Esposa Indesejada: O Legado
O currículo dele estava sobre a mesa de vidro, as letras alinhadas com perfeição, cada estágio, cada pesquisa, cada prêmio acadêmico. Isabelle cruzou as pernas, os olhos violetas fixos no rapaz à sua frente.
— Você se formou em uma das maiores universidades do país... - Disse, sem levantar a voz: — E lá mesmo há vagas sobrando para alguém com esse perfil. Então por que quer trabalhar aqui, na Castelier?
Zake respirou fundo antes de responder.
— Porque essa cidade é meu lar. Voltar foi inevitável e a empresa de sua família sempre foi uma referência para mim. - Ele hesitou, depois acrescentou com firmeza: — Admiro muito a trajetória da sua mãe.
Um sorriso curto e quase irônico surgiu nos lábios de Isabelle.
— Se está tentando ser puxa-saco, aviso logo que não vai funcionar elogiando minha mãe. Isso não garante vaga.
Ele sustentou o olhar dela, sem se abalar.
— Não é bajulação. Só falei a verdade.
Houve um breve silêncio.
Isabelle desviou os olhos para o currículo mais uma vez, como se pesasse cada palavra. Ao lado, seu irmão parecia entusiasmado, quase convencido a contratar Zake.
— Entraremos em contato, Senhor Halbrecht.- Disse Isabelle, o dispensando.
Quando Zake deixou a sala, o irmão não escondeu o interesse.
— Eu gostei dele, Belle. Ele parece dedicado e tem um currículo impressionante!
Isabelle encostou-se na cadeira, pensativa.
— Não sei, Adrian. Tem algo nele que não me convence. Fala certo, se apresenta bem, mas não sinto verdade nele.
O irmão ergueu as mãos em rendição.
— Você é quem decide. Se acha melhor, eu aceito sua palavra.
Algumas horas depois, Isabelle pegou o telefone, discou o número dele e esperou até ouvir a voz do outro lado.
"Senhor Halbrecht? Aqui é Isabelle Castelier. Obrigada pela disposição em vir até nós, mas a vaga não será preenchida por você. Espero que encontre outra oportunidade."
Antes que ele pudesse responder qualquer coisa além de um breve “entendo”, ela encerrou a ligação.
...---...
Ayden desligou o telefone, apoiando as mãos na mesa da pequena sala do apartamento na cidade.
O silêncio parecia pesado, quase palpável. Ele fechou os olhos por um instante, respirando fundo, mas não havia alívio.
— Interessante. - Murmurou para si mesmo.
Um sorriso curto, quase irônico, curvou seus lábios. Não era desprezo; era cálculo.
Ele recordou cada detalhe do encontro: o olhar firme, o tom seguro, a maneira como ela desarmava qualquer tentativa de se mostrar impressionante.
Isabelle não era fácil de manipular.
Ela lembrava muito a mãe, mas com uma intensidade própria, feroz e direta.
Ele caminhou até a janela, observando a cidade que parecia tão familiar, mas agora cheia de novas possibilidades. A lembrança do passado da família Castelier, das histórias que ouvira sobre Cleia e Jonas, misturava-se à própria memória da morte do cientista que ele um dia admirou e que, de certa forma, deixou um vazio que precisava ser preenchido.
— Então é isso. - Disse em voz baixa. — Se ela não me aceita de forma justa, vou ter que criar um caminho que me faça valer a pena.
Ele pegou um caderno do lado da cama, começou a rabiscar ideias e estratégias.
Não era apenas sobre a vaga; era sobre estar perto da família, aprender seus padrões e descobrir fraquezas.
Isabelle podia ser dura, mas ele estava acostumado a lidar com pessoas complicadas.
E ainda havia algo mais.
Um sentimento inesperado, difícil de identificar surgiu no seu peito: curiosidade, fascínio, talvez um fio tênue de atração.
Ele não negava para si mesmo, mas sabia que se se deixasse levar, perderia o controle sobre o objetivo real.
— Primeiro, ganho confiança.. - Murmurou, folheando o currículo que tinha levado: — Depois, vejo cada detalhe. Nada escapará, eu vou começar com a senhora Castelier. Ela gosta de ajudar todo mundo. Vou usar isso contra ela.
Ele fechou o caderno, olhando para a paisagem fora do quarto. Cada passo precisava ser calculado. Cada gesto de Isabelle seria observado, analisado.
Mas, no fundo, uma pergunta persistia, silenciosa e irritante: por que, mesmo sabendo do perigo, ele sentiu algo ao olhar para ela?
Ayden ergueu a mão e tocou o telefone, como se pudesse sentir nela a presença de um desafio que não estava disposto a recusar. Um desafio que misturava ódio, curiosidade e uma sensação que, pela primeira vez, o desconcertava.
— Isabelle Beaumont Castelier. - Murmurou com firmeza:— você vai me conhecer melhor. E talvez, quando isso acontecer, nem você nem eu saibamos onde termina a verdade e começa o jogo.
Ele se recostou na cadeira, os olhos brilhando com a determinação. A vingança e a atração começavam a se entrelaçar de maneira perigosa, mas ele não se importava.
Cada movimento seria pensado, cada palavra medida. Ela podia ser dura, mas ele não recuaria.
...xxxxxxxx...
Isabelle e o irmão chegaram na mansão C, depois do turno e entraram na sala principal da mansão, onde Jonas e Cleia já conversavam.
— Como foi a busca por um novo integrante a equipe do seu irmão, filha? - Perguntou Jonas.
— Tivemos vários. Mas eu gostei de um mãe, pai. Mas a Belle não gostou dele. - Comentou Adrian.
Isabelle respirou fundo antes de falar, mantendo o tom firme.
— Pai, mãe, sobre esse candidato, eu não sinto verdade nele. - Seus olhos violetas eram diretos e confiantes.
Jonas assentiu, apoiando a decisão da filha.
— Então seguimos sua palavra, Isabelle. Você é vice-presidente, conhece os detalhes melhor do que ninguém.
Cleia suspirou, olhando para a filha com um misto de carinho e preocupação:
— Isabelle, eu confio no seu julgamento, mas tente não fazer julgamentos antecipados. Todo mundo tem um passado e às vezes sombrio, e nem sempre conhecemos a história completa.
A filha cruzou os braços, firme, mas atenta às palavras da mãe.
— Eu entendo, mãe, mas com o currículum dele, ele pode facilmente conseguir outra vaga em outro lugar.
Cleia aproximou-se, tocando a mão da filha:
— Quando decidi morar na rua, muitas pessoas também me julgaram. Inclusive seu pai. Mas o seu bisavô, viu em mim algo que ninguém mais via: não a mulher na rua, mas a neta que lhe trouxe alegria. Hoje, você é quem é por causa da ajuda que ele me deu. A vida dá muitos “nãos”, Isabelle. Quando a pessoa se vê sem oportunidades, pode se tornar alguém completamente diferente do que poderia ter sido se tivesse recebido um “sim”.
Isabelle suspirou, com respeito, mas manteve a firmeza:
— Obrigada, mãe. Mas continuo com minha decisão.
Cleia sorriu, respeitando a escolha da filha:
— Então que seja. Vamos jantar meus amores. Adrian e Belle, não esqueçam de lavar as mãos. - Disse a matriarca.
Eles sorriram.
Enquanto isso, em um bairro longe dali, Ayden passou horas investigando os hábitos da família Castelier.
E foi assim que, ao investigar profundamente os hábitos e redes sociais descobriu um padrão curioso: todas as sextas-feiras, Cleia Castelier ia até uma cafeteria charmosa no centro da cidade, acompanhada da melhor amiga, Valéria, esposa de Oliver, o melhor amigo de Jonas.
A cafeteria ficava numa esquina arborizada, com toldos vermelhos e mesas externas de ferro trabalhado. O nome, “Café Aurora”, era pintado em letras douradas na fachada de vidro. Do outro lado da rua, havia um conjunto de prédios comerciais, pequenas empresas, startups, consultorias.
Ele estudou o mapa, observou o fluxo de pessoas, e teve uma ideia: esperaria a sexta-feira para entregar currículos nas empresas em frente à cafeteria, sabendo que Cleia estaria lá.
Ele não queria se aproximar diretamente.
Queria ser visto.
Queria que ela o enxergasse como alguém que tenta.
Então, finalmente a Sexta-feira chegou como um raio, e o dia estava claro, com o céu levemente nublado e uma brisa suave que balançava as folhas das árvores. O som dos carros passava como um murmúrio constante, misturado ao tilintar de xícaras e risadas discretas vindas das mesas ao redor.
Cleia chegou pontualmente às 15h, como sempre. Usava um vestido azul-marinho, óculos escuros e um lenço leve no pescoço. Valéria já a esperava, sentada à mesa junto à janela, com um cappuccino fumegante e um croissant pela metade.
— Você está linda como sempre. - Disse Valéria, sorrindo.
— E você também. E já começou sem mim? - Respondeu Cleia, rindo.
As duas se acomodaram. A conversa fluía com naturalidade: filhos, trabalho, lembranças. Mas Cleia, como sempre, observava o mundo ao redor com atenção.
Foi então que ela viu um rapaz atravessando a rua com uma pasta nas mãos. Alto, postura firme, expressão determinada. Ele entrou em uma das empresas do outro lado da rua.
Cleia franziu levemente o cenho.
— Olha aquele rapaz... - Disse ela, apontando com o olhar: — Bonito, bem vestido, procurando emprego. Deve ser esforçado.
Valéria olhou, curiosa.
— Jovem demais para estar tão abatido.
Minutos depois, o rapaz saiu do prédio. O semblante havia mudado: os ombros caídos, o olhar baixo, a pasta agora pendendo da mão como um peso.
Cleia observou com atenção.
— Se ele sair da próxima empresa com o mesmo olhar, eu vou ajudar esse garoto.
Valéria riu, balançando a cabeça.
— Você não muda, amiga.
Cleia sorriu, mas havia algo sério em seu olhar. Ela se lembrava de si mesma, anos atrás, sendo julgada por onde estava e não por quem era.
O rapaz entrou em mais uma empresa.
Cleia esperou.
O som das xícaras sendo recolhidas, o barulho suave do moedor de café, o aroma de pão fresco tudo parecia em segundo plano.
Ele saiu.
Mais abatido.
Mais lento.
Caminhou até uma barraca de rua, comprou um salgado e um suco, sentou-se sozinho num banco de praça e comeu em silêncio.
Cleia se levantou.
— Vamos, Valéria.
— Tem certeza? - Perguntou a amiga.
— Absoluta.
As duas atravessaram a rua.
Cleia não sabia que aquele rapaz era Ayden, o mesmo que Isabelle havia dispensado.
Mas algo nela dizia que um “sim” poderia mudar tudo para ele.
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Atualizado até capítulo 31
Comments
Marcia Mota
🥰Que surpresa boa, começando a ler a continuação dos Castelier!17/09.👏👏👏
2025-09-17
1
Dulce Gama
começando 29/09/25 parece que vai ser boa ESSA história
2025-09-20
0
Fatima Gonçalves
CARAMBA QUE MERDELE
2025-09-24
0