O SUSSURRO DOS SEGREDOS

O SUSSURRO DOS SEGREDOS

A chuva tensa na madrugada

A noite se aprofundava, e uma chuva fina e persistente caía sobre a cidade, transmitindo uma sensação estranhamente assustadora. Lá fora, em algum lugar na escuridão úmida, talvez houvesse alguém como eu, Hayami: uma alma solitária, presa nos próprios pensamentos e, por isso, totalmente incapaz de encontrar o sono.

O relógio digital na cabeceira já marcava três da manhã, mas meus olhos estavam bem abertos, ardendo sob a fraca luz. A cada minuto que passava, meu corpo ficava mais inquieto, mais agitado sob o edredom. E lá fora, como se acompanhasse minha tensão crescente, a chuva se intensificava, batendo no vidro com um ritmo mais tenso.

Rolei na cama, suspirando de frustração. Estiquei o braço, peguei meu celular na mesinha de cabeceira e coloquei uma música para tocar, na esperança desesperada de que o som me embalasse. Era sempre a mesma rotina inútil, e, previsivelmente, era mais uma tentativa falha de calar a mente. Eu continuava acordada, e agora, a trilha sonora apenas se somava ao barulho da chuva implacável.

A melodia suave que escolhi era mais um lamento do que um convite ao sono, carregada de uma familiar melancolia que parecia apenas ecoar o vazio no quarto. Olhei o celular, meus dedos traçando o contorno frio da tela, mas eu não via as letras ou as redes sociais. O que eu estava procurando ali, na imensidão luminosa da internet? Uma mensagem que nunca viria? Uma resposta para uma pergunta que eu nem sabia formular?

Não era uma preocupação específica que me prendia, mas sim a ausência de algo. Era o medo silencioso do dia que viria, a rotina fria de sempre, a sensação opressiva de que, não importa o quanto a chuva caísse e lavasse a cidade, nada realmente mudaria na minha vida. Fechei os olhos, mas a imagem do teto branco, refletindo a luz intermitente da rua, persistia na minha mente.

Eu estava ali, Hayami, uma espectadora da minha própria vida, enquanto o mundo dormia e o temporal marcava o ritmo da minha ansiedade. Cada gota que batia na janela era um pequeno lembrete do tempo que se esvaía, inatingível.

Seria sempre assim? Presa nesta madrugada fria, esperando por um amanhecer que nunca traria o que eu realmente precisava?

A lembrança veio, cortante e fria, rompendo o ciclo de pensamentos vazios. O violino melancólico da música parecia dar o ritmo exato para o flashback inevitável.

Não era o trovão lá fora, mas o eco de uma voz que me mantinha acordada. O cheiro de papel velho e café frio. A sala pequena da Professora Elara, duas semanas atrás. A luz de outono entrava fraca pela janela, mas as palavras dela caíram sobre mim como um bloco de gelo.

― Hayami, - ela disse, os óculos escorregando na ponta do nariz. ― Você tem o talento, eu sei. Mas falta a disciplina. Você se perde nos 'e se' antes de sequer tentar o 'agora'. -

Eu mal podia respirar. Eu tinha dedicado meses a esse projeto. Aquele era o meu bilhete de saída, o começo da vida que eu tinha planejado, longe dessa rotina fria.

―  Este projeto, - ela continuou, sem vacilar, ―  não vai acontecer. Não agora. Você não está pronta para o peso da responsabilidade.

Não foi uma rejeição, foi uma sentença de adiamento. Uma prova de que, não importa o quanto eu me sentisse madura ou pronta, o mundo me via apenas como uma garota sonhadora, incapaz de dar o primeiro passo real.

Retornei ao presente com um sobressalto. Meu coração batia no mesmo ritmo frenético da chuva na janela. Era isso. Era por isso que eu não dormia. Eu havia falhado em dar o primeiro passo, e a única coisa que eu podia fazer agora era ficar aqui, presa entre o que eu sou e o que eu deveria ter sido, enquanto a cidade inteira dormia aliviada.

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Comments

LolaHCOM

LolaHCOM

Muito bom!!!

2025-10-03

1

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