capítulo 4: O desespero palpável

A aproximação é inevitável, o silêncio da sala cortado apenas pela respiração ofegante de Ferreira e o zumbido distante da cidade lá fora. Ele tenta se levantar, mas a dor o impede, um gemido escapando de seus lábios. Aponto a pistola para sua cabeça, o metal frio contrastando com o calor da minha mão.

"Você sabe por que Rato está te cobrando", digo, a voz firme, sem qualquer traço de hesitação. "Você fez um empréstimo, gastou o dinheiro e agora se esconde atrás desses seguranças inúteis. Rato não gosta de ser ignorado."

Ferreira cospe sangue no chão, um olhar de desafio em seus olhos. "Rato é um verme. Eu não devo nada a ele."

Aperto o gatilho, mas não disparo. O click seco da arma vazia ecoa na sala, um lembrete da minha própria situação precária. Merda. Esqueci de verificar o pente.

Aproveito o momento de surpresa de Ferreira para me afastar, recarregando a arma com movimentos rápidos e precisos. Ele tenta rastejar para longe, mas eu o alcanço, segurando-o pelo colarinho.

"Você está me fazendo perder a paciência, Ferreira", digo, a voz agora tingida de irritação. "Onde está o dinheiro?"

Ele hesita, o medo finalmente tomando conta de seu rosto. "Eu... eu escondi. Em um cofre. No quarto."

Arrasto Ferreira para fora da sala, ignorando seus protestos. O quarto é tão luxuoso quanto o resto do apartamento, com uma cama enorme e um closet repleto de roupas de grife. Aponto a arma para Ferreira, ordenando que ele abra o cofre.

Com mãos trêmulas, ele digita a combinação, a porta se abrindo para revelar maços de notas e algumas joias. Pego o dinheiro, enchendo os bolsos do meu casaco.

"Isso é o suficiente?", pergunto, a voz fria.

Ferreira acena com a cabeça freneticamente, o pavor estampado em seu rosto. "Sim, sim. É tudo que eu tenho."

Hesito por um instante, considerando minhas opções. Rato me pediu para intimidar Ferreira, não para matá-lo. Mas Ferreira sabe demais, me viu, sabe que estou envolvido. Deixá-lo vivo é um risco que não posso correr.

"Sinto muito, Ferreira", digo, a voz agora carregada de um pesar genuíno. "Mas você entende, não é? Eu não tenho escolha."

Aponto a arma para sua cabeça mais uma vez, o dedo apertando o gatilho. Desta vez, não há click seco. Há apenas o estrondo ensurdecedor do disparo, seguido pelo silêncio.

Deixo o apartamento de Ferreira, o dinheiro de Rato em meus bolsos e o peso de mais uma vida em minhas costas. A noite me engole, enquanto me perco nas ruas escuras da cidade, em busca de um lugar seguro para me esconder. Preciso pensar, planejar meu próximo passo. Victor Alphas está me caçando, a polícia está me procurando, e Rato espera seu pagamento.

E, no meio de tudo isso, Milena. A imagem de seu rosto, a decepção em seus olhos, me assombra a cada instante. Preciso encontrá-la, explicar a verdade, mesmo que ela nunca possa me perdoar

A adrenalina pulsa em minhas veias enquanto me afasto do prédio, cada passo calculado para evitar olhares curiosos ou o som de meus próprios passos denunciando minha presença. A cidade se torna um labirinto de sombras e luzes, onde cada esquina pode esconder uma ameaça. Preciso desaparecer, pelo menos por um tempo. Encontro um beco escuro, o cheiro de lixo e urina impregnando o ar. Não é o lugar mais agradável, mas oferece a discrição que preciso. Sento-me em um caixote de madeira, a pistola 9mm ainda quente em minha mão. Conto o dinheiro de Ferreira, separando a parte que pertence a Rato. O restante... bem, o restante pode ser útil. Preciso de um lugar seguro, de informações, talvez até de um novo disfarce. Tiro o celular descartável do bolso, digitando o número de Rato. Ele atende no segundo toque. ´Cross?´, pergunta, a voz rouca e impaciente. ´O serviço foi feito´, respondo, a voz firme.

´Ferreira não vai mais incomodar.´ Rato solta uma risada gutural. ´Sabia que podia confiar em você. Onde está o meu dinheiro?´ ´Estou com ele´, digo. ´Podemos nos encontrar em algum lugar seguro?´ Rato hesita por um instante. ´Conheço um armazém abandonado perto do porto. Esteja lá em uma hora. E não tente me enganar, Cross. Eu tenho meus olhos em você.´ Desligo o celular, destruindo o chip e jogando o aparelho em uma lata de lixo. Rato é esperto, mas eu sou mais. Sei que ele não confia em mim, e provavelmente já está planejando me trair. Mas preciso do contato dele, pelo menos por enquanto. Levanto-me, esticando os músculos tensos. O armazém abandonado fica do outro lado da cidade, perto do porto. Preciso de um carro, e rápido.

Caminho até a rua principal, observando o tráfego. Um táxi se aproxima, o motorista distraído com o celular. É a minha chance. Abro a porta do táxi, empurrando o motorista para o banco do passageiro. Aponto a arma para sua cabeça, a voz fria e ameaçadora. ´Dirija´, ordeno. ´E não tente nada engraçado.´ O motorista, pálido e trêmulo, obedece sem questionar. Acelero pelas ruas da cidade, ignorando os sinais de trânsito e os protestos do motorista. A cada curva, sinto a adrenalina aumentar, a sensação de perigo me mantendo vivo. Chego ao armazém abandonado em tempo recorde. O lugar é um buraco imundo, com janelas quebradas e paredes pichadas. A atmosfera é densa e opressiva, o cheiro de mofo e ferrugem impregnando o ar. Deixo o motorista do táxi amarrado no banco traseiro, prometendo que ele será libertado em breve. Entro no armazém, a pistola em punho, pronto para qualquer surpresa.

Rato me espera no centro do armazém, cercado por seus capangas. Eles me observam com olhares ameaçadores, as mãos próximas às armas. ´Você demorou´, diz Rato, a voz carregada de desconfiança. ´Tive alguns imprevistos´, respondo, mantendo a calma. ´Aqui está o seu dinheiro.´ Jogo o maço de notas aos pés de Rato. Ele se abaixa para pegá-lo, contando as notas com cuidado. ´Parece que está tudo aqui´, diz, finalmente. ´Mas isso não significa que eu confio em você, Cross.´ ´Eu não espero que confie´, respondo. ´Só quero que me deixe em paz.´ Rato sorri, um sorriso frio e calculista. ´Isso não vai acontecer, Cross. Você agora faz parte do meu mundo. E no meu mundo, ninguém sai impune.´.

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