Capítulo 3 – Os Olhos do Vampiro

    A floresta estava silenciosa novamente, mas era uma quietude diferente. Não era mais o silêncio expectante e opressivo que precedera o ataque; era o silêncio absoluto que segue o trovão. O ar, outrora pesado com o cheiro de bestas e terra molhada, agora carregava um novo aroma: frio, metálico e levemente adocicado, como flores murchas e água da chuva em uma urna de mármore. Era o cheiro do homem — do vampiro — que se ajoelhava diante dela.

    Kaelina não conseguia parar de tremer. Cada tremor era uma agonia, fazendo o corte em seu braço latejar em sincronia com a marca pulsante em seu pulso. Ela estava encolhida contra as raízes nodosas do carvalho, uma lebre paralisada diante de uma serpente. Sua mente, embotada pelo choque e pela dor, mal conseguia processar a cena. Lobisomens falantes. Sombras que obedeciam ao seu terror. Sangue que brilhava. E agora... isso.

    Ezren Valek não se moveu. Sua mão, pálida e com dedos longos e elegantes, permaneceu estendida, não como uma ameaça, mas como uma oferta, um gesto de trégua congelado no ar. Seus olhos âmbar, que pareciam queimar no crepúsculo da clareira, estudavam-na com uma intensidade quase científica. Ele não parecia ter pressa. O tempo, para algo como ele, devia ser um conceito fluido.

— O ferimento — ele repetiu, sua voz um murmúrio sedoso que parecia ecoar diretamente dentro do crânio dela. — Precisa ser estancado. A menos que você queira que todo o reino sombrio de Val'Therya venha bater à sua porta esta noite. E acredite — ele acrescentou, seu olhar escurecendo por uma fração de segundo, — alguns deles seriam convidados muito piores do que eu.

Kaelina tentou falar, mas sua garganta estava seca e contraída. Tudo o que saiu foi um sussurro rouco. — O que... o que você é?

Um sorriso quase imperceptível tocou os cantos de sua boca. — Ezren. Ezren Valek. E atualmente, sou a única coisa entre você e uma existência muito curta e dolorosa. — Seus olhos pousaram novamente no seu braço. — Posso?

    Ela hesitou, seu instinto gritando para recuar. Mas o que havia por trás dela? Mais floresta, mais lobos, mais escuridão. Ele, pelo menos, havia dispersado os lobisomens com um gesto. Ele falava, não rosnava. Era uma racionalidade precária em um mar de insanidade, e ela agarrou-se a ela. Lentamente, ela esticou o braço ferido. Seus dedos eram frios como a pedra de sepultura quando tocaram sua pele. Ela conteve um arrepio. Seu tocar foi surpreendentemente gentil, quase clínica. Ele virou seu braço para examinar o corte, sua expressão impassível.

— Raso. Uma graça. O veneno deles não penetrou profundamente — ele murmurou, mais para si mesmo. Veneno? A ideia fez o estômago de Kaelina embrulhar.

    Ele então pegou algo de dentro de seu casaco escuro — um frasco pequeno de vidro âmbar, contendo um pó finíssimo que parecia brilhar com uma luz fosca. Sem cerimônia, ele polvilhou uma pitada sobre o corte. Uma sensação de frio intenso, seguida por um calor reconfortante, propagou-se pelo ferimento. A dor latejante diminuiu quase instantaneamente. Kaelina observou, maravilhada e aterrorizada, enquanto o sangramento parava e as bordas do corte pareciam se aproximar, não cicatrizando completamente, mas fechando o suficiente para não ser mais uma ameaça.

— Yarrowblood e pó de lua — ele explicou, respondendo à pergunta não feita em seus olhos. — Eficaz contra ferimentos bestiais. — Ele recuou, guardando o frasco. — A marca, no entanto... isso é outra questão.

    Seu olhar foi irresistivelmente atraído para o pulso de Kaelina. A luz prateada havia diminuído para um brilho residual, mas as linhas intricadas ainda eram visíveis, uma tatuagem viva e pulsante sob sua pele.

— Você sabe o que é isso? — ela perguntou, sua voz um pouco mais firme, embora ainda trêmula.

— Eu sei — ele disse simplesmente. Seus olhos âmbar encontraram os dela novamente, e desta vez ela viu a profundidade neles, o peso de séculos de conhecimento. — É muitas coisas. Um aviso. Um chamado. Uma sentença. E, para alguns, uma promessa.

Ele se levantou, sua altura repentinamente impressionante, projetando uma sombra longa que a engoliu. — Não podemos ficar aqui. Este lugar já está contaminado com o seu sangue e a sua energia. Eles voltarão, em maior número, e não serei capaz de detê-los sozinho.

— Para onde? — Kaelina perguntou, sentindo um novo surto de pânico. Ela não podia voltar para o vilarejo. Não depois daquilo. Não olhando daquela maneira.

— Para um lugar seguro — ele respondeu, sua voz deixando claro que "seguro" era um termo relativo. — Minha propriedade fica na fronteira entre a floresta e as terras humanas. É... discreta.

    Ele estendeu a mão novamente, desta vez para ajudá-la a levantar. Kaelina olhou para sua mão pálida, depois para seu rosto. Cada fibra de seu ser humano a alertava contra colocar sua vida nas mãos daquela criatura. Ele era predador. Ela podia sentir isso, uma aura de poder contido e perigo antigo que emanava dele como o frio. Mas então, a visão que tivera durante o frenesi voltou a ela: a sala de pedra, o símbolo do olho, a voz sussurrando seu nome. Ezren.

    E os lobisomens queriam usá-la como uma "chave". Ele, pelo menos, parecia... interessado em mantê-la intacta. Por enquanto. Com uma hesitação que fazia seus dedos tremerem, ela colocou sua mão na dele. Seu toque era firme, sua pele fria como mármore em uma manhã de inverno. Ele a puxou para cima com uma facilidade desconcertante, como se ela não pesasse mais que uma pena. Ela vacilou, suas pernas ainda fracas, e ele a segurou pelo cotovelo com uma estabilidade inabalável. O contato foi breve, mas suficiente para enviar outro calafrio por sua espinha.

— Você consegue andar? — ele perguntou, seu tom prático, quase profissional.

    Ela assentiu, não confiando em sua voz.

— Bom. Siga-me. E tente não fazer mais barulho do que o necessário.

    Ele se virou e começou a caminhar, não em direção ao vilarejo, mas paralelamente à sua borda, mantendo-se dentro da linha das árvores. Ele se movia com uma graça silenciosa que era quase sobrenatural, suas botas não fazendo um único ruído sobre a folhagem seca e os galhos. Kaelina o seguiu, seus próprios passos parecendo desajeitados e barulhentos em comparação. A jornada foi feita em silêncio. A floresta parecia segurar a respiração ao redor deles. Nenhum animal, nenhum inseto. Era como se toda a vida instintiva tivesse fugido da presença de Ezren Valek. A única coisa que Kaelina ouvia era o som de sua própria respiração ofegante e o sangue pulsando em seus ouvidos.

    Seus olhos permaneceram fixos nas costas escuras dele, sua mente uma confusão de perguntas sem resposta. Quem era ele? Por que a ajudara? O que ele queria com ela? E o que, pelos deuses antigos, ela era?

    A marca em seu pulso doía com uma dor surda e constante, um lembrete pulsante de que sua vida, como a conhecera, havia terminado. Depois de que pareceu uma eternidade, mas provavelmente não mais que vinte minutos, eles chegaram a uma cerca de pedra baixa, velha e coberta de musgo, que marcava a fronteira entre a floresta selvagem e uma terra um pouco mais domada. Do outro lado, em um pequeno vale protegido, erguia-se uma casa. Não era a cabana rústica de Kaelina, nem a mansão ameaçadora que sua imaginação temerária havia pintado. Era uma estrutura de pedra cinzenta e madeira escura, de dois andares, com uma chaminé alta e janelas estreitas e altas. Parecia antiga, profundamente enraizada na terra, como se tivesse crescido a partir dela. Havia uma sensação de solidão profunda e vigilância silenciosa emanando dela. Luzes fracas brilhavam atrás de algumas das janelas do andar inferior, lutando contra o crepúsculo que se aprofundava.

— A Morada das Sombras — Ezren disse, sua voz quebrando o silêncio pela primeira vez desde que partiram. Soou estranhamente formal, como se ele estivesse apresentando um convidado em um jantar. — Por favor, deixe suas... apreensões... do lado de fora. Elas são inúteis aqui.

    Ele abriu um portão de ferro ornamentado que não rangeu, e conduziu-a por um caminho de pedra lisa que serpenteava através de um jardim negligenciado. Ervas altas e flores noturnas de cores escuras balançavam suavemente na brisa fria da noite. A porta da frente era de carvalho maciço, marcada com runas fracas que Kaelina não conseguia decifrar. Ezren não tirou uma chave. Ele simplesmente colocou a mão na madeira, próximo à fechadura, e sussurrou uma única palavra em uma língua que soou antiga e serpentina para os ouvidos dela. Um clique suave ecoou, e a porta abriu-se para dentro.

    O ar que saía era ainda mais frio que o exterior, e carregava um cheiro complexo de velhos livros, cera de abelha, ervas secas e algo indefinivelmente antigo. Ele fez um gesto para ela entrar.

— Bem-vinda ao meu refúgio, Kaelina Veyra — ele disse, e pela primeira vez, seu nome soou estranho em sua voz, carregado de um significado que ela não compreendia. — O lugar onde seu destino, como o meu, aguarda para ser desvendado.

    Hesitante, cruzando o limiar, Kaelina sentiu que não estava apenas entrando em uma casa. Estava entrando em um novo mundo, um mundo de segredos sombrios, perigo antigo e olhos âmbar que pareciam ver direto através de sua alma. O portão de ferro fechou-se silenciosamente atrás dela, e o estalo da fechadura soou como o som de uma gaiola sendo trancada.

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