Quando por fim se separaram, os olhos de Kyun-Seonk estavam marejados, mas sua expressão permanecia dura.
— Não repitas isso. — disse, embora a própria voz tremesse.
Dae-Hyun apenas o encarou, o peito arfando, como se tivesse atravessado uma batalha.
— Tu já sabes que vou repetir.
Kyun-Seonk desviou o olhar, servindo mais soju apenas para ocupar as mãos. O coração, porém, já sabia que não haveria retorno.
O vento frio de Hanyang soprava contra as janelas de papel, fazendo-as vibrar em um murmúrio quase musical. Dentro dos aposentos, no entanto, não havia espaço para o frio. Ali, apenas o calor crescia — um calor denso, sufocante, que não vinha das lamparinas, mas dos dois corpos sentados lado a lado.
Dae-Hyun ergueu a pequena taça de porcelana — o jan — e bebeu o último gole de soju, sem desviar os olhos de Kyun-Seonk. O líquido forte queimou-lhe a garganta, mas o que incendiava de verdade era a visão do escriba, tão próximo, os cabelos soltos sobre a face, os lábios ainda marcados pelo beijo roubado minutos antes.
Ele pousou a taça no chão com firmeza, e o gesto ecoou no silêncio do quarto. Sem uma palavra, virou-se de súbito e, num movimento decidido, empurrou Kyun-Seonk suavemente até o colchão. O escriba deixou escapar um suspiro de surpresa, e logo se viu deitado, o corpo preso sob o peso firme do irmão.
O olhar de Dae-Hyun era febril. Não havia mais disciplina, não havia mais a máscara de guarda imperial. Havia apenas desejo — cru, intenso, proibido.
— Dae-Hyun... — murmurou Kyun-Seonk, a voz quase um protesto. Mas o nome saiu trêmulo, quebrado pela ânsia que tentava negar.
O soldado não respondeu. Em vez disso, inclinou-se e tomou-lhe os lábios novamente. O beijo desta vez não tinha a hesitação do primeiro; era voraz, profundo, carregado de urgência. As línguas se encontraram num embate úmido, desesperado, como se buscassem compensar anos de silêncio em um único instante.
Kyun-Seonk fechou os olhos. O mundo desabava à sua volta. Sabia que era errado, sabia que cada segundo daquele contato o empurrava mais fundo em um abismo sem volta. Mas o calor do corpo de Dae-Hyun sobre o seu, o peso firme de suas mãos segurando-lhe os pulsos contra o colchão, o fazia esquecer qualquer razão.
Quando os lábios do irmão se afastaram, foi apenas para deslizar lentamente até seu pescoço. Dae-Hyun pressionou beijos quentes na pele clara, descendo em movimentos compassados, sugando de leve, como se quisesse deixar marcas que o mundo jamais deveria ver. Kyun-Seonk arqueou as costas, um gemido abafado escapando-lhe dos lábios.
— Não... não pode... — tentou sussurrar, mas a própria voz o traía, fraca, embargada de desejo.
Dae-Hyun ergueu o rosto apenas o suficiente para encará-lo.
— Não posso? — a pergunta saiu em tom grave, quase rouco. — E ainda assim, não consigo parar.
Os lábios voltaram ao pescoço, e então às clavículas. Cada beijo era mais fundo, mais ousado, como se Dae-Hyun buscasse mapear cada pedaço da pele de Kyun-Seonk. Suas mãos, antes presas nos pulsos, deslizaram agora pelo tecido do roupão de algodão. Com um gesto firme, abriu-lhe a dobra, expondo o peito do escriba.
O ar frio da noite encontrou a pele nua, mas logo foi substituído pelo calor da boca de Dae-Hyun. Ele percorreu cada linha, cada curva, com beijos que misturavam reverência e fome. O coração de Kyun-Seonk pulsava em disparada, e suas mãos, sem perceber, agarraram-se aos ombros do irmão, como se buscassem tanto afastá-lo quanto trazê-lo para mais perto.
Era uma luta inútil.
— Dae-Hyun... — repetiu, mas desta vez seu tom não era de resistência, e sim de rendição.
O soldado ergueu o rosto novamente, e seus olhos se encontraram. Nos de Dae-Hyun havia fogo; nos de Kyun-Seonk, tormenta.
— És o único que me importa. — disse o guarda, com uma convicção que parecia atravessar séculos.
As palavras o cortaram por dentro. Kyun-Seonk quis responder, quis dizer que não podia, que eram filhos do mesmo general, que havia olhos por toda parte, que a corte os destruiria se suspeitasse. Mas em vez de palavras, sua boca ofereceu outro beijo — ardente, desesperado, como se confessasse aquilo que sua razão se recusava a admitir.
Dae-Hyun correspondeu de imediato. Suas mãos deslizaram novamente pelo roupão, afastando o tecido até os ombros, deixando o escriba meio despido sob ele. O toque da pele contra pele fez ambos suspirarem em uníssono.
O tempo pareceu desaparecer. O som distante do vento, as lamparinas tremulando, o sussurro do papel contra madeira — tudo sumiu. Restaram apenas dois homens, dois irmãos não de sangue, presos em um instante proibido que ardia mais do que qualquer chama.
Os beijos de Dae-Hyun voltaram a descer, agora mais lentos, quase reverentes, percorrendo o peito, o abdômen, cada parte revelada do corpo de Kyun-Seonk. O escriba, antes tão rígido, deixava-se levar, os dedos se enroscando no cabelo escuro do irmão, puxando-o suavemente, como se não soubesse se queria deter ou incitar.
Era a ânsia e o medo misturados.
Cada respiração era um fôlego roubado, cada toque um risco mortal. Mas era precisamente essa proibição que tornava tudo ainda mais intenso.
Por fim, Dae-Hyun ergueu-se novamente, pairando sobre Kyun-Seonk. O roupão agora mal cobria o escriba, aberto, frouxo, revelando mais do que escondia. Seus olhos se encontraram outra vez — fogo contra tormenta.
— Kyun-Seonk... — disse Dae-Hyun, o nome saindo como uma prece.
O escriba fechou os olhos, e lágrimas discretas deslizaram pelo canto, não de dor, mas do peso esmagador daquilo que viviam. Ainda assim, ergueu a mão e tocou o rosto do irmão, com ternura, como se aquele gesto fosse tanto uma aceitação quanto uma despedida.
O beijo que se seguiu foi o mais lento de todos. Não havia mais urgência, apenas entrega.
O calor que havia se instaurado entre os dois parecia maior que qualquer brasido, mais intenso que as lamparinas tremeluzindo nos cantos do quarto. O corpo de Dae-Hyun, inclinado sobre o de Kyun-Seonk, exalava firmeza e uma devoção contida por anos. Seus lábios percorriam o pescoço alvo do escriba com a avidez de quem não suportava mais viver de olhares disfarçados ou palavras medidas.
A cada toque, a cada respiração entrecortada, parecia mais impossível conter a correnteza que os arrastava.
Kyun-Seonk, contudo, sentia o coração bater contra o peito como se buscasse romper as grades da própria carne. Ele se deixava embalar pelo peso de Dae-Hyun sobre si, pela boca que queimava sua pele delicada, mas uma tensão invisível o mantinha desperto, preso à realidade que a paixão insistia em dissolver. As mãos, antes abandonadas ao leito, tremeram ao subir pelos ombros do irmão, tocando-o como se fossem repelir e acolher ao mesmo tempo.
Então, com um gesto firme e ainda assim delicado, ele o afastou. As palmas repousaram contra o peito largo de Dae-Hyun, empurrando-o apenas o bastante para quebrar a corrente elétrica que pulsava entre os dois. Seus olhos, marejados e incertos, encontraram os do guerreiro.
— Não... — sua voz saiu quase como um sussurro, entre a confissão e a súplica. — Não podemos fazer isso... não é algo que deveríamos fazer...
O silêncio que se seguiu foi mais cortante que qualquer lâmina. Dae-Hyun permaneceu acima dele, respirando forte, o rosto iluminado por uma chama interna que não encontrava saída. Sua mão ainda segurava uma das do escriba, e ele não a largou imediatamente, como se ali residisse a última âncora contra o abismo.
Ambos estavam excitados, a tensão em seus corpos era clara, impossível de negar. Mas era justamente essa clareza que tornava tudo mais perigoso.
Dae-Hyun fechou os olhos por um instante, como se lutasse contra si mesmo, e então falou, a voz rouca pela urgência contida:
— Esse desejo... eu sei que você o sente também. — Aproximou o rosto, não o suficiente para beijá-lo outra vez, mas o bastante para que suas palavras esbarrassem nos lábios de Kyun-Seonk. — Se não for consumido, ele nos consumirá. E não seremos capazes de controlar isso depois.
continua....
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Atualizado até capítulo 29
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