A adrenalina ainda pulsa em minhas veias enquanto corro pelas ruas escuras, a delegacia ficando para trás como um pesadelo. Sei que não tenho muito tempo antes que a caçada comece de verdade. Preciso de recursos, de um plano, e, acima de tudo, de proteção. A traição de Victor Alphas me ensinou uma lição brutal: a confiança é um luxo que não posso mais me permitir.
Mergulho em um beco mal iluminado, a escuridão me engolindo como um manto. Penso em Marcus Lin, meu contato, meu antigo aliado. Mas a imagem do sorriso de Victor paira em minha mente, envenenando cada pensamento. Lin pode estar envolvido, ou pelo menos ciente da armadilha. Não posso confiar em ninguém.
A urgência me domina. Preciso de uma arma, e rápido. Sei onde encontrar uma. Há um antigo contato dos tempos de agente, um sujeito chamado Rato, que opera nas sombras do cais. Ele não é confiável, mas é eficiente. E, no momento, é tudo que tenho.
Pego meu celular descartável, o único item que consegui salvar na fuga. Digito o número, os dedos tremendo levemente. A ligação cai na caixa postal. Droga. Ligo de novo, e de novo. Finalmente, uma voz rouca atende do outro lado da linha.
"Quem fala?", ele rosna, a voz carregada de desconfiança.
"Sou eu, Joe. Preciso da sua ajuda", respondo, tentando manter a voz firme.
Há um silêncio tenso do outro lado da linha. "Joe? Achei que estivesse morto."
"Estou vivo, e preciso de uma arma. Encontro você no cais em trinta minutos", digo, sem dar espaço para discussão. Desligo antes que ele possa responder.
O cais é um labirinto de sombras e silêncios. O cheiro salgado do mar se mistura com o odor rançoso de peixe podre. Caminho cautelosamente, os sentidos em alerta máximo. Sei que estou sendo observado. Rato não é do tipo que confia em estranhos, mesmo que sejam velhos conhecidos.
Finalmente, avisto uma figura encostada em um contêiner, envolta em fumaça de cigarro. É ele. Rato está mais velho, mais magro, mas os olhos ainda brilham com a mesma malícia de sempre.
"Você está em apuros, Joe", ele diz, jogando a bituca do cigarro no chão e pisando em cima. "A polícia está te procurando por toda parte."
"Eu sei", respondo, aproximando-me. "Preciso de uma arma, e preciso agora."
Rato me avalia com um olhar frio e calculista. "Isso vai te custar caro."
"Eu sei", repito, tirando um maço de notas do bolso. "Quanto?"
Ele sorri, revelando dentes amarelados. "Para você, meu velho amigo, o preço é um favor."
O pedido de Rato me atinge como um soco no estômago. Um favor? Com ele, nada é simples ou barato. Cada ação tem um preço, geralmente alto e sujo. ´Que tipo de favor?´, pergunto, a desconfiança gotejando em cada palavra. Rato solta uma risada rouca que ecoa no cais deserto. ´Nada demais, Joe. Só preciso de uma pequena ajuda para resolver um problema... um problema que pode me render alguns bons trocados.´ A hesitação me paralisa por um instante. Preciso da arma, mas não quero me envolver nos negócios escusos de Rato. No entanto, a raiva que sinto por Victor Alphas queima mais forte do que qualquer receio. Ele me incriminou, me usou como peão em seu jogo sujo. A sede por vingança pulsa em minhas veias.
´Que tipo de problema?´, pergunto novamente, a voz carregada de hesitação. Rato se aproxima, o rosto sombrio iluminado pela luz fraca de um lampião. ´Um certo empresário está me devendo uma quantia considerável. Ele se recusa a pagar, então preciso de alguém para... convencê-lo.´ Sei exatamente o que ele quer dizer. Tortura, intimidação, talvez até algo pior. Hesito. Não sou um assassino, mas Victor Alphas cruzou uma linha. Ele merece pagar. E talvez, ao ajudar Rato, eu consiga informações que me ajudem a derrubar Victor de vez. ´Tudo bem´, digo, a voz fria e decidida. ´Eu te ajudo. Mas quero a arma primeiro.´ Rato sorri, satisfeito.
Ele estende a mão e me entrega um pacote embrulhado em um pano sujo. Desembrulho, revelando uma pistola 9mm, fria e mortal. Verifico o carregador, sentindo o peso familiar da arma em minha mão. Me sinto um pouco mais seguro agora. ´O empresário mora em um prédio no centro da cidade´, diz Rato, entregando-me um endereço rabiscado em um pedaço de papel. ´O nome dele é Ferreira. Seja persuasivo.´ Guardo o endereço no bolso e coloco a arma no cós da calça. ´Quando você quer que eu faça isso?´, pergunto. ´Agora. Quanto mais rápido, melhor.´ Me viro para partir, mas Rato me impede. ´Joe... tome cuidado. Ferreira tem seguranças.
E ele não é do tipo que se intimida fácil.´ Agradeço a advertência com um aceno de cabeça e desapareço nas sombras do cais. A caminho do centro da cidade, começo a elaborar um plano. Invadir o apartamento de Ferreira de forma imprudente seria suicídio. Preciso ser inteligente, estratégico. Victor Alphas me ensinou a importância da paciência e da manipulação. Usarei essas lições contra ele. A imagem de Milena surge em minha mente, o rosto desapontado e magoado. Sinto um aperto no coração. Preciso limpar meu nome, por ela. E para isso, preciso derrubar Victor Alphas. O ataque contra Ferreira é apenas o primeiro passo. Uma peça em um jogo perigoso que estou prestes a jogar. E vou vencer.
O prédio onde Ferreira se esconde é um espelho da opulência que Victor Alphas tanto aprecia: imponente, com segurança visível e invisível, e um ar de inacessibilidade que desafia qualquer um a se aproximar. Analiso a fachada, procurando por pontos fracos. Câmeras de segurança por todos os lados, porteiros uniformizados, e o fluxo constante de carros de luxo indicam que a discrição não será uma opção. Respiro fundo, tentando acalmar os nervos. A adrenalina, companheira constante desde a fuga, agora se mistura com uma pitada de receio. Não posso vacilar. Rato espera o resultado do meu "favor", e Victor Alphas observa meus movimentos como um predador à espreita. Entrar pela porta principal está fora de cogitação. Preciso de um plano B, e rápido. Observo a rua lateral, mais escura e menos movimentada. Uma escada de incêndio serpenteia pela lateral do prédio, alcançando os andares superiores. Uma oportunidade.
Me aproximo da escada, verificando se há alarmes ou sensores. Nada visível. A sorte parece estar do meu lado, pelo menos por enquanto. Começo a escalar, os músculos tensos pelo esforço. A cada andar, a vista da cidade se torna mais impressionante, mas minha concentração permanece focada na tarefa em mãos. Chego ao andar onde Ferreira reside, de acordo com o endereço de Rato. A janela está fechada, mas não trancada. Forço a fechadura com a ponta da faca, deslizando a lâmina entre o vidro e a moldura. A janela se abre com um estalo quase imperceptível. Entro no apartamento, movendo-me com a leveza de um felino. A escuridão me envolve, mas meus olhos se adaptam rapidamente. O apartamento é luxuoso, decorado com móveis caros e obras de arte de gosto duvidoso.
No centro da sala, sentado em uma poltrona de couro, está Ferreira. Ele me observa com um olhar frio e calculista, uma taça de whisky na mão. Dois seguranças corpulento se posicionam atrás dele, prontos para agir. ´Joe Cross´, diz Ferreira, a voz carregada de escárnio. ´Sabia que você viria. Rato sempre cumpre suas promessas.´ Sorrio, tentando disfarçar o nervosismo. ´Você sabe por que estou aqui, Ferreira. Rato quer o que é dele.´ Ferreira solta uma gargalhada. ´Diga a Rato que venha ele mesmo me cobrar. Não tenho medo dele. Nem de você.´ A tensão no ar se torna palpável. Sei que a conversa acabou.
Saco a pistola, apontando para Ferreira. Os seguranças se movem, mas sou mais rápido. Disparo dois tiros, certeiros. Os seguranças caem no chão, inertes. Ferreira me encara, os olhos arregalados em choque. ´Você... não precisava fazer isso´, ele murmura, a voz fraca. ´Precisava sim´, respondo, aproximando-me. ´Você fez um pacto com o diabo, Ferreira. E agora, chegou a hora de pagar a conta.´
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Atualizado até capítulo 24
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