Adrian o levou a sala de vidro que dava visão parcial para o corredor, ajeitando a prancheta embaixo do braço enquanto Ayden o seguia em silêncio, os olhos percorrendo cada detalhe do laboratório.
As mesas de inox estavam alinhadas, os computadores abertos com gráficos em tempo real e tubos de ensaio brilhavam sob a luz fria. A atmosfera era de precisão.
Adrian parou perto de uma bancada e virou-se para o novo assistente.
— Bem, Halbrecht, a partir de hoje você é parte da nossa equipe. Quero que se sinta à vontade para perguntar qualquer coisa. Aqui ninguém trabalha sozinho, mesmo eu sendo presidente, eu ponho as mãos na massa. - Sorriu de forma genuína.
Ayden correspondeu com um aceno contido.
— Claro. Estou pronto para aprender.
Adrian apoiou a prancheta sobre a mesa e explicou:
— Nosso foco atual é uma patente que chamamos internamente de Projeto Helix. É uma solução biogenética para regeneração de tecidos em pacientes com queimaduras extensas. Se conseguirmos apresentar resultados sólidos antes do fim do mês, teremos os investidores alinhados e prontos para injetar recursos na expansão da pesquisa.
Ayden franziu a testa, fingindo surpresa:
— Regeneração de tecidos? Isso soa grande. - Fingiu hesitar: — E qual vai ser exatamente o meu papel nisso?
Adrian deu uma leve risada.
— Você vai começar como meu assistente júnior, claro, mas não pense que isso significa apenas trazer café. Vai analisar dados, organizar relatórios, revisar os cálculos e acompanhar testes de cultura celular. É trabalhoso, mas essencial. E com o tempo, quero que participe mais ativamente nas simulações.
Ayden assentiu, os dedos tamborilando discretamente sobre o jaleco, como quem guarda a raiva para si.
— Entendido. Eu consigo lidar com isso.
Adrian fez sinal para que ele se aproximasse de uma das telas.
— Veja aqui.. - Apontou para um gráfico com curvas ascendentes e descendentes: — estamos mapeando respostas celulares a um composto que desenvolvemos. Preciso que você atualize essas planilhas com as medições do dia e cruze com os dados do laboratório B.
O rapaz puxou a cadeira e começou a digitar com agilidade. Adrian observou por um instante, impressionado.
— Você tem prática com planilhas científicas, não tem?
Ayden escondeu o sorriso e respondeu como se fosse modesto.
— Eu aprendo rápido.
Adrian sorriu satisfeito.
— Ótimo. Essa é a atitude que precisamos. Pelo visto, seremos uma ótima equipe.
Enquanto trabalhavam lado a lado, os outros membros da equipe entravam e saíam, ajustando amostras e discutindo hipóteses. Uma das assistentes, uma jovem de cabelos castanhos presos em coque e jaleco impecavelmente alinhado, chamada Lorena, se aproximou sorrindo.
— Você deve ser o novo. - Disse em tom amistoso:— Ayden, não é?
Ele levantou os olhos azuis por um instante, frios, e apenas respondeu:
— Sim.
— Eu sou Lorena, trabalho na equipe de análise genética. Se precisar de ajuda para se localizar… - Ela tentou prolongar o contato, mas ele já havia voltado a digitar, ignorando a deixa.
Adrian percebeu, mas não comentou.
Lorena se afastou constrangida, ajeitando o jaleco.
Pouco depois, Adrian voltou a se concentrar em instruí-lo.
— Amanhã, quero que me acompanhe nas reuniões de revisão. Você vai anotar tudo, porque a apresentação aos investidores é decisiva. Se não mostrarmos resultados sólidos, podemos perder parte do financiamento.
Ayden respondeu com firmeza.
— Não se preocupe. Vai ter o que precisa antes do prazo.
Adrian sorriu, satisfeito, sem perceber a chama fria de vingança que crescia no olhar do rapaz.
O rapaz desviou os olhos para os gráficos.
A cada número que digitava, sua mente voltava à lembrança sobre o homem que ele admirava que foi injustiçado pelos Castelier. Ele respirou fundo, disfarçando a tensão.
Tinha que jogar bem, conquistar a confiança de Adrian para depois arrancá-la dele.
...---...
O relógio digital da parede marcava o duas da tarde quando Adrian levou Ayden até a sala principal do laboratório depois do almoço.
O ambiente era amplo, iluminado por grandes painéis de LED e repleto de bancadas de aço inox, frascos etiquetados e telas com gráficos em constante atualização. O ar cheirava a esterilização e café recém-passado.
— Aqui é onde passamos a maior parte do tempo. - Adrian disse, enquanto colocava as luvas de látex:— Vai se acostumar com o ritmo. Nem sempre é fácil, mas é recompensador.
O rapaz observava em silêncio, os olhos azuis royal brilhando mais pela intensidade de sua raiva contida do que pela curiosidade de principiante.
Mas, no papel de assistente júnior, assentiu.
— O que você quer que eu faça primeiro? - Ele perguntou com uma calma estudada.
Adrian sorriu de lado:
— Boa pergunta. Hoje, vamos começar revisando as amostras que chegaram ontem. Depois, quero que acompanhe de perto o processo de calibração do sequenciador. É uma tarefa delicada, mas quero que aprenda.
Enquanto Adrian mostrava as telas e explicava cada etapa, Ayden se forçava a manter a expressão de alguém admirado. Na verdade, o que sentia era vontade de contestar cada palavra, socar forte o rosto daquele herdeiro odioso, mas sabia que não podia se trair.
— E essa patente de que você falou antes? - Ayden comentou, enquanto digitava os dados sob supervisão de Adrian.
— Uma nova aplicação de bioengenharia celular. - Adrian respondeu, animado:— Estamos desenvolvendo uma técnica de regeneração específica para tecidos cardíacos. Se funcionar, poderá reduzir em até cinquenta por cento as complicações pós-operatórias. - Ele respirou fundo e completou com firmeza:— Precisa estar pronta até o final do mês. Os investidores estão esperando algo sólido.
— É ambicioso. - Ayden respondeu, com um leve arquejo, como se fosse de admiração, mas era apenas cálculo.
Adrian riu:
— É a marca da Castelier. Não aceitamos nada menos do que impossível.
As horas correram rápidas, entre tarefas práticas e explicações.
Adrian não apenas distribuía ordens, mas trabalhava lado a lado com a equipe. Segurava tubos, conferia planilhas, corrigia medições. Ele não parecia um presidente intocável, e isso mexia com Ayden, que tentava manter sua máscara intacta.
Em certo momento, uma outra assistente, Clara, de cabelos loiros presos em coque, se aproximou dele.
— Você é a nova adição a equipe, não é? - Disse, inclinando-se um pouco, com um sorriso sugestivo.
Ele respondeu apenas com um aceno, voltando para o relatório que digitava, nem a olhou.
Clara mordeu o lábio e se afastou, confusa com a indiferença.
Adrian, que percebeu de longe, deu uma risada curta e se aproximou:
— Já vi que vai ser popular por aqui.
Ayden ergueu o olhar devagar:
— Não vim para fazer amigos. Meu foco é no trabalho.
— Bom.. - Adrian respondeu, ainda sorrindo: — mas às vezes os amigos ajudam a manter a sanidade nesse lugar.
...-----...
Mais tarde, na pequena sala de descanso, os dois estavam sentados com bandejas simples à frente. Adrian comia distraído, olhando anotações no tablet. Ayden, porém, aproveitou a pausa para puxar outro tipo de conversa.
— Sabe, chefe, eu li sobre a história da sua mãe nos jornais. - Ele disse em tom baixo, quase respeitoso:— Não quis comentar antes para não parecer indelicado. Mas ela foi forte. Transformar a dor em força, mudar a imagem da Castelier para biogênese dessa forma é coisa de uma empresária de sucesso.
Adrian ergueu o olhar, surpreso com a franqueza. Seus olhos ganharam um brilho de orgulho.
— Minha mãe é a mulher mais forte que já conheci. - Ele apoiou os cotovelos na mesa: — Ela denunciou crimes quando teria sido mais fácil se calar. Assumiu os riscos e pagou o preço, mas não recuou. Isabelle herdou muito disso dela.
— Imagino. - Disse Ayden fingiu um sorriso educado.
— Só que… — Adrian desviou o olhar, por um instante sério:— Eu não gosto do noivo dela. Álvaro Roblez. Acho ele superficial. Muito preocupado com status, pouco com essência. Mas como é um arranjo da família, não me oponho.
Ayden se inclinou levemente a cabeça:
— Já falou isso a ela?
— Não. - Adrian balançou a cabeça: — Não me envolvo nos assuntos pessoais dela. Isabelle sempre tomou as próprias decisões, mesmo quando parecem impostas.
— Entendo. - Disse Ayden, voltando os olhos ao prato: — É melhor deixar que ela descubra sozinha, certo?
— Exatamente.
Ayden mudou de assunto rapidamente, mantendo o tom leve, mas dentro de si, um veneno pulsava:
"Álvaro Roblez, então é esse o nome do idiota. Vou descobrir tudo sobre ele. Vou fazê-la acreditar no príncipe encantado e depois ver o coraçãozinho mimado dela despedaçado. E então eu estarei ali para recolher os cacos."
Seu sorriso falso voltou, escondendo a sombra que passava por sua mente.
Por que quem move o tabuleiro, sabe a estratégia perfeita para o cheque-mate.
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Atualizado até capítulo 31
Comments
Fatima Gonçalves
CARAMBA TINHAM QUE DESCOBRIR QUEM ELE É TAMBÉM
2025-09-24
0
Jane Silva
será que foi mesmo?
2025-09-28
0