Milão acordava com pressa — mas Isabela Monteiro, definitivamente, não.
O sol já atravessava as cortinas brancas do quarto gigantesco, iluminando o espelho cheio de post-its cor-de-rosa e o chão coberto por roupas que pareciam ter sobrevivido a um furacão da Chanel.
O despertador tocava fazia dez minutos, repetindo uma música irritante de boy band italiana.
— Ai, que saco... — murmurou Isabela, enfiando o rosto no travesseiro de seda.
Ela não era uma pessoa matinal. Aliás, não era uma pessoa funcional antes do meio-dia.
Do lado de fora da porta, a voz da mãe ecoou, doce, porém autoritária:
— Isabela! Vai se atrasar para a faculdade, querida!
— Já vou, mamma! — respondeu, sem mexer um músculo.
Dez segundos depois, rolou de má vontade da cama, tropeçou no tapete e praguejou baixinho.
No espelho, se olhou com um olhar crítico: cabelo preto com mechas vermelhas caindo sobre o rosto, pijama de cetim rosa e expressão de quem odeia a segunda-feira — mesmo sendo terça.
Suspirou fundo.
— Ok, Isabela, você consegue. Você é linda, rica e... horrível em acordar cedo. — falou sozinha, fazendo uma careta antes de pegar a escova de cabelo.
O closet era praticamente um quarto à parte. Estava abarrotado de roupas — todas de marca, todas impecáveis — e ainda assim ela levou vinte minutos pra escolher o que vestir.
— Hum... azul? Não. Vermelho? Vulgar. Branco? Parece que vou pra missa. — resmungava, revirando cabides.
Acabou pegando um vestido rosa claro e salto alto — o uniforme oficial da patricinha de Milão.
Quando desceu as escadas da mansão Monteiro, o perfume de café e croissants tomou o ar.
O pai, Alessandro Monteiro, lia o jornal com cara de poucos amigos. A mãe, Elena, digitava no celular, e o irmão, Matteo, comia uma maçã encostado no balcão — camisa preta aberta no peito, cabelo bagunçado de propósito.
— Finalmente, a princesa acordou. — disse Matteo, sem levantar os olhos.
— E você, o mendigo de jaqueta de couro, ainda tá aqui? — respondeu Isabela, pegando um croissant.
— Cuidado, maninha, você pode sujar o batom no café.
— Cuidado você, que um dia eu coloco laxante no seu shake de proteína.
A mãe suspirou, sem levantar o olhar. — Vocês dois, parem. É todo dia isso.
O pai baixou o jornal, encarando Isabela com aquele olhar sério. — Você tem reunião na faculdade hoje, não tem?
— Tenho, mas é só apresentação de grupo. Nada demais.
— Nada demais? — Alessandro arqueou a sobrancelha. — Da última vez que você disse isso, a coordenadora me ligou dizendo que você gritou com uma professora.
— Ela me chamou de “desatenta”, pai. Eu só defendi minha honra.
Matteo riu baixinho. — Sua honra é uma piada, Isabela.
Ela atirou um guardanapo nele. — Cala a boca, Matteo!
A mãe interveio com calma, mas firmeza. — Basta. Isabela, termine o café e vá. Matteo, pare de provocar a sua irmã.
— Eu só respiro, mamma. Ela se irrita sozinha. — respondeu ele, com aquele sorrisinho de canto.
Università di Milano – 09:47 da manhã
Isabela entrou atrasada — como sempre. O salto ecoava pelo corredor enquanto ela andava apressada, tentando parecer confiante apesar do atraso óbvio.
Na porta da sala, a professora levantou uma sobrancelha.
— Signorina Monteiro... que surpresa vê-la antes do intervalo.
— Bom dia pra senhora também. — respondeu, forçando um sorriso.
As amigas já estavam lá, sentadas nas primeiras cadeiras: Valentina Bianchi, Bianca Rossi, Chiara Lombardi, Aurora Conti e Giulia Ferraro. Todas pareciam saídas de um comercial de perfume — maquiagem perfeita, unhas feitas, celulares nas mãos.
— Amore! — exclamou Valentina, acenando. — A gente achou que você tinha morrido!
— Quase. Meu despertador me odeia. — respondeu Isabela, se jogando na cadeira.
Chiara sorriu maliciosa. — E o Kai, hein? Matteo disse que ele voltou de viagem ontem.
Isabela travou, tentando parecer casual. — Ah… é? Que bom pra ele.
Valentina riu. — “Que bom pra ele”? Você fala dele como se não fosse obcecada!
— Eu não sou obcecada! — rebateu rápido demais.
Aurora pigarreou. — Você colocou o nome dele como senha do Wi-Fi da sua casa.
— Era uma fase! — gritou Isabela, corando. — Eu mudei… eu juro!
As meninas caíram na risada.
Durante a aula, Isabela fingia prestar atenção, mas passava o tempo trocando mensagens com as amigas e mexendo no cabelo. Quando o professor perguntou algo, ela piscou confusa.
— Eu? Ah, sim, claro… ehm… Paris?
— A pergunta era sobre Direito Constitucional, senhorita Monteiro.
— Ah. Então… não é Paris. — respondeu, sorrindo inocente.
Hora do almoço – Restaurante elegante de Milão
As cinco meninas estavam sentadas na varanda de um restaurante caríssimo, rindo alto e tirando fotos pra postar.
— Coloca filtro “golden”, tá? — disse Valentina, ajeitando o cabelo. — A luz natural me deixa pálida.
— Você é pálida. — respondeu Giulia, sem levantar o olhar.
— É conceito, tá? — rebateu.
Isabela olhava o cardápio com tédio. — Não tem lasanha? Que tipo de restaurante não serve lasanha?!
— Um restaurante de verdade. — respondeu Chiara, revirando os olhos.
— Então quero uma salada.
— Mas você odeia salada. — lembrou Aurora.
— Exatamente. É pra postar foto dizendo “vida saudável”.
Enquanto comiam, um grupo de rapazes passou por ali — e entre eles, Kai Nakamura.
Jaqueta preta, olhar frio, cabelo bagunçado, andando ao lado de Matteo e dos outros bad boys.
Isabela congelou com o garfo no ar.
— Meu Deus… ele tá aqui. — sussurrou.
As meninas se viraram discretamente.
— Ele é um monumento. — comentou Valentina.
— Ele é o motivo de eu ter existido. — murmurou Isabela, suspirando.
Kai passou perto delas, olhou rápido — e não disse nada. Matteo apenas acenou com a cabeça.
Isabela tentou parecer natural, mas quase derrubou o copo de suco.
— Relaxa, amore. — disse Bianca. — Um dia ele nota você.
— Ele vai notar. — respondeu Isabela, firme. — Eu só… preciso de um plano.
As amigas se entreolharam. Isso nunca acabava bem.
Final da tarde – Mansão Monteiro
Quando Isabela chegou em casa, a tia Catarina Monteiro estava lá — o que significava uma coisa: sermão.
— Isabela, minha querida! — exclamou Catarina, com aquele falso entusiasmo. — Está cada dia mais… moderna.
— Oi, tia. — respondeu, beijando o ar.
— Vi suas fotos no Instagram. Tão… ousadas. Sua mãe deve estar orgulhosa.
Elena, atrás dela, revirou os olhos. — Catarina, por favor…
— Eu só disse que as roupas estão… curtas. — comentou a tia. — Mas cada geração com sua vergonha, não é?
Isabela fingiu rir. — Adoro quando a senhora tenta ser engraçada.
Catarina ignorou o comentário e continuou o discurso sobre “boas maneiras”, “reputação” e “as moças do seu tempo”. Matteo passou pelo corredor e sussurrou:
— Boa sorte, princesa. — e sumiu, gargalhando.
Jantar em família – 20h
A mesa da família Monteiro parecia um jantar diplomático. Tudo impecável, guardanapos dobrados, taças alinhadas.
— Então, pai… — começou Isabela. — Eu estava pensando em fazer uma viagem com as meninas no verão.
— Veremos. — respondeu Alessandro, sem tirar os olhos do prato.
— “Veremos” é o mesmo que “não”. — ela resmungou.
— É o mesmo que “depende”. — corrigiu ele. — De como você se comportar até lá.
— Eu sempre me comporto bem!
Matteo tossiu alto, rindo.
— Cala a boca, Matteo! — gritou ela.
— Crianças. — disse Elena, suspirando. — Por favor.
O jantar continuou com comentários de negócios e política que Isabela fingia entender. Até que o pai comentou casualmente:
— Sabe, Elena… talvez Isabela se beneficie de algo mais educativo.
— Tipo o quê? — perguntou Isabela, desconfiada.
— Sei lá, uma temporada fora da cidade… algo que a faça amadurecer.
Ela franziu a testa. — Pai, que papo é esse de “amadurecer”? Eu sou super madura!
Matteo riu. — Sim, claro. Principalmente quando você chorou porque sua unha quebrou.
— Vai se ferrar!
O pai levantou o olhar sério. — Linguagem, Isabela.
Ela cruzou os braços e bufou.
Elena tentou aliviar o clima. — Deixa, amor. Ela ainda tá crescendo.
— Crescendo? Tenho vinte anos! — protestou.
— Exato. — respondeu Alessandro, enigmático. — E tá na hora de começar a agir como tal.
Isabela revirou os olhos e encheu a taça de suco.
Mal sabia ela que aquele jantar seria o começo de uma virada.
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Atualizado até capítulo 82
Comments
Janete Matos De Almeida
porque lá atrás um professor chamou kira de Monteiro e depois concertou
2025-10-14
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