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Esposa Indesejada: O Legado

Capítulo 1

O currículo dele estava sobre a mesa de vidro, as letras alinhadas com perfeição, cada estágio, cada pesquisa, cada prêmio acadêmico. Isabelle cruzou as pernas, os olhos violetas fixos no rapaz à sua frente.

— Você se formou em uma das maiores universidades do país... - Disse, sem levantar a voz: — E lá mesmo há vagas sobrando para alguém com esse perfil. Então por que quer trabalhar aqui, na Castelier?

Zake respirou fundo antes de responder.

— Porque essa cidade é meu lar. Voltar foi inevitável e a empresa de sua família sempre foi uma referência para mim. - Ele hesitou, depois acrescentou com firmeza: — Admiro muito a trajetória da sua mãe.

Um sorriso curto e quase irônico surgiu nos lábios de Isabelle.

— Se está tentando ser puxa-saco, aviso logo que não vai funcionar elogiando minha mãe. Isso não garante vaga.

Ele sustentou o olhar dela, sem se abalar.

— Não é bajulação. Só falei a verdade.

Houve um breve silêncio.

Isabelle desviou os olhos para o currículo mais uma vez, como se pesasse cada palavra. Ao lado, seu irmão parecia entusiasmado, quase convencido a contratar Zake.

— Entraremos em contato, Senhor Halbrecht.- Disse Isabelle, o dispensando.

Quando Zake deixou a sala, o irmão não escondeu o interesse.

— Eu gostei dele, Belle. Ele parece dedicado e tem um currículo impressionante!

Isabelle encostou-se na cadeira, pensativa.

— Não sei, Adrian. Tem algo nele que não me convence. Fala certo, se apresenta bem, mas não sinto verdade nele.

O irmão ergueu as mãos em rendição.

— Você é quem decide. Se acha melhor, eu aceito sua palavra.

Algumas horas depois, Isabelle pegou o telefone, discou o número dele e esperou até ouvir a voz do outro lado.

"Senhor Halbrecht? Aqui é Isabelle Castelier. Obrigada pela disposição em vir até nós, mas a vaga não será preenchida por você. Espero que encontre outra oportunidade."

Antes que ele pudesse responder qualquer coisa além de um breve “entendo”, ela encerrou a ligação.

...---...

Ayden desligou o telefone, apoiando as mãos na mesa da pequena sala do apartamento na cidade.

O silêncio parecia pesado, quase palpável. Ele fechou os olhos por um instante, respirando fundo, mas não havia alívio.

— Interessante. - Murmurou para si mesmo.

Um sorriso curto, quase irônico, curvou seus lábios. Não era desprezo; era cálculo.

Ele recordou cada detalhe do encontro: o olhar firme, o tom seguro, a maneira como ela desarmava qualquer tentativa de se mostrar impressionante.

Isabelle não era fácil de manipular.

Ela lembrava muito a mãe, mas com uma intensidade própria, feroz e direta.

Ele caminhou até a janela, observando a cidade que parecia tão familiar, mas agora cheia de novas possibilidades. A lembrança do passado da família Castelier, das histórias que ouvira sobre Cleia e Jonas, misturava-se à própria memória da morte do cientista que ele um dia admirou e que, de certa forma, deixou um vazio que precisava ser preenchido.

— Então é isso. - Disse em voz baixa. — Se ela não me aceita de forma justa, vou ter que criar um caminho que me faça valer a pena.

Ele pegou um caderno do lado da cama, começou a rabiscar ideias e estratégias.

Não era apenas sobre a vaga; era sobre estar perto da família, aprender seus padrões e descobrir fraquezas.

Isabelle podia ser dura, mas ele estava acostumado a lidar com pessoas complicadas.

E ainda havia algo mais.

Um sentimento inesperado, difícil de identificar surgiu no seu peito: curiosidade, fascínio, talvez um fio tênue de atração.

Ele não negava para si mesmo, mas sabia que se se deixasse levar, perderia o controle sobre o objetivo real.

— Primeiro, ganho confiança.. - Murmurou, folheando o currículo que tinha levado: — Depois, vejo cada detalhe. Nada escapará, eu vou começar com a senhora Castelier. Ela gosta de ajudar todo mundo. Vou usar isso contra ela.

Ele fechou o caderno, olhando para a paisagem fora do quarto. Cada passo precisava ser calculado. Cada gesto de Isabelle seria observado, analisado.

Mas, no fundo, uma pergunta persistia, silenciosa e irritante: por que, mesmo sabendo do perigo, ele sentiu algo ao olhar para ela?

Ayden ergueu a mão e tocou o telefone, como se pudesse sentir nela a presença de um desafio que não estava disposto a recusar. Um desafio que misturava ódio, curiosidade e uma sensação que, pela primeira vez, o desconcertava.

— Isabelle Beaumont Castelier. - Murmurou com firmeza:— você vai me conhecer melhor. E talvez, quando isso acontecer, nem você nem eu saibamos onde termina a verdade e começa o jogo.

Ele se recostou na cadeira, os olhos brilhando com a determinação. A vingança e a atração começavam a se entrelaçar de maneira perigosa, mas ele não se importava.

Cada movimento seria pensado, cada palavra medida. Ela podia ser dura, mas ele não recuaria.

...xxxxxxxx...

Isabelle e o irmão chegaram na mansão C, depois do turno e entraram na sala principal da mansão, onde Jonas e Cleia já conversavam.

— Como foi a busca por um novo integrante a equipe do seu irmão, filha? - Perguntou Jonas.

— Tivemos vários. Mas eu gostei de um mãe, pai. Mas a Belle não gostou dele. - Comentou Adrian.

Isabelle respirou fundo antes de falar, mantendo o tom firme.

— Pai, mãe, sobre esse candidato, eu não sinto verdade nele. - Seus olhos violetas eram diretos e confiantes.

Jonas assentiu, apoiando a decisão da filha.

— Então seguimos sua palavra, Isabelle. Você é vice-presidente, conhece os detalhes melhor do que ninguém.

Cleia suspirou, olhando para a filha com um misto de carinho e preocupação:

— Isabelle, eu confio no seu julgamento, mas tente não fazer julgamentos antecipados. Todo mundo tem um passado e às vezes sombrio, e nem sempre conhecemos a história completa.

A filha cruzou os braços, firme, mas atenta às palavras da mãe.

— Eu entendo, mãe, mas com o currículum dele, ele pode facilmente conseguir outra vaga em outro lugar.

Cleia aproximou-se, tocando a mão da filha:

— Quando decidi morar na rua, muitas pessoas também me julgaram. Inclusive seu pai. Mas o seu bisavô, viu em mim algo que ninguém mais via: não a mulher na rua, mas a neta que lhe trouxe alegria. Hoje, você é quem é por causa da ajuda que ele me deu. A vida dá muitos “nãos”, Isabelle. Quando a pessoa se vê sem oportunidades, pode se tornar alguém completamente diferente do que poderia ter sido se tivesse recebido um “sim”.

Isabelle suspirou, com respeito, mas manteve a firmeza:

— Obrigada, mãe. Mas continuo com minha decisão.

Cleia sorriu, respeitando a escolha da filha:

— Então que seja. Vamos jantar meus amores. Adrian e Belle, não esqueçam de lavar as mãos. - Disse a matriarca.

Eles sorriram.

Enquanto isso, em um bairro longe dali, Ayden passou horas investigando os hábitos da família Castelier.

E foi assim que, ao investigar profundamente os hábitos e redes sociais descobriu um padrão curioso: todas as sextas-feiras, Cleia Castelier ia até uma cafeteria charmosa no centro da cidade, acompanhada da melhor amiga, Valéria, esposa de Oliver, o melhor amigo de Jonas.

A cafeteria ficava numa esquina arborizada, com toldos vermelhos e mesas externas de ferro trabalhado. O nome, “Café Aurora”, era pintado em letras douradas na fachada de vidro. Do outro lado da rua, havia um conjunto de prédios comerciais, pequenas empresas, startups, consultorias.

Ele estudou o mapa, observou o fluxo de pessoas, e teve uma ideia: esperaria a sexta-feira para entregar currículos nas empresas em frente à cafeteria, sabendo que Cleia estaria lá.

Ele não queria se aproximar diretamente.

Queria ser visto.

Queria que ela o enxergasse como alguém que tenta.

Então, finalmente a Sexta-feira chegou como um raio, e o dia estava claro, com o céu levemente nublado e uma brisa suave que balançava as folhas das árvores. O som dos carros passava como um murmúrio constante, misturado ao tilintar de xícaras e risadas discretas vindas das mesas ao redor.

Cleia chegou pontualmente às 15h, como sempre. Usava um vestido azul-marinho, óculos escuros e um lenço leve no pescoço. Valéria já a esperava, sentada à mesa junto à janela, com um cappuccino fumegante e um croissant pela metade.

— Você está linda como sempre. - Disse Valéria, sorrindo.

— E você também. E já começou sem mim? - Respondeu Cleia, rindo.

As duas se acomodaram. A conversa fluía com naturalidade: filhos, trabalho, lembranças. Mas Cleia, como sempre, observava o mundo ao redor com atenção.

Foi então que ela viu um rapaz atravessando a rua com uma pasta nas mãos. Alto, postura firme, expressão determinada. Ele entrou em uma das empresas do outro lado da rua.

Cleia franziu levemente o cenho.

— Olha aquele rapaz... - Disse ela, apontando com o olhar: — Bonito, bem vestido, procurando emprego. Deve ser esforçado.

Valéria olhou, curiosa.

— Jovem demais para estar tão abatido.

Minutos depois, o rapaz saiu do prédio. O semblante havia mudado: os ombros caídos, o olhar baixo, a pasta agora pendendo da mão como um peso.

Cleia observou com atenção.

— Se ele sair da próxima empresa com o mesmo olhar, eu vou ajudar esse garoto.

Valéria riu, balançando a cabeça.

— Você não muda, amiga.

Cleia sorriu, mas havia algo sério em seu olhar. Ela se lembrava de si mesma, anos atrás, sendo julgada por onde estava e não por quem era.

O rapaz entrou em mais uma empresa.

Cleia esperou.

O som das xícaras sendo recolhidas, o barulho suave do moedor de café, o aroma de pão fresco tudo parecia em segundo plano.

Ele saiu.

Mais abatido.

Mais lento.

Caminhou até uma barraca de rua, comprou um salgado e um suco, sentou-se sozinho num banco de praça e comeu em silêncio.

Cleia se levantou.

— Vamos, Valéria.

— Tem certeza? - Perguntou a amiga.

— Absoluta.

As duas atravessaram a rua.

Cleia não sabia que aquele rapaz era Ayden, o mesmo que Isabelle havia dispensado.

Mas algo nela dizia que um “sim” poderia mudar tudo para ele.

Capítulo 2

O sol da tarde filtrava-se entre as árvores da avenida, lançando sombras suaves sobre o asfalto quente.

O burburinho da cidade era constante: buzinas distantes, o tilintar de talheres no café, o som abafado de conversas e o chiado da máquina de espresso.

Ayden terminava seu salgado com calma, sentado num banco de praça em frente à barraca. Limpou os lábios com o guardanapo, levantou-se, pagou o rapaz com um aceno respeitoso e atravessou a rua em direção a mais uma startup. A pasta em mãos parecia mais pesada a cada rejeição.

Cleia sorriu, mas havia algo sério em seu olhar. Ela via mais do que um jovem bonito via alguém tentando.

Ela se aproximou dele que estava prestes a entrar em uma empresa.

— Rapaz?

Ele se virou, curioso.

O tom era gentil, mas firme.

Ao vê-la, ele congelou por um instante.

A mulher à sua frente tinha uma aura de presença e respeito. Os traços dela lembravam Isabelle, e ele pensou, com ironia silenciosa: “Foi essa mulher que destruiu o homem que eu admiro.”

— Pois não, senhora? - Respondeu ele, educado.

Cleia se aproximou com leveza:

— Sem querer, vi você sair abatido da empresa. Está procurando emprego?

— Estou, sim. Mas é complicado dar emprego a alguém jovem. As empresas querem experiência, não potencial.

Ela estendeu a mão.

— Posso ver seu currículo?

Ele hesitou. Valéria ao lado da amiga, interveio com um sorriso:

— Acredite. Se existe alguém que pode te ajudar com isso, é ela.

Ele sorriu sem graça, abriu a pasta e entregou o currículo.

Cleia leu com atenção e Valéria se inclinou e também ficou surpresa.

— Você tem qualificações impressionantes. - Disse Cleia: — Sei que pode parecer estranho uma mulher desconhecida chegar até você com uma abordagem tão inesperada. Mas, você pode me acompanhar?

Ayden franziu o cenho.

— Como a senhora disse, é uma abordagem inesperada. E eu preciso mesmo entregar esse currículo.

Cleia olhou para Valéria e disse com convicção:

— Ele é exatamente o tipo de pessoa que a Castelier precisa.

Ele fingiu surpresa.

— A senhora é da família Castelier?

Valéria riu.

— Criança boba. Ela é a matriarca da família Castelier. Não a reconheceu?

Ayden respondeu com calma:

— Na verdade, cheguei há pouco tempo na cidade. Fui fazer faculdade no exterior e voltei para o meu lar. Sei que, com minhas qualificações, poderia ter conseguido muitas vagas lá. Mas eu gosto de voltar para o meu lar. Porque aqui eu me sinto em casa. E não quero crescer longe da minha casa, do meu lar.

Cleia sorriu. As palavras tocaram fundo.

— Então vem comigo.

Ele hesitou, recuando um passo.

— Desculpa, senhora Castelier. Mas ontem entreguei meu currículo lá. E a vice-presidente me dispensou.

Cleia parou por um instante.

— Então você era o rapaz?

Ele sustentou o olhar dela.

— Ela não gostou de mim, correto?

Cleia riu com ternura.

— Isabelle é durona. Mas tem um coração tão puro. Guarde esse currículo e venha comigo. Eu vou te ajudar. Não posso ver um prodígio dispensado. Se eu conheci você, significa que eu preciso te ajudar.

— Sua filha pode pensar que estou usando a senhora para entrar na empresa. - Ele disse.

Cleia respondeu com firmeza:

— Isso eu resolvo com minha filha.

Valéria sorriu e disse a ele:

— Vamos, não seja orgulhoso. Ou prefere passar a tarde toda nesse sol quente entregando currículos sem respostas positivas?

Ele respirou fundo, ainda dividido.

— Tudo bem. Eu só não quero causar problemas na sua família, senhora Castelier.

Cleia sorriu, tocada pela consideração.

— O meu instinto diz que você é um bom rapaz. E normalmente eu nunca erro.

Por um instante, o coração de Ayden vacilou.

Aquelas palavras o surpreenderam.

Mas, ao mesmo tempo, acenderam uma repulsa silenciosa.

“Não vai me manipular ”, pensou.

Ainda assim, aceitou.

Ela se despediu de Valéria, que desejou alegria na nova adição dele com um abraço leve e um sorriso cúmplice e foi embora.

Ele se aproximou do carro de Cleia. Dois seguranças discretos seguiram atrás em outro veículo. Cleia, como sempre, entrou no seu próprio carro, uma SUV elegante, discreta, com interior claro e cheiro de lavanda.

Ele abriu a porta de trás, mas ela disse:

— Venha na frente, rapaz. No banco do carona.

Ele hesitou, surpreso e depois obedeceu.

Enquanto o carro seguia pelas avenidas da cidade, rumo à Castelier, Ayden olhava pela janela, atordoado.

O elogio dela ainda ecoava:

“Você é um bom rapaz. E eu nunca erro.”

Mas ele pensava:

“Ou ela é boa demais ou sabe exatamente como manipular alguém para amar a família Castelier.”

O carro deslizou pela avenida, o som abafado do motor preenchendo o silêncio inicial.

Cleia ajeitou o cinto, lançando um rápido olhar para o rapaz ao seu lado. Ele mantinha as mãos sobre os joelhos, postura ereta, como se estivesse pronto para uma guerra que ainda não havia começado.

— Então, Ayden. Desculpa, não perguntei seu nome porque já vi no currículo. Enfim, você sabe o que é a nossa empresa? - Perguntou Cleia, a voz calma, mas com interesse genuíno nos olhos.

Ele virou o rosto para ela, mantendo o tom educado.

— Sei que atuam com patentes médicas, biocinese, pesquisas avançadas e tecnologia. Mas não conheço todos os detalhes internos.

Cleia assentiu, olhando rapidamente para a rua antes de voltar a encará-lo.

— Nós trabalhamos em inovações que podem mudar a vida das pessoas. É um trabalho sério, exige dedicação mas também talento e ideias novas. - Fez uma pausa, avaliando a reação dele: — E você? O que faz de melhor?

Ele inspirou fundo, ajeitou-se no banco e começou a falar. A voz era firme, o ritmo controlado: experiências acadêmicas, projetos de pesquisa, publicações e prêmios. Não havia arrogância, mas também não havia timidez, apenas a segurança de quem sabe o próprio valor.

Ela piscou algumas vezes, visivelmente impressionada.

— E então você queria usar seu aprendizado na Castellier?

— Sim. - Respondeu, com uma breve hesitação: — Mas a vice-presidente, creio que não tenha se interessado, como mencionei antes.

Um leve sorriso curvou os lábios de Cleia, como quem compartilha um segredo.

— A vice-presidente é minha filha. Isabelle. Tem personalidade forte mas um bom coração.

Ele ergueu uma sobrancelha.

— Ela comentou sobre mim?

— Apenas disse que havia visto você. - Respondeu Cleia, sem entrar em detalhes: — Mas eu confio que você é um bom rapaz.

Por um instante, ele sentiu o coração acelerar. Respirou fundo, retomando o controle.

— Obrigado, senhora. Se tiver a oportunidade, farei o meu melhor.

O carro parou diante da entrada da empresa. Ela saiu primeiro e ele a seguiu, os olhos atentos a cada detalhe do prédio.

No laboratório, Isabelle foi chamada à sala de reuniões. Ao entrar, encontrou Ayden sentado com sua mãe. Ela não perdeu tempo:

— Foi procurar minha mãe para conseguir a vaga que eu te recusei?

Ele abriu a boca para responder, mas Cleia interveio:

— Ele vai trabalhar na empresa por indicação minha. Tem um currículo impressionante, e não acho justo desperdiçar um talento desses. E não, ele não veio me procurar, Isa. Encontrei ele entregando currículuns por acaso.

Isabelle cruzou os braços, respirando fundo.

— Aceito sua opinião, mãe, mas peço que pense com cuidado.

— Confio na sua intuição, filha.. - Disse Cleia, com um sorriso leve: — mas às vezes até a intuição falha. Ele não veio até mim; eu que o encontrei por acaso.

— Mesmo assim, apareceu justamente quando a senhora o viu por acaso, mãe. Conveniente demais, não acha? - Retrucou Isabelle, franzindo a testa.

Ele manteve o olhar firme, sem elevar o tom:

— A senhorita dispensou minha candidatura, e eu apenas procurei outras oportunidades. É natural que, buscando chances, eu apareça onde houver ocasião.

Cleia o observou por um instante, como se medisse cada palavra. Então, sorriu satisfeita.

— Muito bem. Como chefe majoritária, decido que ele trabalhe na empresa.

Isabelle respirou fundo, controlando a contrariedade.

— Aceito a decisão, mãe. Mas um vacilo, e ele está fora.

— Entendido. E obrigado, senhora Castelier, por acreditar em mim. Não vou decepcionar. - Respondeu Ayden, com a mesma compostura.

Cleia beijou o rosto da filha e murmurou:

— Pegue leve com ele, Isabelle. E o leve até o RH, você vai ver que foi a escolha certa.

O sorriso que a filha deu foi quase um desafio ao murmurar de volta para a mãe:

— Mãe, não prometo nada. Sou séria quando se trata do meu trabalho e levo a empresa muito a sério. Espero sinceramente que não tenha sido uma péssima adição para a empresa.

Ela virou-se para Ayden:

— Vamos ao RH.

Enquanto caminhavam, Cleia observou os dois e disse:

— Acho que minha filha vai se surpreender com ele, profissionalmente. Ele parece ser um belo rapaz, sim.

O elevador fechou as portas, e o silêncio que se instalou não era vazio: era o tipo de silêncio que carrega promessas de embates futuros.

Ele observava Isabelle e sorriu por dentro.

Ele havia conseguido!

Capítulo 3

A porta do RH se fechou atrás deles e Isabelle o conduziu pelo corredor amplo, iluminado por janelas altas que deixavam entrar a luz da manhã. Seus saltos batiam ritmados no piso, o som ecoando como um aviso constante.

Ayden caminhava ao lado, sério, mas com aquele ar de quem não se intimida facilmente.

Quando chegaram a uma sala envidraçada, reservada, Isabelle parou e virou-se para ele, os braços cruzados. O olhar dela era afiado como uma lâmina.

— Vou ser direta, Senhor Halbrecht. - Disse, firme: — Rostinho bonito não vai enganar ninguém aqui. Muito menos a mim.

Ele sustentou o olhar dela, sem se abalar.

— Não estou tentando enganar ninguém.

— Claro que está. - Isabelle deu um passo à frente, diminuindo a distância entre eles: — Você conseguiu a vaga usando a minha mãe. E seja qual for o motivo real de ter feito isso, eu vou descobrir. Se for algo sujo, algo que ameace a Castelier, eu vou destruir você e tudo o que um dia pensou em conquistar.

Ela não piscou, nem deixou espaço para suavizar as palavras.

Era um aviso.

Ele arqueou levemente a sobrancelha, mas o sorriso discreto que surgiu em seus lábios não era de deboche era de cálculo.

— Senhorita Castelier, se eu fosse um oportunista, como está sugerindo, eu teria feito exatamente o que disse: me escondido atrás do nome da sua mãe, teria bajulado ou me colocado no papel de coitado. Mas não fiz nada disso. Eu apenas entreguei um currículo. Quem me trouxe aqui foi ela, não eu.

Ele se aproximou um pouco, sem quebrar a compostura.

— E já que estamos sendo francos, você não precisa se preocupar em me destruir. Se eu for incompetente, seu julgamento será minha ruína. Mas se eu não for, então talvez descubra que não estou aqui para tomar nada de você, mas para somar.

Isabelle inclinou o rosto levemente para o lado e, por um instante, seus lábios se curvaram em um riso baixo, zombeteiro.

— Você fala bonito, Halbrecht. Mas na minha posição, eu já derrubei reis.

Os olhos dele brilharam com algo difícil de decifrar, talvez respeito, talvez provocação.

— Então espero que não me confunda com um deles. - Respondeu, firme.

Isabelle deu um passo atrás, voltando a se recompor e fez um gesto para a assistente que aguardava perto da porta.

— Leve o senhor Halbrecht até a sala dele. Quero o contrato pronto até o fim do dia.

— Sim, senhorita. - Respondeu a assistente.

Isabelle ainda o olhou mais uma vez, como se estivesse marcando território.

— Um vacilo, só um, e você está fora.

— Justo. - Disse ele, sem vacilar.

Ela virou-se, andando com passos decididos pelo corredor. O som de seus saltos ecoava novamente, até desaparecer.

Ele ficou em silêncio por um momento, acompanhando com os olhos o vulto da herdeira que se afastava.

Só então respirou fundo e seguiu a assistente que o levou até uma sala.

Minutos depois, a mesma assistente, uma jovem de blazer azul marinho, cabelos presos em um coque impecável e óculos de armação fina, abriu a porta da sala.

Sorriu com formalidade para ele e gesticulou com a mão.

— Senhor Halbrecht, por favor, me acompanhe. A senhora Isabelle pediu que eu o apresentasse à empresa, como protocolo.

Ele levantou-se sem pressa, ajeitando o paletó. Seu olhar vagava atento, absorvendo cada detalhe ao redor.

— Claro. - Disse com voz calma, quase ensaiada, mas carregada de uma confiança que não denunciava nervosismo.

Saíram pelo corredor largo, onde as paredes de vidro revelavam escritórios modernos, todos ocupados por funcionários concentrados em suas telas e papéis. O som dos teclados misturava-se ao de passos apressados, criando um ritmo próprio da Castelier.

A assistente apontava para cada setor com precisão.

— Aqui fica o núcleo de pesquisas avançadas em biotecnologia. - Ela indicou uma porta com acesso restrito:— Apenas doutores credenciados entram aqui.

Ele passou os olhos pela placa de aço escovado ao lado da porta e comentou:

— Imagino que seja onde guardam as jóias da coroa da empresa.

A assistente ergueu as sobrancelhas, surpresa com a escolha das palavras.

— É... de certa forma. - Prosseguiu, retomando o tom profissional:— À esquerda, temos o setor administrativo e financeiro. Logo adiante, o auditório principal.

Enquanto caminhavam, ele fazia pequenas perguntas pontuais, sempre inteligentes.

— Quantos projetos estão ativos hoje no núcleo de bioengenharia? - Ele perguntou.

— Quatorze. A maior parte em fase de testes internos. - Respondeu enfática.

— E a taxa de sucesso? - Perguntou curioso.

— Não posso dar detalhes, senhor, mas está acima da média internacional. - Ela respondeu profissionalmente.

Ele assentiu, sem insistir. A cada resposta, parecia armazenar informação em silêncio.

Depois de quase vinte minutos de tour, chegaram a um corredor mais silencioso, onde o vidro foi substituído por paredes de madeira clara.

— Aqui fica a ala de desenvolvimento aplicado. - A assistente parou diante de uma porta semiaberta: — Será o seu espaço de trabalho.

Ela empurrou a porta e deu passagem.

O ambiente era amplo, com mesas bem iluminadas por luminárias suspensas e equipamentos de laboratório organizados em bancadas. No canto direito, uma mesa já preparada, com computador ligado e um crachá deixado cuidadosamente sobre o teclado.

Zake se aproximou, pegou o crachá, leu seu nome gravado em letras prateadas e soltou um meio sorriso.

— Então é aqui que vou escrever a minha história.

— O senhor será assistente júnior de um dos nossos mais renomados biogêneses, o doutor Adrian Castelier. - A assistente manteve o tom impessoal: — Ele não está no prédio agora, mas pediu que já iniciasse sua organização e se familiarizasse com o espaço.

O nome não o surpreendeu, mas despertou nele uma pontada de cálculo frio.

Adrian, o irmão de Isabelle, era conhecido não apenas pelo talento, mas também pela generosidade no trato com os colegas.

Era a chave perfeita para o próximo passo.

— Trabalhar ao lado dele será uma honra. - Disse Zake, escondendo o verdadeiro pensamento por trás do olhar sereno.

Ele se sentou na cadeira, ajustou o monitor, abriu a pasta de arquivos que havia trazido e respirou fundo.

O projeto inacabado que carregava há meses piscava diante dele na tela. Não era apenas um trabalho.

Era o veículo da sua permanência ali, a peça que o manteria indispensável.

Enquanto a assistente se despedia, acrescentou:

— Qualquer dúvida, basta me chamar pelo ramal. Me chamo Jane. Bem-vindo à Castelier.

— Obrigado. - Respondeu ele, sem desviar os olhos do computador.

Assim que ficou sozinho, apoiou os cotovelos sobre a mesa, as mãos entrelaçadas diante do queixo. Seus pensamentos ganharam forma nítida.

Ele já tinha o apoio de Cleia. Conquistaria a confiança de Adrian. E Isabelle...

Seus lábios se curvaram em um sorriso quase imperceptível.

— Você vai pagar por cada palavra de arrogância, Castelier. - Murmurou baixo, como se testasse o peso da promessa.

Logo, o som de passos firmes ecoou no corredor. Uma batida rápida na porta.

— Senhor Halbrecht? - uma voz masculina soou do outro lado.

Ele minimizou o projeto na tela, recompôs o semblante profissional e respondeu com firmeza:

— Pode entrar.

Adrian entrou na sala.

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