram com que o Luar Prateado fosse forte e pacífico.
Catrine fez uma pausa, os olhos fixos nas chamas, revivendo uma memória distante.
— Sua mãe estava grávida de você. Você seria o terceiro filhote. A alcateia já tinha um herdeiro e outra princesa. Sua mãe estava muito feliz. Ela irradiava o poder da Deusa.
A Xamã continuou, e a história começou a soar menos como ficção e mais como um destino inevitável.
— Em uma noite de Lua Cheia, sua mãe realizava um ritual para a Deusa da Lua. Ela estava grávida de cinco meses quando teve uma visão. Uma profecia que ela proferiu em voz alta, em êxtase:
Na tribo que corre o sangue da Deusa da Luz e que são banhadas pela sua graça, nascerá uma loba branca, tão forte como a força da natureza. Em suas veias correrá o Sangue da Deusa da Lua, uma linhagem que não se vê há milhares de anos. Ela será a companheira predestinada do Rei Alfa, no qual será sua luz ou sua destruição.
Catrine me encarou, e o peso de cada palavra pairou no ar.
— Essa profecia logo se espalhou, Clara. Ela causou esperança em alguns, mas medo e ganância em muitos outros, principalmente naqueles que governam.
— Poucos dias antes do seu nascimento, eu tive uma premonição avassaladora. Um banho de sangue estava para acontecer. Avisei a todos, mas a profecia já tinha selado o destino deles. Sua mãe, desesperada para salvar a última esperança do Luar Prateado, pediu que eu a levasse para longe, mas o tempo era curto. Naquela noite, ninguém sobreviveu. Quando voltei, encontrei apenas caos, sangue, corpos e fogo que queimava tudo. Nem as crianças foram poupadas — Catrine sussurrou, a dor da perda era palpável.
A Alcateia aliada, a Lua Negra, nos acolheu. Tentamos investigar quem foi tão cruel para exterminar uma alcateia inteira, mas não conseguimos descobrir a verdade. O ataque foi limpo, brutal e sem rastros.
Meu mundo girou. Naquele momento, todas as minhas forças se esvaíram. Era demais para processar. Meus pais adotivos não eram meus pais verdadeiros. E meus pais biológicos tinham sido vítimas de um massacre. Meu coração se partiu: a tristeza e a impotência eram uma onda avassaladora.
Lágrimas escorriam pelo meu rosto, molhando minhas mãos. Senti tristeza, sim, mas também uma fúria fria. Ali, naquele momento de desespero, jurei que descobriria a verdade sobre esse incidente de anos atrás. Eu lavaria a memória dos meus pais e da minha alcateia com sangue. Buscaria a vingança para que suas almas pudessem, finalmente, descansar em paz.
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Atualizado até capítulo 44
Comments
Ana Couto
Eu estou amando a história 💞💞💞
2025-10-17
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Jeferson Alves
Tô adorando, a história quero que Clara vingue sua alcatéia, e fiquei com Noah no final .
2025-10-12
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Fofinho
volta aqui , posta mais😭
2025-10-12
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