####Clã Silvanor

A Chegada ao Clã Silvanor

A viagem até o território do Clã Silvanor foi longa, mas para Talindra cada passo parecia leve. O coração dela estava tomado pela esperança de um futuro já escrito, de um destino que nenhuma voz poderia apagar. Vandor, companheiro reconhecido pela loba, havia prometido diante de todos que cuidaria dela, que honraria a tradição, que convidaria o clã Aeterion para o acasalamento. O vínculo estava ali, latejando em sua alma como chama.

Ao lado dela, Kaelith a acompanhava parte do caminho, o olhar sempre duro.

— Se ao menos confiasses mais no julgamento do pai… — resmungou. — Mas não, precisavas seguir teu coração teimoso.

— Não é o coração, é a loba — respondeu ela, firme, mas sem arrogância. — E um lobo não erra quando reconhece o seu par.

Kaelith suspirou, pesado, e a abraçou uma última vez antes de retornar a Aeterion.

— Que a Lua te proteja, irmã. — Seus olhos estavam úmidos, embora tentasse escondê-los.

Talindra prosseguiu com a comitiva de Silvanor, erguendo a cabeça com dignidade. Não havia temor em seu peito, apenas a excitação juvenil de quem acredita no amor e no destino.

Quando os portões de madeira escura da fortaleza de Silvanor se abriram, Talindra esperava ouvir cânticos, sentir o acolhimento da nova família, ser recebida como filha de um Supremo Alfa. Mas o que encontrou foi silêncio e frieza.

Castrel, o pai de Vandor, aguardava no alto das escadarias de pedra. Um homem de porte imponente, olhar duro como lâmina e presença que pesava sobre todos ao redor. À sua direita, estava Itara, a jovem madrasta de Vandor, de beleza ardilosa e sorriso que não alcançava os olhos. Um passo atrás, em tronos menores, os anciãos: Castriél, o avô, com sua barba prateada e olhar carregado de desprezo, e Morvana, a avó, cujos lábios finos se curvavam num meio sorriso cruel.

Vandor, ao lado do pai, parecia menor do que na noite da corrida. Seu olhar oscilava entre a coragem e a submissão.

Castrel ergueu a voz, grave e impiedosa:

— De onde trouxeste essa desgarrada, Vandor?

O silêncio caiu como uma pedra. Talindra sentiu a alma estremecer. Desgarrada. A palavra era uma ofensa para qualquer loba, mas para a filha de Draelion, Supremo Alfa de Aeterion, era um insulto mortal.

Vandor engoliu em seco, tentando responder:

— Pai… ela… correu comigo na Noite da Lua. É companheira predestinada.

Um riso rouco escapou da garganta de Castriél.

— Companheira? Não vês que ainda é uma menina? E se fosse de fato escolhida, a marca em ti já se teria revelado. — Seus olhos percorreram Talindra como se fosse pó sob suas botas.

Morvana completou, venenosa:

— O Clã Aeterion envia flores, mas nós não precisamos de perfumes frágeis. Precisamos de força.

Itara então deu um passo à frente, o rosto delicado curvado num sorriso triunfante.

— Aqui, no Clã Silvanor, não aceitamos qualquer loba desgarrada como Luna. Eu sou a companheira do Rei. Sou a guardiã deste território. E você,— estendeu a mão, como se afastasse algo sujo — terá de aprender seu lugar.

As palavras cortaram como aço. Talindra manteve o queixo erguido, mas seus punhos se fecharam até os nós dos dedos ficarem brancos. Dentro dela, sua loba rugia, implorando por liberação.

Draelion ecoava em sua mente: “Ele é fraco. Dominado pelo pai.” E naquele instante, as palavras do pai se confirmavam diante de seus olhos. Vandor não ousava enfrentá-los.

Ela esperava que Vandor erguesse a voz, a defendesse, proclamasse diante de todos quem ela era. Mas ele baixou os olhos, como se sua força fosse engolida pela sombra do pai.

Castrel deu o veredito com a frieza de quem sentencia um criminoso:

— Se deseja ficar, terá abrigo. Mas não sob este teto. Terás uma cabana no limite da floresta, onde não incomodarás a casa do Rei.

Um murmúrio correu pelo pátio. Talindra, filha do Supremo Alfa de Aeterion, sendo tratada como uma loba sem nome, sem linhagem, sem honra.

O coração dela queimava, mas não chorou. Não vacilou. Apenas respondeu com voz clara, firme, que ecoou entre as colunas de pedra:

— Eu sou Talindra, filha de Draelion de Aeterion, nascida sob a Lua Vermelha. O que vocês pensam de mim não me diminui.

Mas no fundo, a dor era lancinante.

Ela havia acreditado na promessa de Vandor. Havia deixado seu lar, seu pai, sua mãe, seu irmão, para seguir a voz da loba. E agora era tratada como nada.

Naquela noite, ao entrar na cabana humilde designada a ela, Talindra segurou o colar de prata no pescoço e deixou que uma única lágrima caísse. Não de fraqueza, mas de fúria contida.

Sua loba rugiu dentro dela, mais alto do que nunca.

E pela primeira vez, Talindra compreendeu: o destino que lhe fora prometido seria conquistado não pelo vínculo, não pelo companheiro, mas pela força de quem ela era.

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