capítulo 5: O impulso

A tensão no armazém se torna palpável, cada respiração um prenúncio de violência iminente. Os capangas de Rato me cercam, seus rostos endurecidos pela brutalidade, prontos para executar qualquer ordem. Mas Rato não sabe que eu também tenho minhas cartas na manga. ´Eu não tenho medo de você, Rato´, digo, a voz carregada de desprezo. ´Você é apenas um gangsterzinho de quinta categoria, se escondendo atrás de seus capangas.´ Rato range os dentes, o rosto vermelho de raiva. ´Você vai se arrepender de ter dito isso, Cross. Meus homens vão te ensinar uma lição.´ Ele faz um sinal com a cabeça, e seus capangas avançam, cerrando os punhos. Mas antes que eles possam me alcançar, lanço uma bomba de fumaça que havia escondido sob meu casaco. A fumaça espessa se espalha pelo armazém, obscurecendo a visão e causando confusão. Aproveito a oportunidade para me mover rapidamente, desviando dos capangas desorientados. Troco socos e chutes com alguns deles, mas meu objetivo é escapar. Corro em direção à saída, a fumaça me protegendo dos tiros que começam a ser disparados. Saio do armazém, o ar fresco da noite invadindo meus pulmões.

Mas sei que não estou seguro. Rato não vai desistir facilmente. Preciso encontrar um lugar para me esconder, um lugar onde possa planejar meu próximo movimento. Penso em Milena. Ela é minha única esperança, a única pessoa em quem posso confiar. Mas aproximar-me dela é perigoso, tanto para ela quanto para mim. Victor Alphas está me caçando, e ele não hesitará em usar Milena para me alcançar. Decido arriscar. Preciso vê-la, preciso explicar a verdade. Mas antes disso, preciso limpar meu nome, provar que fui incriminado. Preciso encontrar as provas que Victor Alphas esconde, as provas que podem derrubá-lo. Mas onde procurar? Victor é esperto, ele não deixaria nada incriminador à vista.

Preciso pensar como ele, antecipar seus movimentos. Ele é um homem de poder, um homem que gosta de controlar tudo. Provavelmente, ele tem um esconderijo secreto, um lugar onde guarda seus segredos mais obscuros. Mas onde? Penso em seus negócios, em suas propriedades. A villa luxuosa, o escritório no centro da cidade, o iate ancorado no porto. Nenhum desses lugares parece adequado. Victor é muito inteligente para esconder algo importante em um lugar óbvio. Preciso pensar fora da caixa. Lembro-me de uma conversa que tive com Milena, sobre a paixão de seu pai por antiguidades. Ele coleciona artefatos raros, objetos de valor inestimável. Talvez ele esconda algo em meio à sua coleção. Decido investigar.

A villa de Victor é o lugar mais óbvio para começar. Mas entrar lá não será fácil. A segurança é implacável, e Sara, a guarda-costas leal, estará atenta a qualquer movimento suspeito. Preciso de um plano, um plano que me permita entrar na villa sem ser detectado. Mas antes disso, preciso de informações. Preciso saber tudo sobre a villa, a rotina de Victor, os pontos fracos da segurança. E só há uma pessoa que pode me ajudar: alguém de dentro da família Alphas. Alguém que odeia Victor tanto quanto eu. Alguém como Sofia, a esposa de Victor, uma mulher amargurada e desprezada, que vive em uma gaiola de ouro, aprisionada pela crueldade de seu marido. Sofia pode ser a chave para a minha vingança. Decido procurá-la.

Na penumbra da noite, a cidade pulsa com uma energia sombria, ecoando a minha própria inquietação. A decisão de procurar Sofia paira sobre mim como uma sombra, uma mistura de esperança e apreensão. Sei que ela representa um risco, uma incógnita em meio a um labirinto de traições e segredos. Mas a minha intuição grita que ela é a peça que falta no quebra-cabeças, a chave para desmantelar o império de Victor.

Dirijo-me para um bairro elegante, onde a mansão de Sofia se ergue como um farol de opulência e isolamento. A arquitetura grandiosa, os jardins impecáveis, tudo exala uma aura de riqueza e poder. Mas por trás dessa fachada de perfeição, sinto a presença de uma tristeza profunda, o peso de uma vida aprisionada.

Estaciono o carro a alguns quarteirões de distância e sigo a pé, movendo-me pelas sombras como um fantasma. A segurança é reforçada, câmeras por todos os lados, guardas patrulhando o perímetro. Preciso ser cauteloso, preciso encontrar uma brecha.

Observo a rotina da casa por alguns minutos, analisando os pontos fracos da segurança. Percebo que a área dos fundos, onde se encontra o jardim, é menos vigiada. Decido tentar por ali. Contorno a mansão, mantendo-me nas sombras das árvores. O silêncio é quebrado apenas pelo som distante de carros e o sussurro do vento.

Chego ao jardim, um oásis de beleza e tranquilidade. Flores coloridas, esculturas elegantes, fontes murmurantes. Mas a beleza do lugar não consegue esconder a sensação de solidão que emana da casa. Aproximo-me da janela do que parece ser a sala de estar. Espio para dentro, cautelosamente. Vejo Sofia sentada em um sofá, sozinha, olhando para o vazio. Seu rosto está marcado pela tristeza, seus olhos refletem uma profunda desesperança.

Sinto um aperto no coração ao vê-la assim. Ela é uma vítima, tanto quanto eu. Uma peça em um jogo cruel, manipulada por um homem sem escrúpulos. Bato levemente na janela. Sofia sobressalta-se, assustada. Olho para ela, gesticulando para que abra a janela. Ela hesita por um momento, mas a curiosidade e a desesperança parecem vencer o medo. Lentamente, ela abre a janela.

"Quem é você?", pergunta, a voz hesitante. "O que você quer?"

"Preciso da sua ajuda, Sofia", respondo, a voz baixa. "Sei que você odeia Victor tanto quanto eu. Sei que você quer se vingar."

Os olhos de Sofia se arregalam, surpresa e desconfiança se misturando em seu olhar.

"Quem te mandou?", questiona, a voz trêmula.

"Ninguém me mandou", afirmo. "Eu estou aqui por conta própria. Eu sei sobre Victor, sobre seus negócios sujos. Eu preciso de provas para derrubá-lo. E sei que você pode me ajudar."

Sofia me observa por um longo momento, avaliando minhas palavras. Vejo a esperança surgir em seus olhos, uma faísca de rebelião em meio à escuridão.

"Entre", ela diz, a voz quase inaudível. "Mas seja rápido. Se Victor descobrir, estaremos perdidos."

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