O salão de pedra de Aeterion se encheu de murmúrios depois da declaração de Talindra. O nome de Vandor corria entre os presentes como vento em labareda. Alguns sorriam, outros franziram o cenho, mas todos sabiam: quando uma loba reconhecia seu companheiro, aquilo não era um capricho. Era destino.
Draelion, porém, manteve o rosto fechado. Sua presença dominava o espaço, e sua voz soou como trovão:
— Não aprovo.
Kaelith, erguendo-se ao lado do pai, cruzou os braços, firme como um escudo.
— Nem eu, minha irmã. Vandor pode ser Alfa da Floresta, mas não tem fibra para ser teu igual. Não vês que é dominado pelo pai dele? O lobo dentro dele não comanda. É o humano quem o enfraquece.
Talindra sentiu a dor das palavras, mas não recuou. Seu peito ardia, não de vergonha, mas de convicção.
— Não fui eu quem escolhi — retrucou, a voz firme, quase desafiadora. — Foi minha loba. E a dele respondeu. O vínculo já existe, quer aceitem ou não.
O salão silenciou. As chamas das tochas pareciam oscilar com a intensidade daquela declaração.
Foi então que Vandor deu um passo à frente.
Seus olhos verdes encontraram os de Draelion, depois os de Talindra. Sua postura era tensa, como quem luta para ser ouvido entre rugidos de feras.
— Eu… — começou, a voz firme, mas ainda jovem — eu prometo diante de todos: cuidarei dela. A honra de Talindra será a minha honra. Nenhum mal a alcançará enquanto eu viver.
As palavras ecoaram no salão. Alguns anciãos murmuraram aprovação, outros balançaram a cabeça com descrédito. Draelion, porém, permaneceu imóvel, os olhos como duas lâminas negras.
Selindra, com sua serenidade habitual, pousou a mão no braço do marido.
— O destino fala mais alto que nós, Draelion. Sempre falou.
O Supremo Alfa não respondeu. Mas Talindra percebeu que a mão dele cerrava o braço do trono com tanta força que a pedra parecia ranger.
Naquela noite, os cânticos da Corrida foram encerrados com um uivo coletivo. A lua já se tingia de vermelho, lembrando a todos do Eclipse que marcara o nascimento da herdeira.
Os anciãos de Aeterion levantaram-se em sinal de encerramento, mas um deles, o mais velho, ergueu a voz rouca:
— Se o vínculo foi reconhecido, que se cumpra a tradição. Que o Clã Aeterion seja convidado para o futuro ritual de acasalamento.
Murmúrios correram entre os clãs presentes. Era costume: quando dois companheiros eram revelados, os clãs firmavam laços diante de todos, para selar a união não apenas entre dois lobos, mas entre duas linhagens.
Vandor inclinou a cabeça, respeitoso.
— Meu clã honrará a tradição — declarou. — Convidaremos Aeterion para a cerimônia de acasalamento, quando o tempo da lua chegar.
Talindra sentiu o coração saltar dentro do peito. Aquilo era a confirmação, o passo seguinte, a promessa de um futuro. Ela ergueu os olhos para o pai, esperando ao menos um gesto de aceitação.
Mas Draelion não se moveu. Seus olhos permaneceram frios, pesados, como se vissem mais adiante do que todos.
Kaelith, ao lado, aproximou-se da irmã e murmurou apenas para ela:
— Estás te iludindo, Talindra. Ele não é forte o bastante. E quando perceberes, talvez seja tarde.
Ela ergueu o queixo, os olhos faiscando como brasas.
— Prefiro seguir a voz da minha loba do que viver sob o medo.
Kaelith suspirou, mas não disse mais nada.
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Quando a assembleia se dissolveu e os corredores retornaram às suas tendas, Talindra caminhou até a varanda de pedra, sozinha, olhando a lua tingida de carmesim. O vento trouxe-lhe o eco da promessa de Vandor: “Cuidarei dela.”
Ela acreditava. Acreditava de corpo e alma. Porque naquele instante, aos dezoito anos, a juventude era feita de certezas, não de dúvidas.
E nenhuma certeza parecia mais sólida do que aquela: Vandor era o companheiro que o destino escolhera.
O que Talindra não sabia era que a promessa feita diante de tantos ecoaria como maldição no futuro.
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Atualizado até capítulo 42
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