Capítulo 02, Irmãos. parte 2

O grande salão do palácio resplandecia em solenidade. Lanternas altas de papel branco e vermelho iluminavam a vasta assembleia, onde ministros, eruditos, lordes e generais se alinhavam em fileiras impecáveis. O teto, sustentado por colunas pintadas em vermelho vivo e dourado, parecia carregar o peso da história e da própria ordem do mundo. No centro, elevado sobre o trono, estava Sua Majestade, o rei — presença absoluta, imutável, diante da qual todos se curvavam.

Kyun-Seonk, em sua túnica de escriba, mantinha-se sentado à mesa próxima, pincel em mãos, atento a cada palavra pronunciada. Sua função era clara: registrar fielmente cada decisão, cada conselho, cada decreto que dali emanasse.

A tinta negra escorria suave sobre o papel, mas sua mente precisava de disciplina extrema para não se dispersar diante da grandiosidade do momento.

Atrás das colunas, compondo a guarda do salão, estava Dae-Hyun. Em posição ereta, a espada repousando contra a coxa, ele deveria manter-se imóvel, apenas os olhos atentos ao movimento dos ministros e às palavras do rei. Contudo, seus olhos encontraram outro ponto de atenção — e ali permaneceram.

Kyun-Seonk.

O escriba, curvado sobre os pergaminhos, movia o pincel com precisão quase silenciosa. Cada linha traçada era firme, cada caractere revelava uma calma estudada. Para Dae-Hyun, porém, aquele gesto simples parecia transcender o ofício: havia nele uma beleza contida, uma delicadeza que contrastava com todo o peso da guerra e da espada.

O soldado não conseguia desviar o olhar.

Kyun-Seonk, no entanto, sentiu. Não precisava levantar a cabeça para saber. O peso dos olhos do irmão sobre si era uma chama invisível queimando-lhe a nuca.

Ele respirou fundo, tentando afastar o incômodo, mas, a cada palavra do rei, a cada suspiro do salão, a certeza de estar sendo observado o desconcentrava mais.

O pincel escorregou uma vez, e Kyun-Seonk fechou os olhos por um instante. Maldição. Aquele não era o lugar para distrações, menos ainda para os olhares insistentes de Dae-Hyun.

Horas se passaram até que a conferência chegou ao fim. Os ministros se levantaram, curvaram-se, e a multidão de nobres e lordes começou a se dispersar em murmúrios contidos. O rei deixou o trono com a solenidade de sempre, seguido de seus conselheiros mais próximos.

Kyun-Seonk guardou seus papéis e pincéis em silêncio, o coração pesado. Mal se pôs de pé quando sentiu a presença dele — Dae-Hyun aproximando-se com passos firmes, a armadura tilintando suavemente.

— Irmão... — disse o guarda, num tom baixo, mas carregado de emoção contida.

Kyun-Seonk ergueu os olhos, e neles havia uma chama de impaciência.

— O que foi aquilo? — murmurou, sem rodeios.

— Aquilo?

— Teus olhos. — Kyun-Seonk deu um passo para trás, mantendo a distância. — Durante toda a conferência, quando todos os lordes e ministros esperavam disciplina, tu me observavas como se não houvesse mais nada no salão.

Dae-Hyun inspirou fundo, desviando por um momento o olhar, mas retornando logo em seguida.

— Não pude evitar. Após meses em guerra, ao ver-te ali... é como se o mundo inteiro se concentrasse apenas em ti.

As palavras atingiram Kyun-Seonk como uma lâmina. Ele cerrou os punhos, escondendo a mão dentro da manga da túnica.

— Tu não entendes? — sussurrou, com firmeza. — Aqui, até o silêncio é ouvido. Cada gesto é observado. Se alguém percebe teu olhar, farão perguntas. Perguntas que não podes responder.

— E por que não? — Dae-Hyun aproximou-se mais, sua voz mais grave agora. — És meu irmão, é natural que eu te olhe.

Kyun-Seonk sentiu o coração bater mais forte. "Irmão". A palavra soava como uma corrente.

— Há maneiras de olhar um irmão — respondeu ele, a voz trêmula, mas firme. — A tua não era uma delas.

Houve um silêncio denso, interrompido apenas pelo eco distante de passos no corredor. Dae-Hyun se deteve, encarando Kyun-Seonk com olhos que oscilavam entre orgulho e vulnerabilidade.

— Talvez... — disse, por fim, num sussurro quase inaudível — talvez eu não saiba a maneira correta de olhar-te.

O ar pareceu rarefeito. Kyun-Seonk desviou os olhos imediatamente, apertando contra o peito os papéis que carregava. Não havia resposta possível para aquela confissão.

— Basta. — disse ele, por fim, a voz seca. — Não voltes a repetir isso.

E, sem esperar reação, Kyun-Seonk virou-se e caminhou apressado pelos corredores, o som de suas sandálias ressoando no chão de madeira. Seu coração estava em tumulto, mas seu rosto mantinha a rigidez necessária.

Chegou a seus aposentos, fechou a porta com firmeza e deixou-se cair sobre a pequena mesa próxima. Os pergaminhos deslizaram de seus braços, espalhando-se pelo chão. O escriba apoiou a cabeça nas mãos, respirando fundo.

Lá fora, o vento frio de outono soprava de novo, insinuando-se pelas frestas. E dentro de si, Kyun-Seonk sentia o mesmo vento — frio, incômodo, mas também vivo. A lembrança do olhar de Dae-Hyun queimava mais do que gostaria de admitir.

Ele fechou os olhos, e, pela primeira vez em muito tempo, desejou que o silêncio do palácio fosse suficiente para sufocar o que nascia dentro dele.

continua...

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