####CORRIDA DA LUA

A Corrida da Noite da Lua

As tochas foram acesas ao redor da arena natural, onde a mata se abria em clareiras que serviam há séculos para o ritual da Corrida da Noite da Lua. O espaço era sagrado, um campo de pedras antigas e árvores marcadas com runas. Era ali que os jovens dos clãs corriam sob a luz prateada, para provar a força, a resistência e a ligação com a lua.

Naquela noite, porém, não era apenas mais uma corrida. Era a primeira aparição pública da filha do Eclipse, a herdeira de Draelion e Selindra.

Os tambores ecoaram, e a voz dos anciãos de Aeterion anunciou:

— Que os filhos da Lua se apresentem! Que cada clã mostre sua linhagem, que a noite testemunhe a corrida e que o destino se cumpra.

Um a um, os grupos de corredores se alinharam. Jovens com mantos leves, braços marcados pelas tatuagens tribais de seus clãs, olhos brilhando com a expectativa do desafio.

Do lado direito, erguiam-se os estandartes do Clã do Norte, guerreiros pesados, com músculos tão imensos quanto os lobos de gelo que os acompanhavam.

Do lado esquerdo, chegavam os Clãs da Montanha, com seus colares de pedra e peles grossas.

E no centro, como que disputando o próprio solo, o Clã Silvanor tomava posição, liderado por Vandor.

Talindra os observava com o coração acelerado. Cada passo que Vandor dava parecia ecoar dentro dela. Ele não a olhava, mas a simples presença bastava para fazer sua loba interior se agitar como se quisesse rasgar-lhe a pele e saltar.

Ao seu lado, Kaelith a cutucou discretamente.

— Mantém o foco. Não deixes que te vejam frágil.

Ela respirou fundo. Não podia revelar nada. Ainda não.

A cerimônia começou com o uivo ritual dos sacerdotes, que invocavam a Lua. A esfera branca surgia lentamente no horizonte, trazendo consigo um halo avermelhado — prenúncio de que o Eclipse se aproximava. Era como se o céu inteiro lembrasse a Talindra de sua origem.

Selindra, a mãe, observava de longe com um sorriso tranquilo. Já Draelion mantinha o rosto sério, mas seus olhos escuros vigiavam cada detalhe. Ele sabia que a filha não apenas correria: ela seria avaliada, medida, julgada. E a voz dos clãs ecoaria sobre sua honra.

— Que os corredores tomem seus lugares! — anunciou o arauto.

Talindra caminhou até a linha de pedra, o coração batendo como tambor. Sentiu os olhos da multidão sobre si. Alguns murmuravam reverência — “a filha do Eclipse” —, outros lançavam olhares desconfiados, temendo o que não compreendiam.

Vandor aproximou-se por outro lado da linha, ladeado por guerreiros de Silvanor. Seus olhos cruzaram por um instante os dela. Não foi longo, mas suficiente para que Talindra ouvisse de novo o sussurro em sua alma:

— Companheiro.

Ela quase perdeu o ar.

---

O arauto ergueu o bastão de prata.

— Corram, filhos da Lua!

E então, como se o mundo inteiro respirasse junto, eles partiram.

Os pés de Talindra tocaram o solo macio da floresta, e ela sentiu a força ancestral correndo em suas veias. Cada passo era leve, como se o vento a guiasse. Os outros competidores espalharam-se pelo campo, alguns tentando ganhar vantagem com explosão inicial, outros medindo o fôlego.

Mas quando Talindra percebeu, Vandor corria ao seu lado.

Não disse nada. Não precisava. O som da respiração dele se misturava ao dela, e por um instante, era como se corressem não dois corpos, mas um só espírito.

O percurso os levou por trilhas estreitas, pedras cobertas de musgo, raízes que emergiam como serpentes. Talindra sentiu seu corpo responder a cada obstáculo com a precisão de quem havia nascido para aquilo. Sua loba, mesmo não manifestada, parecia guiá-la.

Vandor lançou-lhe um olhar breve — e ela viu. Não era apenas atração, não era apenas curiosidade. Era o mesmo reconhecimento que ardia dentro dela.

— Companheira — os olhos dele diziam sem palavras.

Ela sorriu, mesmo sem fôlego. O coração latejava, mas não apenas pela corrida. Era algo mais, algo maior.

Quando cruzaram juntos a linha final, um silêncio reverente caiu sobre a clareira. Não foram os primeiros, nem os últimos. Mas chegaram lado a lado, em sincronia perfeita, como se o próprio destino os tivesse alinhado.

Os anciãos murmuraram entre si. Alguns franziram o cenho, outros pareceram compreender algo que não ousaram dizer em voz alta.

Draelion ergueu-se do assento de pedra, os olhos fixos na filha.

Talindra caminhou até ele, ainda ofegante, mas com o peito inflado de orgulho.

— Pai… — disse ela, quase sussurrando, mas com uma convicção que ecoou em todo o salão. — Encontrei o meu companheiro.

O silêncio se quebrou em murmúrios. Alguns chocados, outros excitados. O nome de Vandor correu de boca em boca.

Draelion, porém, permaneceu imóvel. Apenas os olhos dele endureceram, como gelo que se parte lentamente.

— Não é recomendado — murmurou, baixo, mas firme. — Ele é fraco. Dominado pelo pai. O humano nele é mais forte que o lobo.

Talindra ergueu o queixo, com o mesmo fogo da lua que a marcou ao nascer.

— Não fui eu que escolhi. Foi a loba.

Draelion suspirou fundo. Olhou-a como quem vê não apenas uma filha, mas a personificação de uma profecia que podia ser bênção ou maldição.

E naquele instante, soube que nada poderia detê-la.

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