Capítulo 2

O sol da tarde filtrava-se entre as árvores da avenida, lançando sombras suaves sobre o asfalto quente.

O burburinho da cidade era constante: buzinas distantes, o tilintar de talheres no café, o som abafado de conversas e o chiado da máquina de espresso.

Ayden terminava seu salgado com calma, sentado num banco de praça em frente à barraca. Limpou os lábios com o guardanapo, levantou-se, pagou o rapaz com um aceno respeitoso e atravessou a rua em direção a mais uma startup. A pasta em mãos parecia mais pesada a cada rejeição.

Cleia sorriu, mas havia algo sério em seu olhar. Ela via mais do que um jovem bonito via alguém tentando.

Ela se aproximou dele que estava prestes a entrar em uma empresa.

— Rapaz?

Ele se virou, curioso.

O tom era gentil, mas firme.

Ao vê-la, ele congelou por um instante.

A mulher à sua frente tinha uma aura de presença e respeito. Os traços dela lembravam Isabelle, e ele pensou, com ironia silenciosa: “Foi essa mulher que destruiu o homem que eu admiro.”

— Pois não, senhora? - Respondeu ele, educado.

Cleia se aproximou com leveza:

— Sem querer, vi você sair abatido da empresa. Está procurando emprego?

— Estou, sim. Mas é complicado dar emprego a alguém jovem. As empresas querem experiência, não potencial.

Ela estendeu a mão.

— Posso ver seu currículo?

Ele hesitou. Valéria ao lado da amiga, interveio com um sorriso:

— Acredite. Se existe alguém que pode te ajudar com isso, é ela.

Ele sorriu sem graça, abriu a pasta e entregou o currículo.

Cleia leu com atenção e Valéria se inclinou e também ficou surpresa.

— Você tem qualificações impressionantes. - Disse Cleia: — Sei que pode parecer estranho uma mulher desconhecida chegar até você com uma abordagem tão inesperada. Mas, você pode me acompanhar?

Ayden franziu o cenho.

— Como a senhora disse, é uma abordagem inesperada. E eu preciso mesmo entregar esse currículo.

Cleia olhou para Valéria e disse com convicção:

— Ele é exatamente o tipo de pessoa que a Castelier precisa.

Ele fingiu surpresa.

— A senhora é da família Castelier?

Valéria riu.

— Criança boba. Ela é a matriarca da família Castelier. Não a reconheceu?

Ayden respondeu com calma:

— Na verdade, cheguei há pouco tempo na cidade. Fui fazer faculdade no exterior e voltei para o meu lar. Sei que, com minhas qualificações, poderia ter conseguido muitas vagas lá. Mas eu gosto de voltar para o meu lar. Porque aqui eu me sinto em casa. E não quero crescer longe da minha casa, do meu lar.

Cleia sorriu. As palavras tocaram fundo.

— Então vem comigo.

Ele hesitou, recuando um passo.

— Desculpa, senhora Castelier. Mas ontem entreguei meu currículo lá. E a vice-presidente me dispensou.

Cleia parou por um instante.

— Então você era o rapaz?

Ele sustentou o olhar dela.

— Ela não gostou de mim, correto?

Cleia riu com ternura.

— Isabelle é durona. Mas tem um coração tão puro. Guarde esse currículo e venha comigo. Eu vou te ajudar. Não posso ver um prodígio dispensado. Se eu conheci você, significa que eu preciso te ajudar.

— Sua filha pode pensar que estou usando a senhora para entrar na empresa. - Ele disse.

Cleia respondeu com firmeza:

— Isso eu resolvo com minha filha.

Valéria sorriu e disse a ele:

— Vamos, não seja orgulhoso. Ou prefere passar a tarde toda nesse sol quente entregando currículos sem respostas positivas?

Ele respirou fundo, ainda dividido.

— Tudo bem. Eu só não quero causar problemas na sua família, senhora Castelier.

Cleia sorriu, tocada pela consideração.

— O meu instinto diz que você é um bom rapaz. E normalmente eu nunca erro.

Por um instante, o coração de Ayden vacilou.

Aquelas palavras o surpreenderam.

Mas, ao mesmo tempo, acenderam uma repulsa silenciosa.

“Não vai me manipular ”, pensou.

Ainda assim, aceitou.

Ela se despediu de Valéria, que desejou alegria na nova adição dele com um abraço leve e um sorriso cúmplice e foi embora.

Ele se aproximou do carro de Cleia. Dois seguranças discretos seguiram atrás em outro veículo. Cleia, como sempre, entrou no seu próprio carro, uma SUV elegante, discreta, com interior claro e cheiro de lavanda.

Ele abriu a porta de trás, mas ela disse:

— Venha na frente, rapaz. No banco do carona.

Ele hesitou, surpreso e depois obedeceu.

Enquanto o carro seguia pelas avenidas da cidade, rumo à Castelier, Ayden olhava pela janela, atordoado.

O elogio dela ainda ecoava:

“Você é um bom rapaz. E eu nunca erro.”

Mas ele pensava:

“Ou ela é boa demais ou sabe exatamente como manipular alguém para amar a família Castelier.”

O carro deslizou pela avenida, o som abafado do motor preenchendo o silêncio inicial.

Cleia ajeitou o cinto, lançando um rápido olhar para o rapaz ao seu lado. Ele mantinha as mãos sobre os joelhos, postura ereta, como se estivesse pronto para uma guerra que ainda não havia começado.

— Então, Ayden. Desculpa, não perguntei seu nome porque já vi no currículo. Enfim, você sabe o que é a nossa empresa? - Perguntou Cleia, a voz calma, mas com interesse genuíno nos olhos.

Ele virou o rosto para ela, mantendo o tom educado.

— Sei que atuam com patentes médicas, biocinese, pesquisas avançadas e tecnologia. Mas não conheço todos os detalhes internos.

Cleia assentiu, olhando rapidamente para a rua antes de voltar a encará-lo.

— Nós trabalhamos em inovações que podem mudar a vida das pessoas. É um trabalho sério, exige dedicação mas também talento e ideias novas. - Fez uma pausa, avaliando a reação dele: — E você? O que faz de melhor?

Ele inspirou fundo, ajeitou-se no banco e começou a falar. A voz era firme, o ritmo controlado: experiências acadêmicas, projetos de pesquisa, publicações e prêmios. Não havia arrogância, mas também não havia timidez, apenas a segurança de quem sabe o próprio valor.

Ela piscou algumas vezes, visivelmente impressionada.

— E então você queria usar seu aprendizado na Castellier?

— Sim. - Respondeu, com uma breve hesitação: — Mas a vice-presidente, creio que não tenha se interessado, como mencionei antes.

Um leve sorriso curvou os lábios de Cleia, como quem compartilha um segredo.

— A vice-presidente é minha filha. Isabelle. Tem personalidade forte mas um bom coração.

Ele ergueu uma sobrancelha.

— Ela comentou sobre mim?

— Apenas disse que havia visto você. - Respondeu Cleia, sem entrar em detalhes: — Mas eu confio que você é um bom rapaz.

Por um instante, ele sentiu o coração acelerar. Respirou fundo, retomando o controle.

— Obrigado, senhora. Se tiver a oportunidade, farei o meu melhor.

O carro parou diante da entrada da empresa. Ela saiu primeiro e ele a seguiu, os olhos atentos a cada detalhe do prédio.

No laboratório, Isabelle foi chamada à sala de reuniões. Ao entrar, encontrou Ayden sentado com sua mãe. Ela não perdeu tempo:

— Foi procurar minha mãe para conseguir a vaga que eu te recusei?

Ele abriu a boca para responder, mas Cleia interveio:

— Ele vai trabalhar na empresa por indicação minha. Tem um currículo impressionante, e não acho justo desperdiçar um talento desses. E não, ele não veio me procurar, Isa. Encontrei ele entregando currículuns por acaso.

Isabelle cruzou os braços, respirando fundo.

— Aceito sua opinião, mãe, mas peço que pense com cuidado.

— Confio na sua intuição, filha.. - Disse Cleia, com um sorriso leve: — mas às vezes até a intuição falha. Ele não veio até mim; eu que o encontrei por acaso.

— Mesmo assim, apareceu justamente quando a senhora o viu por acaso, mãe. Conveniente demais, não acha? - Retrucou Isabelle, franzindo a testa.

Ele manteve o olhar firme, sem elevar o tom:

— A senhorita dispensou minha candidatura, e eu apenas procurei outras oportunidades. É natural que, buscando chances, eu apareça onde houver ocasião.

Cleia o observou por um instante, como se medisse cada palavra. Então, sorriu satisfeita.

— Muito bem. Como chefe majoritária, decido que ele trabalhe na empresa.

Isabelle respirou fundo, controlando a contrariedade.

— Aceito a decisão, mãe. Mas um vacilo, e ele está fora.

— Entendido. E obrigado, senhora Castelier, por acreditar em mim. Não vou decepcionar. - Respondeu Ayden, com a mesma compostura.

Cleia beijou o rosto da filha e murmurou:

— Pegue leve com ele, Isabelle. E o leve até o RH, você vai ver que foi a escolha certa.

O sorriso que a filha deu foi quase um desafio ao murmurar de volta para a mãe:

— Mãe, não prometo nada. Sou séria quando se trata do meu trabalho e levo a empresa muito a sério. Espero sinceramente que não tenha sido uma péssima adição para a empresa.

Ela virou-se para Ayden:

— Vamos ao RH.

Enquanto caminhavam, Cleia observou os dois e disse:

— Acho que minha filha vai se surpreender com ele, profissionalmente. Ele parece ser um belo rapaz, sim.

O elevador fechou as portas, e o silêncio que se instalou não era vazio: era o tipo de silêncio que carrega promessas de embates futuros.

Ele observava Isabelle e sorriu por dentro.

Ele havia conseguido!

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Jane Silva

Jane Silva

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Fatima Gonçalves

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2025-09-24

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