PRISIONEIRO DO TEU OLHAR

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Capítulo 1 – Fuga na Noite

•Tee

O som abafado da música ainda vibrava em meus ouvidos, mesmo depois de ter saído da pista de dança. As luzes da boate piscavam em vermelho e azul, refletindo no espelho à minha frente quando me encostei no balcão do bar. Senti o suor colar minha camisa de seda ao corpo, mas não me importava. Eu só queria respirar, só queria sentir por um instante que minha vida era minha.

Naquele ambiente sufocante, cercado por pessoas que riam alto e se divertiam sem pensar nas consequências, eu me sentia… livre. Talvez fosse essa a palavra que sempre fugia de mim dentro da mansão da minha família.

Lá, cada passo meu era observado. Cada gesto era julgado. Até o beijo que eu dava em Fah — minha namorada perfeita, a herdeira que todas as famílias invejavam — tinha um peso calculado. Não era afeto, era contrato. E eu odiava cada segundo disso.

Peguei o copo de whisky e virei de uma vez, sentindo a queimação descer pela garganta. Sorri sozinho, satisfeito com o gosto amargo que parecia combinar com minha vida.

— Olha só quem resolveu aparecer sem segurança — uma voz arrastada soou atrás de mim.

Virei o rosto devagar. Um homem mais velho, talvez vinte e poucos anos, tatuagens espalhadas pelos braços, se apoiava no balcão com um sorriso torto. Seus olhos me analisavam com um interesse que não me agradou. O cheiro de álcool barato e cigarro que exalava dele era repulsivo.

— Não estou interessado. — Fui direto, porque nunca tive paciência para joguinhos.

Ele riu, inclinando-se um pouco mais, invadindo meu espaço. — Ninguém aqui precisa saber quem você é, garoto rico. Podemos só… conversar.

Revirei os olhos. Sempre tinha alguém assim, querendo tirar proveito da minha pressa em escapar da prisão dourada onde vivia.

Quando me levantei, o homem segurou meu braço com força, seus dedos pressionando minha carne através do tecido fino da camisa. — Vai embora assim? Sem ao menos brindar comigo?

— Solta. — Minha voz saiu fria, mas por dentro um desconforto cresceu. Apertei o copo vazio na mão.

Tentei me soltar, mas ele apertou ainda mais, seus dedos quase me machucando. O barulho da música encobria qualquer pedido de ajuda. Eu não queria fazer escândalo, não queria que alguém reconhecesse meu sobrenome e ligasse para casa. O pânico começou a subir pela minha garganta, um gosto metálico de impotência.

E foi então que a mão dele foi arrancada de mim com uma força brutal.

Um vulto surgiu, firme, autoritário, e em segundos o homem que me segurava foi empurrado contra o balcão com um impacto forte. O som de vidro quebrando e o grito abafado do agressor cortaram momentaneamente a música ao nosso redor. O silêncio tomou conta da área.

Meu coração disparou quando reconheci aquele rosto.

— Você?!

Bass.

O segurança que meu pai havia contratado semanas atrás. O homem que sempre andava atrás de mim como uma sombra indesejada. O homem que, até agora, eu tinha conseguido despistar para escapar naquela noite.

Ele me encarava com aqueles olhos escuros, carregados de uma frieza glacial que parecia baixar a temperatura do ambiente.

— O que diabos você pensa que está fazendo aqui? — falou, a voz baixa, mas tão firme e cortante que me gelou por dentro.

Eu queria responder com arrogância, como sempre fazia, mas pela primeira vez minha garganta secou. A raiva nos olhos dele não era profissional. Era pessoal. E aquilo me paralisou.

• Bass

Ele era um idiota.

Um garoto mimado, inconsequente, que achava que podia escapar da mansão como se fosse uma criança fugindo da escola. Tee não entendia que não vivia num conto de fadas. A família dele tinha inimigos reais. Pessoas que o atacariam sem pensar duas vezes, apenas para atingir o poder de seu pai.

Eu havia atravessado a cidade inteira quando percebi que ele não estava no quarto. Segui pistas, cheguei até aquele lugar com cheiro de álcool e fumaça, e quando o encontrei, vi um homem segurando-o com força, prestes a arrastar o herdeiro para sabe-se lá onde. A expressão de pânico contido no rosto de Tee fez algo dentro de mim estalar.

A cena me fez perder o controle.

A raiva queimava dentro de mim, mas não era só isso. Era algo mais. Algo que me incomodava ainda mais do que a insolência dele. Uma pontada de possessividade doentia que eu não queria examinar de perto.

— Se encostar nele de novo, não vai sair daqui andando. — Minha voz saiu baixa, porém firme, como quando eu ainda estava no exército. O tom era de morte, e o homem entendeu.

O tatuado recuou, praguejando, mas não teve coragem de me enfrentar. Saiu tropeçando, misturando-se na multidão, levando consigo o cheiro do perigo que eu tinha acabado de afastar.

Voltei meu olhar para Tee.

Droga.

Aquela expressão no rosto dele não era de medo ou gratidão. Era de desafio puro. Como se eu tivesse estragado sua diversão.

— Não precisava ter feito isso. — A voz dele soou carregada de desprezo, mas havia uma sombra de algo a mais em seus olhos. Excitação? Adrenalina?

— Não precisava? — Apertei o maxilar, sentindo os músculos do meu pescoço tensionarem. — Você quer acabar morto? Sequestrado? Estuprado em algum beco? É isso que você quer?

Ele deu um passo à frente, desafiador, o perfume caro e intoxicante invadindo meu espaço. Seu rosto estava próximo demais. Eu podia contar seus cílios, ver a pupila dilatada pelo álcool e pela emoção.

— Talvez eu só queira acabar livre. — sussurrou, e a provocação naquela voz era como um fósforo jogado na gasolina da minha contenção.

Por um instante, minhas mãos coçaram para agarrá-lo, para empurrá-lo contra a parede e sacudi-lo. Não para protegê-lo, mas para calar aquele olhar provocador. A violência do impulso me assustou.

Mas não. Esse não era meu papel.

Respirei fundo, segurei o braço dele com firmeza — talvez com mais força do que deveria, sentindo os ossos sob minha palma — e o arrastei para fora da boate, ignorando os olhares ao redor.

Ele se debateu, xingou, mas eu não soltei. E a cada movimento dele tentando escapar, meu peito se enchia de uma raiva estranha, misturada a algo que eu não queria admitir. Algo que tornava meu toque mais áspero do que o necessário.

Quando finalmente chegamos ao carro, joguei-o contra a porta do passageiro, o metal gelado contra suas costas. Ele ofegou, surpreso. Encostei meu corpo contra o dele, prendendo-o lá, e o encarei de perto, nossas respirações se misturando no ar frio da noite.

— Nunca mais faça isso. — Minha voz saiu como um aviso rouco, um som que vinha de um lugar escuro dentro de mim. Mas o olhar dele prendeu o meu. Não havia medo. Havia fogo.

Olhos escuros. Insolentes. Desafiadores.

E pela primeira vez desde que aceitei aquele trabalho, percebi que proteger Tee seria muito mais perigoso do que qualquer missão que já enfrentei. Porque o perigo maior não estava lá fora. Estava preso contra a porta do carro, olhando para mim como se pudesse ver tudo o que eu lutava para esconder.

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Comments

Marina Silva

Marina Silva

sim e como è o nome segurança

2025-09-27

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