Sua Inocência, Seu Castigo
Eu tinha apenas cinco anos quando minha vida foi arrancada da inocência de uma infância comum. Aos meus olhos pequenos, o mundo parecia um lugar simples: brincar no jardim florido da mansão, correr pelos corredores compridos, ouvir a risada da minha mãe e sentir o abraço seguro da minha babá, Elisa. Eu não compreendia o peso do sobrenome que carregava, nem o tipo de vida que meu pai levava quando saía tarde da noite com aqueles homens de terno escuro.
Para mim, meu pai era apenas… papai.
E Dante… bem, Dante era o garoto de cabelos negros e olhar penetrante que sempre me parecia mais velho do que realmente era. Ele tinha dez anos, mas agia como um adulto em miniatura. Enquanto eu carregava bonecas nos braços, ele já carregava nos olhos a dureza de um mundo que eu não entendia.
— Você corre devagar demais, Maelyn. — ele reclamava, quando eu o obrigava a brincar de pega-pega no jardim.
— Você é que corre rápido demais. — eu retrucava, emburrada, cruzando os bracinhos.
Ele sempre ria baixo, mas era raro ver esse riso. Dante não era um menino qualquer. Ele já sabia quem era, de onde vinha e o que estava destinado a ser. Eu, não. Eu só sabia que gostava de tê-lo por perto, mesmo quando ele me irritava com sua arrogância precoce.
Naquela noite, porém, tudo mudou.
As chamas nunca chegam de repente. Primeiro, são os presságios. O silêncio que pesa, o latido desesperado dos cães, o vento que parece sussurrar segredos que ninguém entende. Naquela madrugada, a mansão D’Angelo já não respirava como antes.
Althea ainda estava no piano, como se pudesse segurar o tempo entre as teclas. Victor caminhava inquieto pelo escritório, cartas espalhadas sobre a mesa, os punhos cerrados contra o inevitável. Nos corredores, a pequena Maelyn dormia abraçada ao colar de estrela, a respiração leve, como se sonhasse com um mundo onde nada daquilo existia.
Mas o mundo dos D’Angelo não era feito de sonhos. Era feito de dívidas de sangue.
Foi a babá, Clara, que primeiro sentiu o cheiro da fumaça. Estava acordada, revisando roupas dobradas, quando ouviu os cães em alvoroço e, logo depois, o estalo seco de madeira partindo ao longe. Seu coração disparou. A lembrança dos sussurros entre os criados nos últimos dias voltou como um soco: Eles vão atacar. Não vai demorar.
Correu até o quarto da menina. Abriu a porta com brutalidade, o que fez Maelyn se sobressaltar na cama.
— Clara, o que está acontecendo?
-- Cadê o papai e a mamãe
— Fique calma meu anjinho, eu estou aqui e tudo irá ficar bem, eu te prometo!
— Agora precisamos sair daqui agora.
Maelyn suspirava, confusa, mas sentiu o cheiro forte de fumaça entrando pelas frestas da janela. O medo subiu como uma onda em sua garganta.
— Mamãe! Papai!
Clara suspirou pesado olhou nos olhos da pequena e disse.
— Escute-me, Maelyn. Você tem que confiar em mim. Sua mãe e seu pai querem que você fique calma e confie em mim meu amor. Eu vou te levar para onde eles mandaram.
O som de gritos começou a ecoar do lado de fora, seguido pelo estalar de tiros. O mundo estava desmoronando.
Clara apertou a menina contra o peito e correu pelos corredores em direção à ala antiga da mansão. Ali, atrás de uma estante de livros, havia uma passagem secreta — construída décadas antes pelos ancestrais D’Angelo, como rota de fuga em tempos de perseguição.
Ela empurrou o móvel com esforço, revelando a entrada estreita. O coração batia como um tambor dentro do peito.
— Segure firme o colar da sua mamãe, meu amor. Ele vai te dar coragem.
Maelyn obedeceu, os olhos marejados, mas ainda sem compreender a dimensão do que acontecia.
Mas sabia que estava segura com mulher que sempre esteve ali desde do seu nascimento.
A passagem era estreita e escura. Clara entrou rapidamente, puxando a menina consigo, fechando a estante atrás delas. O som abafado dos disparos ainda alcançava suas costas, mas a escuridão trazia uma tênue sensação de proteção.
O túnel cheirava a terra úmida e pedra antiga. A cada passo, Clara sussurrava preces, não por si, mas pela criança em seus braços. Sabia que talvez não houvesse saída para os adultos da casa, mas Maelyn precisava viver. Essa era a ordem, a promessa, o sacrifício.
Depois de longos minutos de caminhada sufocante, chegaram a uma porta de ferro enferrujado. Clara tirou uma chave escondida no bolso do avental. Suas mãos tremiam tanto que precisou tentar duas vezes antes de conseguir girá-la. A porta rangeu, revelando a noite aberta e o bosque além dos muros da mansão.
O céu estava vermelho ao longe, iluminado pelo incêndio.
Clara respirou fundo. O plano era simples: atravessar parte do bosque e chegar ao ponto onde seu marido, Marco, estaria esperando com um carro. Haviam combinado isso secretamente com Victor e Althea semanas antes, prevendo o pior.
— Vamos, meu anjo. Só mais um pouco, tudo vai ficar bem.
Maelyn, agora mais desperta, chorava em silêncio, os olhos grudados no brilho das chamas ao longe.
— Mamãe… — soluçou. — Papai…
- Eles não virão Clara?
Clara ficou em silêncio, como poderia explicar para aquela pobre criança que ela não veria mais os seus pais.
Clara sentiu o coração se partir, mas continuou andando com passos rápidos, a menina agarrada ao pescoço.
O bosque não era seguro. Galhos estalavam sob os pés, corujas gritavam na escuridão, e a cada som distante Clara temia que fossem homens armados. O colar da estrela brilhava sob a lua, como se fosse a última chama da família D’Angelo.
Finalmente, após uma eternidade, Clara avistou as lanternas de Marco, que aguardava escondido perto da estrada. Ele correu até elas assim que viu a silhueta da esposa.
— Que bom! — exclamou, pegando Maelyn nos braços. — Vamos, rápido!
Maelyn o olhou com os olhos cheios de lágrimas, sem saber quem ele era. Marco se ajoelhou à sua altura e disse, firme mas gentil:
— Sou amigo do seu papai e da sua mamãe. Prometi que cuidaria de você, pequeno anjo, e farei isso está ouvindo?
_ Estou!
Agora precisamos ir, não podemos ficar aqui, tem pessoas muito maus que querem nos fazer mal.
Clara segurou o rosto da menina.
— Nunca se esqueça do que seu pai disse: sua luz é maior que a escuridão. Você vai sobreviver, Maelyn. Por eles.
A menina apenas assentiu, escondendo o rosto contra o peito de Marco.
Eles entraram no carro e, antes que o motor rugisse, um último clarão iluminou o horizonte: a mansão D’Angelo desabava em meio ao fogo.
A vida que Maelyn conhecia havia terminado.
E uma nova história, marcada por cicatrizes invisíveis, estava apenas começando.
O carro avançava pela estrada estreita, engolindo quilômetros de escuridão. Marco mantinha as mãos firmes no volante, os olhos atentos ao retrovisor. O silêncio era cortado apenas pelos soluços contidos de Maelyn, que se agarrava ao colar da estrela como se fosse a única âncora de sua existência.
Clara estendeu a mão, acariciando os cabelos da menina. O coração ainda batia em disparada, mas ela não deixaria o medo transparecer. Agora, mais do que nunca, precisava ser a fortaleza que Maelyn tinha perdido.
— Está tudo bem, meu amor… — sussurrou, mesmo sabendo que nada estava bem. — Estamos com você.
Marco olhou rapidamente para a esposa. Ele também carregava o peso da promessa feita a Victor D’Angelo. Recordava-se das últimas palavras do patrão, ditas em voz baixa, dias antes do ataque:
"Se algo acontecer, salve-a. A minha filha não pode ter o mesmo destino que nós."
A lembrança apertou sua garganta. Ele acelerou.
Horas depois, chegaram a uma pequena casa afastada, no limite de uma aldeia rural. Ali, ninguém os procuraria. Era um refúgio simples, mas seguro. Clara levou Maelyn para um quarto pequeno, aconchegando-a na cama improvisada.
A menina, ainda em choque, perguntou baixinho:
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 23
Comments
Fabia Araujo
autora essa história tem alguma coisa Ave com os outros livros e tem foto dos papéis principais
2025-09-22
0
Maria Joana
vamos que vamos mais uma história
boa sorte Autora 🫠
2025-09-18
0
Marta Monteiro
iniciando a leitura 📚. 🥰
2025-09-28
0