Olívia
O dia mal havia começado, mas o peso dos últimos acontecimentos já se fazia sentir em cada parte do meu corpo. A luz tímida que atravessava as cortinas não trazia esperança — apenas revelava o cenário de mais uma noite mal dormida, marcada por dores físicas e angústias silenciosas. A dor no meu ombro latejava, e o hematoma na costela ainda me impedia de respirar fundo. Mas nada doía mais do que a expressão do meu filho ao me ver naquela condição.
— Mãe, nós temos que sair daqui! — Phillip diz, com a voz embargada, enquanto me ajuda a levantar da cama com cuidado. — Não podemos mais viver desse jeito. O que a senhora ainda espera do papai?
A pergunta me atravessa como uma lâmina. Sinto-me envergonhada, exposta e imensamente frágil. Meu filho, com apenas 13 anos, me cobra uma resposta que nem eu mesma consigo formular. O que eu ainda espero de Brandon? O que ainda me prende a essa casa, a esse homem, a essa vida?
Sou casada há 15 anos. Presa, na verdade. Enredada em uma relação tóxica, doentia e sufocante. Já tentei sair inúmeras vezes, mas sem o apoio da minha família, me sinto de mãos atadas. Se estivesse sozinha, já teria sumido daqui. Mas tenho meus filhos. E não posso simplesmente abandoná-los. Levá-los comigo sem ter como sustentá-los, sem sequer um lugar para morarmos, parece impossível.
Além disso, precisaríamos fugir. E isso, aos olhos da lei, seria considerado um crime. Eu seria acusada de sequestrar meus próprios filhos. E sei que Brandon — meu algoz — faria de tudo para me prejudicar, para me impedir de vê-los novamente. Ele tem recursos, influência, e uma crueldade que não conhece limites.
— Filho, perdoe sua mãe por não ter forças para sair dessa situação — digo, com a voz baixa, enquanto me sento na cama com a ajuda dele. Tomo a água junto ao remédio para dor que ele me trouxe, e sinto a garganta apertar.
— Não posso simplesmente ir embora e deixar você e sua irmã aqui. Seu pai nunca me deixaria partir levando vocês comigo.
— Eu não aguento mais ver a senhora passar por isso, mãe — ele começa a chorar, e eu não consigo conter minhas próprias lágrimas. O som do choro dele é como um eco da minha própria dor, amplificado por sua inocência ferida.
Que tipo de mãe sou eu por deixar meu filho, ainda tão jovem, lidar com emoções tão intensas e conflitantes? Isso não era o que sonhei para minha vida, nem para os filhos que desejei tanto. Eles mereciam amor, segurança, leveza. E tudo o que têm recebido é medo, tensão e silêncio.
— E se a senhora conseguir sair daqui, e eu e a Kate formos ao seu encontro quando ficarmos adultos? — ele propõe, com uma maturidade que me assusta. — Quando eu fizer 18 anos, vou embora e nunca mais voltar. Eu vou cuidar da senhora e da minha irmã, eu prometo, mamãe.
Ele me abraça, e no calor desse abraço sinto todo o conforto que preciso agora. É como se, por um instante, o mundo parasse de girar. Como se a dor se calasse e não se houvesse esperança.
— Phillip, a mamãe não consegue ficar longe de vocês — sussurro, apertando-o contra o peito. Só de pensar nisso, meu coração aperta a ponto de doer. Se tenho suportado esse casamento até hoje, foi por causa dele e da Kate. — Dói muito pensar em ficar longe de vocês, meus bebês.
— Não será para sempre, mãe. Você é uma mulher inteligente, e logo vai conseguir trabalhar e ter um lugar para morar com a gente — ele diz, com os olhos determinados. — Eu juro que vou estudar e cuidar da Kate. Vou ajudá-la na lição de casa e protegê-la do papai até ela crescer também. Quando for possível, a gente vai te encontrar e viver em paz.
Ele pausa por um instante, a voz trêmula.
— Só não deixa ele te bater e humilhar de novo.
Então ele me abraça, ainda chorando. E eu o abraço de volta, tentando reunir forças que já não sei se tenho.
— Não chore, querido! A mamãe vai dar um jeito e tirar a gente daqui. Vou procurar ajuda, está bem?
Beijo seu rosto e limpo suas lágrimas. Meu filho é tão jovem, mas já demonstra uma maturidade impressionante para sua idade. Diante de tantas situações difíceis que tem presenciado, amadureceu antes do tempo — e eu me sinto profundamente culpada por vê-lo passar por isso.
Preciso ter coragem para enfrentar meus medos e dar fim a esse sofrimento. Meus filhos merecem viver em um ambiente saudável e pacífico. Essa casa se tornou um lugar insalubre para todos nós.
Quando me casei, não fazia ideia do que me esperava. Apesar de ter sido um casamento arranjado, eu já conhecia a família Muller e imaginava que, mais cedo ou mais tarde, Brandon se casaria comigo ou com minha irmã mais nova, Jenny.
Somos de famílias abastadas e proeminentes no estado do Texas. Meu pai, Antony Dawson, é um dos maiores pecuaristas dos Estados Unidos. Os Muller são donos de um dos maiores grupos financeiros do país.
Em famílias como a nossa, especialmente em um estado conservador como o Texas, casamentos funcionam como acordos comerciais. As famílias se unem para manter o poder e influenciar a política e os negócios. Meu casamento não foi diferente.
Meu pai tem ambições políticas e, com a união das fortunas e influências, pretende chegar aonde sempre desejou: tornar-se governador do Texas.
"Divórcio" é uma palavra proibida em nossa família. Meu pai jamais aprovaria que eu me separasse de Brandon. Seria um verdadeiro escândalo — assim como denunciar as agressões que sofro entre as quatro paredes desta casa, que mais se assemelha a uma prisão do que a um lar.
Tenho que ignorar as traições do meu marido, pois, na visão deles, é natural que homens traiam. Para eles, ter casos extraconjugais é uma forma “saudável” de aliviar o estresse após um dia de trabalho. A nós, mulheres, resta apenas cuidar da casa, da família e manter o sorriso — preservando as aparências nos eventos sociais e políticos.
Cresci vendo minha mãe passar, inúmeras vezes, pelo constrangimento de conviver com as amantes do meu pai. Ela fingia não notar. Fingia não saber da existência delas. Nunca presenciei meu pai agredi-la fisicamente, nem ouvi falar sobre qualquer violência desse tipo — mas tolo é aquele que pensa que essa é a única forma de um homem machucar uma mulher.
A indiferença, a invalidação do sofrimento e a traição são formas de violência que dilaceram o coração — seja de uma mulher ou de um homem.
Isso me faz refletir se minha mãe algum dia amou meu pai ou se, ao longo dos anos, se distanciou emocionalmente do casamento a ponto de tornar-se indiferente a qualquer atitude negativa dele. Ela adora fazer parte da alta sociedade, desfrutar do glamour e ostentar o dinheiro da família. Por seus próprios interesses, jamais me apoiaria em um divórcio.
Por vezes, já me viu machucada, com hematomas visíveis causados pelas agressões de Brandon. E mesmo assim, desviava o olhar. Fingia não ver. Fingia não saber.
Mas Phillip viu. Kate viu. E agora, eu não posso mais fingir. Preciso ter coragem e me impor diante do comportamento do meu marido e, se é para ignorar algo, vou ignorar as opiniões da nossa família e dos seus interesses, para seguir com minha vida.
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Atualizado até capítulo 98
Comments
Eliana Fazano
misericórdia ela deve ter algum dinheiro ou joia pra vender escondido e comprar um carro usado em nome de outro e fugir com os filhos pintar os cabelos deles e delas 🤔🤔🤔🤔
2025-10-24
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