O LEGADO DO ECLIPSE: TALINDRA
Talindra: O Legado do Eclipse
Talindra nasceu sob a noite em que Sol e Lua se encontraram no céu em um raro eclipse. Enquanto a terra mergulhava em sombra, ela veio ao mundo como a filha do Supremo Alfa do clã Aetheryon — o clã mais poderoso, aquele que carregava o equilíbrio das eras. Para os anciãos, sua chegada não era apenas um nascimento, mas o cumprimento de uma profecia: do eclipse surgiria uma loba que herdaria tanto a força solar quanto a sabedoria lunar. Uma loba destinada não a ser apenas Luna, mas Suprema.
Desde criança, Talindra carregava nos olhos o reflexo da dualidade: luz dourada em um instante, prata cintilante no outro. Cresceu sabendo que não era comum, mas não se vangloriava disso. Ao contrário, seu coração jovem buscava algo simples — o companheirismo verdadeiro, a promessa de um companheiro que a reconhecesse não pelo sangue que corria em suas veias, mas pelo vínculo do espírito.
Esse momento parecia ter chegado aos dezoito anos, quando, na corrida sagrada da Noite da Lua, seu lobo finalmente despertou. Entre os convidados, vindos de terras vizinhas, havia um jovem Alfa chamado Vandor, herdeiro do Clã Silvannor, o Clã da Floresta. Ao lado dele, Talindra correu sob a lua, e quando seus lobos se encontraram, ambos reconheceram o vínculo. Era o chamado ancestral: companheiros predestinados.
Talindra acreditou. Contra os conselhos de seu pai, que via em Vandor um humano fraco, dominado pela ambição e pela sombra de seu clã, ela decidiu segui-lo. Desafiou sua família, desafiou seu irmão Kaelit, que temia por ela, e foi atrás do amor que acreditava ser seu destino.
Mas o destino, ela descobriria cedo demais, podia ser cruel.
A recepção em Silvannor foi um baque. Em vez de ser apresentada como companheira predestinada, filha de um Supremo Alfa, Talindra foi recebida como uma desgarrada. A madrasta de Vandor, Itara, jovem e arrogante, a humilhou diante de todos. O próprio pai de Vandor, o rei Alfa Castrel, a tratou como nada. E Vandor, silenciou. Não a defendeu, não a assumiu, não se ergueu como o lobo que prometera ser.
Ao invés de levá-la para junto de si, ele a deixou em uma cabana afastada, pequena e rude, mais digna de uma serva do que de uma herdeira. Cada palavra de seu pai ecoava na mente dela: “Esse futuro Alfa não é digno de ti. O humano nele é fraco, e o lobo não o domina.” Mas Talindra ainda quis acreditar. Ainda esperou. Ainda deu a Vandor um prazo, acreditando que ele finalmente se ergueria diante de seu clã e a reconheceria.
Mas o ciclo lunar trouxe não apenas espera — trouxe a tragédia.
O rei Alfa Castrel adoeceu misteriosamente. Ninguém sabia a causa, mas apenas uma loba sabia a verdade: a avó de Itara, uma anciã feiticeira que envenenava o rei com prata líquida disfarçada em alimento. Enquanto o rei definhava, Itara tramava. E Vandor, fraco diante da pressão dos anciãos, cada vez mais se afastava de Talindra.
Quando Castrel morreu, o clã precisou de continuidade. Os anciãos exigiram que Vandor assumisse o trono — mas não sozinho. Para legitimar sua posição, teria que se acasalar com Itara, a jovem Luna, agora viúva e sem herdeiro. Vandor, acuado, não hesitou: começou a deitar-se com a madrasta. E logo, o ventre de Itara se tornou o estandarte de sua vitória.
Talindra foi chamada perante o conselho. Ou aceitava ser rebaixada a ômega, vivendo como sombra da nova Luna, ou deixaria o clã para sempre. Ela se ergueu, altiva, e proclamou:
— Eu sou a companheira predestinada dele. Fui escolhida pelo destino, e vocês sabem disso.
Mas a resposta foi cruel:
— Não. A companheira dele é Itara, e ela carrega um filho dele.
O mundo pareceu ruir ao redor de Talindra. Vandor, aquele que um dia prometera cuidar dela, agora a negava diante de todos. E, como se não bastasse, Itara aproximou-se com veneno no olhar e desferiu-lhe um tapa no rosto.
Foi o estopim.
Diante de todo o clã, algo despertou em Talindra. Sua loba rugiu com uma força que fez as paredes do salão tremerem. O pelo surgiu em prata e ouro, os olhos arderam em duas cores ao mesmo tempo. Ela não se transformava em apenas uma loba: era o próprio Eclipse tomando forma.
E naquele momento, não foi apenas Talindra quem falou.
A sacerdotisa do clã Silvannor caiu em transe, e pelas suas cordas vocais falaram o Pai Sol e a Mãe Lua. A profecia foi declarada em voz de trovão:
— Nossa filha nasceu sob o Eclipse e foi dada a vocês como dádiva. Vocês a rejeitaram. Vocês a humilharam. Vocês a renegaram. Mas saibam: ela é Suprema. Não precisa do trono de vocês, nem do vosso rei. Ela parte hoje, e com ela leva aquela que chamastes de ômega, mas que sempre foi Alfa e rainha de verdade: Andrina, a companheira predestinada que vocês humilharam.
O salão silenciou.
A sentença continuou:
— Do ventre de Itara nascerá um filho. Mas ele não herdará o trono. Porque é fruto da traição, e jamais será rei.
Quando o transe se quebrou, todos olharam para Talindra e viram não apenas uma mulher, mas o cumprimento vivo de uma profecia. Nem lágrimas nem súplicas: apenas dignidade.
Ela caminhou até Andrina, a mãe esquecida de Vandor, e a ergueu com as próprias mãos. Saíram juntas, diante do silêncio sepulcral do clã. Nenhum ancião ousou impedir. Nenhuma palavra conseguiu se erguer contra o peso do eclipse.
Talindra partiu não como derrotada, mas como Suprema. Ela carregava consigo não apenas a verdade, mas o início de um legado que ecoaria por gerações.
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Atualizado até capítulo 42
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