 
            Entre a Justiça e o Perdão
Dominic
O sol da manhã atravessa as cortinas de linho e se espalha pelo piso de madeira polida do meu escritório. O aroma do café recém passado ainda paira no ar, misturando-se ao leve perfume de couro vindo das poltronas. Sentado à minha mesa, observo os detalhes que compõem o espaço onde construí minha trajetória — cada diploma na parede, cada certificado, cada homenagem é uma lembrança viva dos quinze anos que dediquei à empresa da minha família.
Hoje, mais do que nunca, sinto o peso e a honra de estar à frente de algo grandioso. A construtora Johnson Construction está prestes a dar um salto histórico, e eu sou o responsável por conduzir esse voo.
— Srta. Leyne, pode confirmar a reunião com o Sr. Lewis? Diga que estaremos presentes no almoço que agendamos — oriento minha assistente com firmeza e precisão.
— Sim, Sr. Johnson. Confirmarei o almoço com o Sr. Lewis agora mesmo — ela responde com eficiência, já digitando no celular.
— Nossa construtora irá avançar muito com esse contrato — comento, sem conter a empolgação. — O céu é o nosso limite.
Meu sorriso se abre com naturalidade. É impossível não sentir orgulho.
— Temos muito orgulho do senhor à frente dos negócios — diz Leyne, com brilho nos olhos. — Logo, logo, seu pai irá se aposentar, e o senhor assumirá tudo com certeza.
— Bem, foi para isso que me preparei todos esses anos. Na verdade, não me vejo fazendo outra coisa — respondo, pausando por um instante. — Agora, confirme o almoço e vamos sair daqui a pouco.
Ela se retira, e eu aproveito para contemplar o ambiente. Meu escritório é mais do que um espaço de trabalho — é um símbolo da minha jornada. Lembro das madrugadas em claro, dos projetos complexos, das decisões difíceis. Meu pai sempre me envolveu nos negócios desde cedo, e foi ele quem me ensinou a arte da construção — não apenas de edifícios, mas de reputações, parcerias e legados.
Apesar dos desafios, especialmente nos últimos dois anos, mantive o foco. O maior deles atende pelo nome de David — meu irmão mais novo. Sua entrada repentina na empresa trouxe mais tensão do que colaboração. Sempre foi o rebelde da família, o playboy inconsequente que preferia festas a planilhas, e agora quer opinar sobre investimentos e projetos como se tivesse domínio sobre o que fazemos aqui.
Nosso pai, sempre conciliador, vê com bons olhos esse “interesse tardio” e acredita que David está amadurecendo. Eu, por outro lado, vejo riscos. Suas ideias são ousadas, mas quase sempre inviáveis. E quando o confronto acontece, sou eu quem sustenta os argumentos com números, resultados e projeções reais. David, por sua vez, se apoia em teorias rasas e um charme que não convence ninguém — exceto, talvez, nosso pai.
Hoje, no entanto, não há espaço para distrações. O contrato com o grupo hoteleiro Lewis & Grenth representa uma virada estratégica. A modernização das unidades nos Estados Unidos será o nosso passaporte para o mercado internacional. Se tudo correr bem, estaremos presentes em reformas de resorts em diversos países. É a maior oportunidade da nossa história.
Após a confirmação do encontro, pego meu paletó, o celular e as chaves do carro. Ao sair da sala, sou surpreendido por uma cena que já esperava, mas que ainda assim me incomoda.
David está de pé diante da mesa da minha assistente, com aquele ar petulante e as mãos nos bolsos.
— David! — chamo, com firmeza. — Algum problema?
— Pensei em te acompanhar nesse almoço — responde, com um sorriso desdenhoso. — Afinal de contas, também farei parte da execução desse projeto. É bom ter contato com o cliente caso eu tenha necessidades no futuro.
— Posso saber por que esse interesse repentino, David?
Observo suas expressões com atenção. Meu instinto grita que há segundas intenções por trás dessa súbita disposição.
— O principal já foi tratado com o cliente, inclusive os custos. Esse seu interesse veio meio tardio, não acha?
— Hoje iremos apenas acertar pequenos ajustes do contrato e possivelmente já assiná-lo. Tudo o que diz respeito ao financeiro foi tratado há meses, quando você ainda gostava da sua vida de playboy.
Ele continua me olhando com desdém.
— Não acho que seja conveniente você surgir assim do nada na negociação. Qualquer impressão errada pode colocar tudo a perder.
— Mas que impressão errada minha presença nesse almoço poderia causar, Dom?
Seu sorriso cínico me irrita.
— Poxa, também sou um dos donos dessa empresa e tenho interesse, sim, em me inteirar de todos os projetos em andamento. Quero estar a par de tudo. Não posso?
— Um dos donos?
Encaro-o. Ele me devolve o olhar e balança afirmativamente a cabeça.
— Até onde eu sei, tanto eu como você somos funcionários da construtora. Os donos são os nossos pais.
— Nossa responsabilidade aqui é igual à de qualquer um dos muitos colaboradores que temos. Sendo assim, cada um deve saber onde deve se meter e opinar.
— Larga de ser chato, Dom.
O deboche nas palavras é irritante.
— Sou filho do dono, ou não sou? Isso aqui será meu também algum dia e não tem essa de eu ser um ‘colaborador’.
Ele faz aspas com as mãos ao pronunciar a palavra.
— Sou dono dessa porra de empresa, sim. Qual é a tua?
— Tenha respeito pelo seu ambiente de trabalho e pelas pessoas que colaboram aqui — falo sério, incisivo. — Você não conhece um quarto de como tudo funciona. Está aqui há pouco mais de dois anos e já se acha o dono de tudo.
— Me faça um favor, David: aprenda primeiro, depois execute. Não inverta a ordem.
O que esse imbecil pensa que está fazendo? Mal entende como toda essa engrenagem funciona e já quer se impor. Estou aqui há quinze anos — quinze! — e sou eu quem segura as rédeas, como se fosse o dono de tudo isso.
Que babaca do caralho.
Se eu não permitir que ele participe desse almoço, vai correr para fazer drama para o papai. Não darei cinco minutos até ouvi-lo defendê-lo com aquele tom conciliador, como se tudo fosse parte de um amadurecimento natural.
O pior é que não tenho tempo agora para contra-argumentar.
Terei que arriscar — e seja o que Deus quiser.
— Acho bom você ficar quieto e não opinar muito durante a reunião. Esse momento é delicado, e qualquer detalhe pode colocar tudo a perder — digo, firme.
— Vamos logo, e deixa comigo — ele ri, com deboche. — Prometo não falar mais que o necessário.
Esse é o problema: ele nunca fala o necessário. Em vez disso, despeja um monte de besteiras e se acha a “pica das galáxias”.
Meu pai não faz ideia da besteira que cometeu ao dar asas a essa cobra.
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Atualizado até capítulo 98
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