Um Novo Dia... Ou Pelo Menos um Novo Salário
Ah, a sexta-feira. O cheiro doce da liberdade pairando no ar... ou talvez seja só o cheiro de lavanderia, porque depois daquela turbulência de refém de ontem, com direito à minha blusa virando um outdoor ambulante de sangue (graças a Deus não era meu, porque eu odeio lavar minhas próprias manchas), e as excursões emocionantes à delegacia, eu merecia esse dia.
E a vida, sempre generosa, me presenteia com um grande cliente hoje: um espécime de criminoso tão deplorável que provavelmente tem uma seção especial só pra ele no inferno. Mas ei, quem sou eu para julgar? Ele paga as contas. E que bem ele paga!
Falando em pagar, hoje acordar não foi um problema, o que é um milagre, considerando meu histórico de atrasos que beira o olímpico. Não que eu tenha aprendido a lição, mas a força do desespero me fez acorrentar o meu sono a uma sinfonia de alarmes espalhados pelo quarto.
A probabilidade diz que, se eu tiver uns cinco tocando, um deles tem que acertar a hora, certo? É pura ciência.
O dia estava estranhamente calmo, o que me permitiu o luxo raro de sentar e contemplar meu "belo" café da manhã. Na mesa: um suco natural de laranja, torradas com gelatina de cereja (porque morango é muito mainstream), ovos mexidos, e — a cereja no bolo — uma caixa de leite integral. Ah, essa caixa! Ela me lembra da doce ironia da vida, pois combinaria perfeitamente com uma xícara de café que não me permiti comprar este mês. Por quê? Porque meu senhorio, em um gesto de extrema bondade, decidiu que o aluguel do prédio precisava de um "ajuste inesperado" (leia-se: um aumento escorchante).
E vamos ser francos, se colocarmos na balança da vida "uma xícara de café com cafeína" versus "não dormir debaixo da ponte", bem... acho que sabemos qual peso vence essa disputa. O café que se dane, a dignidade financeira fala mais alto! Ou, pelo menos, a necessidade de ter paredes.
Saí do meu apartamento sentindo-me a personificação da "plenitude". Tradução: consegui vestir um uniforme que grita "profissional, mas com um toque de psicopata organizado." Blusa branca, calça preta, blazer preto — o dress code universal para quem lida com o lixo da sociedade. Mas o verdadeiro trunfo? Meu sapato pontudo. Ele não é apenas um calcanhar assassino que alonga a perna; ele é um arma de defesa pessoal certificada. Afinal, nunca se sabe quando você precisará enfiar um estilete de couro caro no peito de alguém. E eu rezo a todos os deuses que eu não precise usá-lo para isso.
Caminho pelas mesmas ruas que ontem serviram de cenário para o meu épico pessoal de "Refém Por Acaso". E a culpa, claro, é da minha cronometragem falha. Começo a me questionar, com a profundidade de um filósofo bêbado, se a minha vida de refém poderia ter sido evitada se eu tivesse apenas acordado na hora certa. Sim, a moral da história é: o terror de ser refém é apenas uma punição para quem se atrasa. Mas que se dane. Hoje o universo me recompensou pela minha trauma com a doce melodia das notas entrando na conta bancária, o que se traduz em mais dias com café e, o mais importante, um teto sobre a cabeça.
Chego ao meu "local de encontro" chiquérrimo, que é, obviamente, a cadeia. Sinceramente, se eu fosse a juíza, eu também não deixaria o meu cliente sair nem para comprar pão, muito menos para encontrar sua advogada. A segurança em primeiro lugar, não é mesmo? Principalmente a minha.
Entro na salinha — sempre tão acolhedora, com aquele cheiro inconfundível de arrependimento misturado com desinfetante barato — e espero. Não demora muito para a porta abrir e Futashi entrar no meu campo de visão. Ah, Futashi. Não é a primeira vez que defendo uma pessoa tão asquerosa que faz você questionar suas escolhas de vida. Mas ele... ele me dá calafrios que vão além da repulsa profissional. Ele me faz lembrar da minha primeira defesa, quando eu era apenas uma advogada novata e suava feito um porco em sauna só de olhar para a ficha criminal do meu cliente.
A boa notícia é que, hoje em dia, pelo menos eu suo por causa do blazer de lã caro, e não por causa do medo. O progresso é lindo!
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Atualizado até capítulo 28
Comments
LolaHCOM
Está certa ela. Se paga bem tem que ir...🤭🤭
2025-10-04
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