Dominic
Me encontro ainda dentro do restaurante na companhia do meu idiota do David e a Srta. Leyne.
Sinto-me constrangido pelo comportamento patético e despreparado do meu irmão. O gosto amargo da vergonha ainda paira sobre mim. O contrato foi assinado, sim — o que deveria ser o motivo de comemoração — mas a presença desastrosa do meu irmão transformou o momento em um espetáculo constrangedor.
Saí do restaurante com a postura ereta, mantendo a compostura diante dos clientes, mas por dentro, fervia.
Sinto-me culpado por ter permitido que ele viesse. Mas sei que, se tivesse impedido, enfrentaria críticas e sermões dos meus pais. Meu pai, em especial, teria aquele discurso pronto sobre “dar espaço para o amadurecimento” e “incluir David nas decisões da empresa”. Como se maturidade fosse algo que se adquirisse por osmose, apenas por se sentar à mesa com executivos.
Assim que nos afastamos o suficiente do restaurante, David solta a primeira pérola:
— Que velho babaca do caralho. — diz, com a voz carregada de desprezo. — Como você suportou aquela arrogância dele, Dom?
Paro imediatamente. Viro-me para encará-lo, incrédulo.
— Que falta de respeito, David! — rebato, com a voz firme. — Quem está sendo arrogante aqui é você. O Sr. Lewis é um dos empresários mais respeitados do setor hoteleiro. Ele não apenas confiou em nosso projeto, como está nos dando acesso ao mercado internacional. Você tem ideia do que isso significa?
— Ah, Dom, para com isso. O velho precisava entender a minha relevância aqui. Eu não sou qualquer um — ele responde, com aquele sorriso de canto que me dá vontade de socar uma parede.
Minha assistente, Srta. Leyne, nos acompanha em silêncio, mas seu olhar diz tudo. Ela está visivelmente enojada com a postura de David. E, para ser sincero, eu também estou.
— Relevância? — repito, tentando conter a raiva. — Você mal chegou na empresa! Ainda está aprendendo como funciona todo o processo. Eu levei anos para compreender o ritmo, os ciclos, os riscos. Você não tem nem dois anos aqui e já quer se apresentar como diretor financeiro?
— E daí? — ele retruca, com desdém. — Sou filho do dono. Isso aqui vai ser meu também. Não preciso de um crachá para saber que tenho poder.
— Você não tem poder, David. Você tem um sobrenome. E isso, por si só, não te dá autoridade. A Johnson Construction não é um brinquedo de herdeiro mimado. É uma empresa construída com suor, estratégia e responsabilidade. E você ainda não demonstrou nenhuma dessas qualidades.
Ele revira os olhos, como se estivesse ouvindo um sermão de um professor entediado.
— O babaca me tratou como se eu fosse um moleque mal-educado, cheio de sermões e broncas. Quem ele pensa que é?
— Quem ele pensa que é? — repito, aproximando-me dele. Me aproximo ainda mais dele, apoio as mãos nos quadris e me inclino em sua direção, aproximando meu rosto do dele. — Eu vou refrescar sua memória fraca.
Olho diretamente nos seus olhos, sem piscar.
— Esse "babaca", como você o chamou, é o CEO de uma das maiores redes hoteleiras do mundo. É o homem que confiou em nosso projeto e que vai abrir as portas do mercado externo para a Johnson Construction. Com esse contrato, estaremos em outro patamar, David. Um patamar que você não faz ideia de como alcançar.
Ele me encara, mas dessa vez há algo diferente em seu olhar. Não é raiva, nem é desprezo. Eu vejo desconforto. Espero que ele tenha percebido que ultrapassou um limite.
Saímos do restaurante em silêncio. Srta. Leyne nos acompanha até o carro, e eu agradeço por ela ter mantido a elegância durante todo o encontro. Ela foi impecável, como sempre.
No caminho de volta, David tenta justificar sua postura.
— Você acha que eu não tenho capacidade, mas está errado. Eu tenho ideias, Dom. Ideias que podem revolucionar a forma como a empresa opera. Você vive preso a números, a planilhas, a previsões. Eu vejo além disso.
— Ver além não significa ignorar o básico — respondo, sem tirar os olhos da estrada. — Você quer inovar? Ótimo. Mas inovação exige conhecimento, estudo, preparo. Não é só chegar e jogar frases de efeito. Você precisa entender o que está tentando mudar.
— Eu entendo, sim. Só não sou obcecado por controle como você.
— Controle é o que mantém essa empresa de pé. Você acha que é fácil lidar com contratos milionários, equipes em campo, prazos apertados e expectativas altíssimas? Não é. E se você quer fazer parte disso, precisa começar respeitando quem já está aqui há mais tempo.
— Você fala como se fosse o dono da verdade.
— Não sou o dono da verdade. Sou o responsável por manter essa empresa funcionando. E, até que você prove que pode contribuir de forma real, seu papel será aprender. Só isso.
Ele se cala. Pela primeira vez, talvez, absorvendo o que estou dizendo.
Chegamos à sede da empresa. Entro direto na minha sala, ainda com o paletó nos ombros e a pasta de documentos em mãos. Sento-me à mesa, respiro fundo e encaro os papéis do contrato recém-assinado. A assinatura está lá. O avanço está garantido. Mas o custo emocional foi alto.
Srta. Leyne entra com uma xícara de café e a coloca sobre minha mesa.
— Foi um sucesso, Sr. Johnson. Apesar dos pesares, o contrato está firmado. Parabéns.
— Obrigado, Rachel. E desculpe por ter que presenciar aquilo.
— Já estou acostumada — ela sorri, mas há um traço de cansaço em sua voz. — Só espero que ele aprenda com isso.
— Eu também. Mas não sei até quando poderei conter os devaneios dele. Seria muito mais interessante tê-lo envolvido de maneira produtiva — contribuindo com boas ideias, atuando na execução das obras — e não dando opiniões sem a menor noção do que fala.
Ela assente, compreensiva.
— Talvez seja hora de conversar com seu pai. Explicar o que está acontecendo. Ele precisa entender que o envolvimento do David, da forma como está sendo feito, pode comprometer tudo.
— Eu sei. Mas meu pai é cego quando se trata do David. Sempre foi. Acredita que ele só precisa de tempo. Mas tempo sem orientação é desperdício.
Rachel se retira, e eu fico sozinho, encarando a cidade pela janela. O sol começa a se pôr, tingindo os prédios com tons dourados. A cidade segue seu ritmo, indiferente aos dramas internos da Johnson Construction.
Mas eu não posso ser indiferente. A empresa está crescendo. Os desafios estão se multiplicando. E eu preciso estar pronto — mesmo que isso signifique enfrentar meu próprio irmão.
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Atualizado até capítulo 98
Comments
Eliana Fazano
espero ele tenha investimento pessoal financeiro pra não depender dos pais se precisar 🤔🤔🤔
2025-10-24
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