Capítulo 4 – O Primeiro Teste da Sombra
O castelo despertava silencioso, mas não menos imponente. Cada corredor parecia mais vasto do que Amara lembrava, e o eco dos seus próprios passos parecia devolver palavras que não havia pronunciado. O cristal negro pulsava levemente, como se fosse um coração vivo, guiando-a até o salão de treino.
— Hoje você terá seu primeiro teste — disse Ezryn, já esperando por ela, os olhos sérios, avaliando cada reação. — Não é apenas força ou habilidade. É controle. Controle do medo, do corpo e, principalmente, da mente.
— Que tipo de teste? — Amara perguntou, sentindo a ansiedade crescer dentro dela.
— Você vai enfrentar uma sombra consciente — respondeu Ezryn, sem rodeios. — Uma manifestação das suas próprias emoções. Ela se alimenta do medo, da dúvida e da hesitação.
Amara engoliu em seco, segurando firme o cristal.
— Uma sombra consciente… sozinha?
— Exatamente. Mas não se preocupe — disse Ezryn, desviando o olhar para Kael, que surgia de repente atrás de uma coluna escura. — Kael estará observando.
A presença dele fez o cristal pulsar mais rápido. Amara percebeu que, mesmo sem tocar nela, a sombra de Kael dominava o espaço, tornando cada passo mais pesado e cada respiração mais consciente.
— Preparada? — perguntou Kael, a voz grave reverberando pelo salão.
— Sim — respondeu Amara, embora sentisse o coração disparar.
Ezryn abriu uma porta lateral e conduziu Amara a uma câmara circular, iluminada por cristais negros que flutuavam no ar. No centro, uma sombra se formava lentamente, ondulando como fumaça, mas com contornos que lembravam mãos e olhos. Cada movimento parecia testar a coragem de Amara.
— Lembre-se — disse Ezryn, sussurrando — observe, não ataque imediatamente. A sombra reage à intenção.
Amara respirou fundo e segurou o cristal, tentando sentir a energia ao seu redor. A sombra avançou rapidamente, fazendo o chão tremer sob seus pés. Ela recuou instintivamente, mas o cristal brilhou, e uma onda de energia percorreu seu braço, fortalecendo sua postura.
— Mais confiança — murmurou Kael, surgindo ao lado dela. — Ela não atacará se você não demonstrar medo.
Amara respirou fundo novamente e avançou, espada negra em mãos. A sombra recuou, analisando cada movimento. Ela percebeu que não era apenas um teste físico: era uma batalha psicológica. Cada passo, cada gesto, refletia sua própria coragem ou insegurança.
— Você está pronta para sentir a sombra — disse Kael, a voz baixa, mas penetrante. — Concentre-se no cristal. Ele é a extensão da sua mente.
O cristal brilhou mais forte, e Amara sentiu algo novo: uma conexão direta com a sombra. Não era mais apenas algo a temer; era algo que respondia a ela. Ela movimentou a espada, e a sombra hesitou, como se reagisse à sua intenção de controlar, e não de destruir.
— Muito bem — disse Kael, surgindo na frente dela, sem encostar, mas com presença tão intensa que o ar parecia vibrar. — Mas ainda há resistência. Cada sombra tem sua própria consciência. Ela não aceitará ser dominada sem desafio.
Amara sentiu a sombra avançar novamente, agora com mais rapidez, testando seus reflexos. Ela desviou, mas dessa vez, em vez de recuar, levantou o cristal e focou sua energia. Uma luz negra pulsante emanou da pedra, atingindo a sombra e fazendo-a hesitar.
— Você está começando a entender — disse Kael, a voz tão próxima que parecia sussurrar em seu ouvido. — Mas não é apenas força ou luz. É intenção, concentração e coragem.
Amara respirou fundo, sentindo o medo e a adrenalina se misturarem. Cada movimento da sombra parecia espelhar suas próprias emoções: hesitação, dúvida, mas também determinação e curiosidade. Ela percebeu que, quanto mais focada, mais a sombra se comportava como se estivesse viva, mas sob seu comando.
— Muito bem! — exclamou Ezryn, surpresa e satisfeita. — Você está reagindo!
— Eu… estou controlando? — perguntou Amara, incrédula.
— Ainda não totalmente — disse Kael. — Mas está aprendendo a não se deixar dominar. Cada gesto, cada pensamento, cada emoção importa. — Ele se aproximou mais, os olhos penetrantes estudando cada expressão dela. — E isso… é apenas o começo.
A sombra se dissolveu em fumaça negra, deixando apenas o cristal brilhando em suas mãos. Amara sentiu uma onda de exaustão, mas também uma estranha sensação de poder. Ela olhou para Kael, que se aproximava silenciosamente.
— Você superou o primeiro teste — disse ele, aproximando-se, mas sem tocar. — Mas lembre-se: o castelo sempre observa, e a sombra nunca esquece.
— Eu senti… que poderia controlá-la — disse Amara, ofegante. — Mas e se eu falhar?
— Falhar faz parte do aprendizado — respondeu Kael, a voz grave, firme, mas quase suave. — Cada erro ensina algo. Cada sucesso prepara para o próximo desafio.
Ezryn acenou com a cabeça, aprovando a evolução dela.
— Continue praticando — disse. — Não apenas a técnica, mas a mente. A sombra reage à alma, não apenas ao corpo.
Nos dias seguintes, Amara treinou intensamente. Cada treino era mais difícil, envolvendo movimentos rápidos, concentração máxima e interação com sombras menores que surgiam de forma inesperada. Ela começou a perceber padrões, a entender sinais sutis, a sentir quando a sombra estava prestes a atacar ou hesitar.
— Você está melhorando — disse Kael certa noite, surgindo silencioso atrás dela enquanto praticava. — Mas ainda não sente completamente o elo entre o cristal, você e o castelo.
— E como eu sinto? — perguntou Amara, respirando pesadamente, mas determinada.
— Focando no que não vê — respondeu Kael. — A sombra não é apenas escuridão. Ela é medo, desejo, intenção e energia. Você precisa compreendê-la antes de controlá-la.
Amara segurou o cristal e fechou os olhos, respirando fundo. A sombra apareceu novamente, mas desta vez, em vez de reagir com agressividade, pareceu hesitar, como se estudasse cada pensamento dela. Ela movimentou a espada com calma, guiada pelo cristal, e sentiu uma conexão inédita: a sombra reagia aos seus pensamentos, não apenas aos movimentos.
— Excelente — murmurou Kael, aproximando-se, os olhos brilhando com aprovação — mas lembre-se: controle não significa possuir. Você precisa entender, harmonizar, aceitar a sombra como parte de você.
Ezryn e Lorian observavam à distância, silenciosos, mas visivelmente orgulhosos da evolução dela. Amara sentiu pela primeira vez que estava realmente se tornando parte do castelo, do reino e do poder que Kael representava.
Mais tarde, Kael a levou a uma varanda, onde a noite eterna se estendia até o horizonte, e as sombras do castelo dançavam sobre as torres.
— Hoje você aprendeu a controlar mais do que a sombra — disse ele, silencioso, contemplando a paisagem. — Aprendeu a ouvir, reagir e se conectar. Mas há mais por vir. O cristal é apenas o começo.
Amara olhou para ele, sentindo o peso das palavras e a intensidade da presença dele.
— Eu… estou pronta para o próximo passo — disse, firme, embora a ansiedade ainda brilhasse em seus olhos.
— Então venha amanhã — disse Kael, desaparecendo nas sombras com um leve sorriso — pois o próximo teste será mais do que físico. Será sua própria essência que será desafiada.
Enquanto Amara permanecia na varanda, sentindo o vento frio do castelo e o pulsar constante do cristal em suas mãos, ela compreendeu algo essencial: o medo ainda existia, mas agora havia controle, poder e conexão. Cada passo adiante seria mais difícil, mas também mais revelador. E, acima de tudo, Kael não era apenas um mestre, mas alguém que observaria cada escolha, cada gesto, e, de alguma forma, sentiria junto com ela.
A eternidade dele, a força do castelo e a ligação do cristal com ela começavam a entrelaçar destinos de maneira irreversível. Amara sabia, no fundo, que nada seria como antes, e que cada teste, cada sombra e cada olhar de Kael a aproximaria não apenas do poder, mas de algo que nem ela ainda conseguia nomear: o próprio coração das sombras.
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Atualizado até capítulo 61
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