O turno tinha sido puxado, cheio de cálculos, ajustes de fórmulas e testes no laboratório.
A equipe estava exausta, mas com a sensação de que o trabalho estava avançando. Adrian recolheu os últimos relatórios, desligou a tela principal e disse:
— Bom trabalho hoje, pessoal. Vamos encerrar por aqui, amanhã seguimos com a segunda fase.
Todos começaram a guardar seus pertences, tirando as luvas e aventais de proteção.
Ayden limpou rapidamente a bancada onde trabalhava, organizando vidrarias e ferramentas com uma disciplina quase militar. Ele não falava muito, mas a seriedade em cada gesto chamava atenção.
Adrian passou perto e bateu de leve no ombro dele.
— Se continuar assim, vai aprender rápido.
Ele respondeu com um leve sorriso, os olhos azuis brilhando sob a luz artificial.
— Só estou seguindo suas instruções.
Saíram juntos do laboratório, acompanhados de dois assistentes que conversavam animados sobre o fim do expediente.
Os dois entraram no elevador, e foi nesse momento que a cena inesperada aconteceu.
Isabelle estava ali dentro, de pé ao lado do noivo Álvaro. Ela usava um vestido preto de gola alta sob o jaleco branco, o cabelo preso de forma improvisada com um lápis, e um óculos descansava no bolso do jaleco.
A imagem dela passava seriedade, mas também elegância natural.
Álvaro foi o primeiro a falar. Com um sorriso estudado, cumprimentou Adrian.
— Adrian.
Adrian apenas murmurou um "hm" e virou o rosto, apertando a pasta contra o corpo.
O clima ficou pesado, quase palpável.
Para quebrar o silêncio, Ayden olhou para Adrian e perguntou:
— Como vamos apresentar os dados da patente? Quais detalhes acha que devemos eliminar da primeira versão?
Adrian ergueu os olhos e, por um instante, agradeceu mentalmente a intervenção de Ayden.
— Vamos revisar amanhã cedo, antes da reunião de alinhamento. Mas já tenho em mente o que podemos simplificar para não levantar perguntas demais dos investidores.
Ayden assentiu, fingindo estar alheio ao peso do momento, mas acompanhando cada gesto com atenção.
Álvaro então lançou o olhar sobre ele e, com um tom carregado de superioridade, comentou:
— Esse é o tal contratado?
Antes que Ayden pudesse responder, Isabelle interveio com firmeza.
— Álvaro, cuidado com a forma como fala com os funcionários da Castelier.
Ele a olhou, surpreso.
Havia um brilho de orgulho e de autoridade na voz dela. Mas Isabelle não parou por aí.
— Quem deve orientar ele sou eu e meu irmão. Cuide da sua área e deixe que eu cuido dos problemas.
Álvaro forçou um sorriso, apertando de leve a mão da noiva como se quisesse reafirmar sua posição.
— Eu sei, amor. Vamos à festa da Vicky?
As portas do elevador se abriram no andar térreo. Isabelle deu um passo à frente, ajustando o jaleco no corpo.
— Você sabe que ela gosta de você. Eu não vou ficar lutando por homem. Vou pra casa descansar, vá se quiser.
Álvaro inclinou-se, beijando-a na frente de todos, como quem marca território.
— Não. Vou dormir na sua casa hoje.
Isabelle sorriu de canto, quase indiferente, e seguiu com ele pelo saguão. Adrian, sério, apenas se despediu de Ayden com um aceno seco e acompanhou a irmã.
— Até amanhã.
Ficando sozinho, ele observou a cena se afastar. Seus olhos azuis refletiam uma calma falsa, porque por dentro, cada detalhe estava sendo registrado.
Ele não via apenas uma disputa de egos, via a brecha perfeita para começar a desestabilizar o noivo arrogante e a mimada herdeira que ele tanto desprezava.
Ele saiu do prédio ainda com o peso da noite nos ombros. O corpo cansado, a mente alerta. Quando entrou no táxi, recostou-se no banco com aquele olhar frio e analítico que jamais se apagava, mesmo nos momentos de exaustão. Os olhos fixos na cidade iluminada pareciam não ver as ruas, mas sim as peças de um tabuleiro invisível que ele começava a montar.
— Rua Doria, 1284. - Disse ao motorista.
O carro seguiu, e Ayden deixou o silêncio preencher o espaço. Os dedos batiam ritmados contra o joelho, como se já calculassem o próximo movimento.
O elevador com Isabelle e o noivo tinha deixado nele um incômodo.
A arrogância de Álvaro, a defesa seca da moça, o beijo exibicionista.
Cada detalhe era armazenado, pesado e classificado.
Chegando ao apartamento alugado, modesto e funcional, ele entrou sem acender todas as luzes. Apenas o necessário: a luminária da escrivaninha. Tirou o casaco, largou a mochila e ligou o computador. O brilho da tela refletiu em seu rosto, acentuando a frieza do olhar.
Digitou o nome na busca: Álvaro Roblez.
Em segundos, uma enxurrada de informações.
Primeiro, os dados básicos, herdeiro da família Roblez, conhecida por investimentos em imóveis e entretenimento. Depois, as manchetes veladas, notícias antigas, colunas sociais, fotos em festas, jantares de gala, corridas de iate.
Jovem, bonito, carismático, mulherengo, a embalagem perfeita.
Mas bastava cavar um pouco para encontrar o que a família havia se esforçado para esconder.
Escândalos abafados, acusações discretas, notas pagas para desaparecerem, bebidas exageradas, brigas, traições expostas e rapidamente encobertas.
Ayden inclinou-se para frente, os olhos fixos na tela.
— Então você não passa de um playboy mimado… - Murmurou.
Rolou mais algumas páginas até encontrar um artigo sobre o noivado.
Um gesto teatral: Álvaro ajoelhado em um iate com uma caixa com anel aberto e fotógrafos a bordo.
Isabelle estava lá, mas sua expressão era neutra e séria. Ela aceitava o pedido, mas sem o brilho típico de quem exibe um sonho realizado.
O fato mais curioso é que não havia outras fotos do casal.
Nada em redes sociais, nenhuma aparição pública juntos além daquele dia.
Isabelle não gostava de exposição.
Não gostava de fotos.
Uma sombra discreta ao lado de um homem que fazia questão de ser o centro das atenções.
Ele recostou-se na cadeira. A ponta dos dedos batia no queixo, enquanto o olhar avaliava a discrepância.
— Um casamento arranjado por conveniência? - Disse baixinho, como se falasse consigo mesmo.
Abriu uma pasta nova no computador e salvou os primeiros arquivos: fotos, recortes de notícias, nomes de colunistas que escreveram sobre os escândalos.
Estava traçado o primeiro esboço.
— Vou te expor, Roblez. E quando ela cair, vai ser no chão para minar a arrogância dela. - O tom era quase um sussurro, mas carregava a dureza de uma promessa.
Ele desligou a tela por um instante e ficou olhando a escuridão refletida no vidro da janela.
A cidade continuava viva lá fora, mas, para ele, o jogo tinha acabado de começar.
E muitos peões nesse xadrez, precisariam ser derrubados.
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Atualizado até capítulo 31
Comments
Jane Silva
ele vai quebrar a cara mas vai ser tarde
2025-09-28
0
Fatima Gonçalves
CARA PORQUE ISSO TUDO
2025-09-24
0