• Tee
As portas do carro se fecharam com um baque seco e pesado atrás de mim. Bass entrou no assento do motorista, e o silêncio que ele trouxe consigo era mais cortante e pesado do que qualquer gritaria. O motor ligou com um ronco suave, e sem sequer olhar na minha direção, ele arrancou, suas mãos segurando o volante com uma força que deixava os nós dos dedos brancos.
Eu me joguei contra o banco de couro frio, tentando disfarçar o quanto meu pulso ainda doía e latejava por causa do jeito brutal como ele me agarrou e me arrastou para fora da boate. A marca dos dedos dele parecia estar queimando na minha pele, uma lembrança dolorida e humilhante que doía mais do que a bebida daquela noite.
— Vai ficar calado o caminho inteiro? — joguei a provocação no ar, tentando quebrar aquele silêncio que me apertava a garganta.
Nada. Nenhuma reação. Ele nem sequer respirou mais fundo.
Olhei para ele de lado. Bass estava completamente rígido, seus ombros tensionados, seus olhos fixos na estrada como se estivesse em uma missão de guerra. Cada músculo do seu corpo gritava que ele estava furioso, e aquela raiva silenciosa era assustadora.
Soltei um suspiro exagerado. — Você age como se fosse meu dono. Como se eu fosse sua propriedade.
— Não sou seu dono. — A voz dele saiu baixa, mas tão dura e afiada que pareceu cortar o ar. — Sou o homem que seu pai paga para manter você vivo, já que você mesmo se esforça todos os dias para encontrar uma maneira de morrer.
Revirei os olhos, sentindo a raiva ferver dentro de mim. — Drama desnecessário. Exagero.
Ele virou o rosto por um instante, e o olhar que me lançou foi tão gelado e carregado de desprezo que eu senti um calafrio percorrer minha espinha. Abri a boca para retrucar, para xingar, mas as palavras morreram na minha garganta. Havia algo naquele olhar que me paralisou, que me fez sentir pequeno e exposto.
Tentei rir, forçando um som de deboche. — Você leva esse trabalho a sério demais. Deveria relaxar um pouco.
— Alguém precisa levar a sério. — ele respondeu na mesma hora, sem hesitar, sua voz como um chicote.
A raiva subiu dentro de mim, quente e rápida, misturada com uma confusão de sentimentos que eu não entendia. Por que meu coração batia tão forte contra meu peito toda vez que ele me olhava daquele jeito? Não era atração. Não podia ser. Era apenas raiva, pura e simples.
Era só isso que eu conseguia aceitar.
O silêncio desceu sobre o carro de novo, pesado e desconfortável. A cidade passava pelas janelas, um borrão de luzes brilhantes que não conseguiam iluminar a escuridão que eu sentia dentro de mim. Eu odiava aquele sentimento. Odiava como Bass sempre me fazia me sentir como uma criança irresponsável e estúpida. Mas, ao mesmo tempo, havia algo na maneira firme e segura dele… algo que me puxava para perto, como um ímã perigoso.
Balancei a cabeça, tentando me livrar daqueles pensamentos. Isso era errado. Isso era loucura.
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•Bass
O silêncio era minha única proteção.
Cada palavra que Tee soltava, cada provocação, era como um fósforo jogado na minha paciência. Eu precisava respirar fundo, contar mentalmente, para não perder o controle e fazer algo que iria me destruir. Ele não fazia ideia. Não tinha noção de como eu estava a um passo de quebrar aquele sorriso arrogante dele, só para ver se ele aprendia a lição.
Mas a raiva não era tudo. Esse era o verdadeiro perigo.
Quando agarrei o braço dele na boate, quando o puxei para fora dali, senti a pele suave e quente dele sob meus dedos. Frágil. Foi como se um fio elétrico tivesse me conectado a ele.
E agora, dentro do carro fechado, o cheiro do perfume dele enchia o ar, me envolvia de um jeito que me sufocava. Não era apenas um cheiro doce. Era provocante, como tudo nele.
Eu deveria ignorar. Deveria apenas fazer meu trabalho. Mas, por dentro, cada parte do meu corpo estava em guerra.
— Você age como se fosse meu dono — ele tinha dito.
Não. Eu não era dono dele. Mas naquele momento, olhando para ele no escuro do carro, uma parte perigosa de mim quisesse ser.
Apertei o volante com mais força, meus dedos doendo, tentando empurrar aquele pensamento para longe. Não podia. Não devia.
Ele é apenas um garoto mimado, me lembrei. Um herdeiro rico que nunca vai entender o mundo real.
Mas, quando parei o carro em frente ao portão enorme da mansão, a memória dos olhos dele me encarando na boate voltou com tudo. Desafiadores. Cheios de fogo. E, no fundo, com um medo que ele tentava esconder.
Desliguei o motor sem dizer uma palavra. Saí, fechei minha porta com um baque e abri a porta dele com um movimento brusco.
— Anda. — minha voz saiu áspera e seca.
Ele ergueu o queixo, aquele ar de superioridade que me irritava mais do que tudo. — Não precisa bancar o durão. O mandão.
— Preciso sim. — respondi, encarando ele. — Se não fosse por isso, você já estaria morto.
Por um instante, vi algo diferente brilhar no olhar dele. Não era só raiva. Era outra coisa.
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• Tee
O corredor enorme e vazio da mansão estava silencioso quando entrei, meus passos soando alto no chão de mármore tão limpo e frio. Bass vinha logo atrás de mim, como uma sombra grande e silenciosa que eu não conseguia escapar.
Eu queria gritar. Queria virar e empurrá-lo contra a parede e dizer que não precisava dele me protegendo. Mas uma parte pequena e assustada de mim sabia que, se ele não tivesse aparecido naquela noite, coisas ruins poderiam ter acontecido.
Isso me deixou ainda mais irritado.
Virei de repente, encarei ele de frente. — Você acha que pode controlar minha vida só porque é mais velho, mais forte e sabe como bater nos outros. Mas não controla.
Ele me encarou, seus olhos escuros e sérios, tão perto que eu pude ver cada detalhe.
— Eu não quero controlar você, Tee. — Ele falou baixo, cada palavra saindo com um peso que fez meu estômago se apertar. — Só quero te manter vivo.
Aquela voz grave ecoou dentro de mim. Senti meu rosto esquentar e odiei aquela reação.
Revirei os olhos e soltei uma risada falsa, mesmo sentindo minha garganta seca. — Então faça seu trabalho direito e pare de me asfixiar. Pare de me seguir como um cachorro.
Virei de costas, subindo as escadas largas, tentando ignorar o peso do olhar dele queimando nas minhas costas.
Mas, naquela noite, deitado na minha cama grande e vazia, o rosto sério e rigoroso de Bass não saiu da minha cabeça.
E, pela primeira vez em muito tempo, eu senti medo. Não medo do que os outros poderiam fazer comigo… mas medo do que eu estava começando a sentir por ele.
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Atualizado até capítulo 31
Comments
Gilvaneide Siqueira
uau, perfeito estou amando sua história
2025-09-19
0
Marina Silva
Quero foto dos personagens
2025-09-27
0