Capítulo 2 – O Encontro
O vento frio ainda sibilava entre as árvores, carregando o cheiro úmido da terra molhada. Amara sentia cada passo como se estivesse atravessando uma névoa feita de inquietação. O cristal negro ainda pulsava em sua mão, emitindo uma luz tênue, quase hipnótica. Cada batida do coração parecia sincronizada com a vibração da pedra, como se estivesse chamando algo que ela ainda não entendia.
A figura alta continuava à distância, imóvel, observando-a com paciência infinita. Amara engoliu em seco, sentindo o medo e a fascinação disputarem espaço em seu peito. Ela queria correr, gritar, se esconder, mas uma força invisível a mantinha no lugar, aproximando-a de algo maior do que ela podia compreender.
Quando finalmente alcançou a clareira entre as árvores, a figura começou a se mover em passos lentos, mas firmes. Cada passo parecia ecoar no chão úmido, mesmo sem som. Amara percebeu que não era apenas a distância que os separava; havia algo na aura dele, uma presença tão intensa que parecia dobrar o espaço ao redor, dobrar o próprio ar.
E então, ele falou.
— Você veio.
A voz era profunda, grave e carregada de poder, como se cada palavra tivesse o peso de séculos. Amara estremeceu.
— Quem… quem é você? — conseguiu sussurrar, a voz quase engolida pelo vento.
Ele se aproximou mais, e Amara teve sua primeira visão completa: olhos que pareciam chamas contidas, um manto negro que absorvia a luz ao redor, e uma presença tão dominante que fazia o ar ao redor parecer pesado. Ele era… impossível. Não humano, mas de alguma forma tangível, real.
— Eu sou Kael — disse ele, parando a apenas alguns passos dela. — E você… você está destinada a mim.
A frase caiu sobre Amara como uma lâmina gelada. Ela recuou um passo, mas o cristal na sua mão brilhou mais forte, como se reagisse à presença dele.
— Destinada a você? — repetiu, tentando entender, tentando se agarrar a alguma lógica. — Eu… eu não sei do que está falando.
Kael inclinou a cabeça, estudando-a com atenção intensa. Cada movimento dele parecia calculado, cada gesto silencioso carregado de significados que Amara ainda não podia decifrar. Um frio percorreu sua espinha ao perceber que ele podia ver além do físico, que talvez enxergasse algo em sua alma.
— Você não sabe porque nunca foi preparada. Nunca precisou. Mas agora… chegou a hora. — Ele estendeu a mão, e Amara sentiu uma atração magnética que a fez hesitar, incapaz de resistir completamente.
A clareira parecia se comprimir, o espaço entre eles diminuindo de maneira sobrenatural. Amara percebeu que cada fibra de seu ser reagia a ele, cada pensamento e cada medo. Ela queria fugir, mas o impulso de tocar aquela mão era quase irresistível.
— Eu… não posso — murmurou, dando um passo para trás, tentando ganhar distância, mas a força que a guiava a empurrou suavemente para frente.
Kael suspirou, um som profundo que parecia ecoar dentro da própria terra. — Não há escolha. Você já está aqui, Amara. Sua vida no mundo que conhece acabou.
Antes que pudesse processar, o ar ao redor dela tremeu, e a clareira pareceu dissolver-se em sombras. O chão sob seus pés cedeu levemente, e a sensação de ser puxada para cima e para dentro tomou conta dela. Ela fechou os olhos, o cristal negro queimando levemente contra sua palma, e sentiu a realidade se distorcer. O vento não soprava mais, a chuva desaparecera, e a única luz vinha do brilho constante da pedra.
Quando finalmente abriu os olhos, estava em outro lugar. Um castelo enorme se erguia à sua frente, feito de pedra negra que parecia absorver toda a luz. Torres altas desapareciam entre nuvens escuras, e o céu acima não tinha estrelas, apenas uma noite eterna. Ela engoliu em seco. Não havia dúvida: aquele não era o mundo que conhecia.
Kael estava ao seu lado, imóvel, observando cada reação dela. Sua mão ainda estendida parecia oferecer segurança e ameaça ao mesmo tempo.
— Bem-vinda ao meu reino — disse ele, e a forma como falou fez o coração de Amara acelerar, uma mistura de medo e fascinação.
Ela olhou ao redor, absorvendo cada detalhe. O castelo parecia vivo, como se respirasse. Portões altos se erguiam como garras, e uma neblina escura se espalhava pelo chão, ondulando suavemente como se tivesse vontade própria. Ela percebeu vultos se movendo nas sombras das torres, figuras esguias que observavam silenciosamente, sem emitir som.
— Que… lugar é esse? — perguntou, a voz quase trêmula.
— Meu lar. — Kael deu um passo à frente, e Amara sentiu o chão vibrar levemente sob seus pés. — E você… também será parte dele.
A intensidade do olhar dele era esmagadora. Ela percebeu, pela primeira vez, que não estava apenas entrando em outro mundo; estava entrando na vida de alguém que havia existido por séculos. A eternidade dele contrastava com a mortalidade dela, tornando o encontro ainda mais impossível, ainda mais perigoso.
— Eu… eu não entendo — disse Amara, tentando organizar os pensamentos, mas cada palavra parecia insuficiente diante do que via. — Por que eu? Por que comigo?
Kael se aproximou, e mesmo sem tocá-la, Amara sentiu o calor de sua presença, uma pressão quase física que deixava seu corpo alerta.
— Porque você foi escolhida antes mesmo de nascer. Seu sangue, sua essência… tudo indica que você é necessária. — Ele ergueu a mão para apontar o cristal negro, que agora pulsava mais forte do que nunca. — E quando o momento chega, não há como fugir.
Amara sentiu uma mistura de terror e curiosidade. O coração dela disparava, mas havia também uma parte que queria tocar, saber, entender. Ela nunca acreditara em lendas, em magia, em pactos antigos. Mas agora, cada fibra de seu ser dizia que eram reais — e que ela estava no centro de tudo.
Kael começou a andar em direção ao castelo, gesticulando para que ela o seguisse. Amara hesitou, mas a força que a atraía era maior do que qualquer medo. Cada passo a fazia sentir como se estivesse atravessando não apenas espaço, mas também tempo, realidade e destino.
Ao se aproximarem do portão principal, ele se abriu sem esforço, revelando um hall gigantesco, com tetos altos, candelabros de ferro que pareciam feitos de ossos e paredes adornadas por tapeçarias negras que contavam histórias de batalhas antigas, reis e reis que haviam desaparecido há séculos. Cada detalhe pulsava com a sensação de eternidade e poder, algo que Amara não conseguia compreender totalmente.
— Este é o coração do meu reino — disse Kael, parando no centro do hall. — Aqui, nada é como no mundo que você conhece. Cada regra, cada lei, cada sombra… tudo tem propósito.
Amara olhou em volta, maravilhada e aterrorizada ao mesmo tempo. Ela sentiu que cada sombra observava, cada canto escondia segredos que poderiam engoli-la. Mas ainda havia Kael, a presença dele como uma âncora, assustadora e irresistível.
— E você… quer que eu fique aqui? — perguntou, tentando controlar o tremor da voz.
— Não quero que você apenas fique. Quero que compreenda. Quero que saiba que sua vida, seu destino, e tudo que você acredita ser verdade, agora pertence a algo maior. — Ele se aproximou mais uma vez, e Amara sentiu o ar vibrar com a intensidade de sua presença. — E seu coração… bem, seu coração terá de aprender a escolher.
O cristal em sua mão brilhou mais uma vez, uma luz negra que parecia conectar os dois. Amara sentiu uma onda de calor e frio ao mesmo tempo, como se tivesse tocado não apenas a pedra, mas o próprio destino.
Ela engoliu em seco, sabendo que cada passo dali para frente seria irreversível. O mundo humano que conhecia havia ficado para trás. O que a aguardava agora era desconhecido, perigoso e inevitavelmente ligado àquela figura que, mesmo sem palavras, já dominava seus pensamentos.
Kael se afastou levemente, permitindo que ela respirasse, mas os olhos dele não se desviaram. Amara percebeu, pela primeira vez, que o príncipe das sombras não apenas a havia encontrado — ele a esperava. E, de alguma forma, sempre a havia esperado.
Enquanto a noite eterna do castelo se fechava ao redor dela, Amara compreendeu que estava no limiar de algo maior do que sua imaginação podia alcançar. E naquele instante, uma certeza surgiu: sua vida nunca mais seria a mesma, e o homem diante dela, imortal e impossível, seria o catalisador de tudo.
A eternidade de Kael, o poder do cristal, e o pacto que ainda não haviam sido revelados se uniam em uma teia invisível, pronta para envolver Amara em sombras, mistérios e desejos que ela ainda não podia compreender.
E enquanto ela olhava para ele, o príncipe que existia há séculos, a pergunta que não saía de sua mente era simples, mas aterrorizante:
— Quem é você, realmente?
Kael apenas sorriu, um sorriso que não trazia conforto, mas que prometia algo profundo, perigoso e irresistível.
E a partir daquele momento, a vida de Amara e o reino das sombras se tornariam inseparáveis, para sempre.
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Atualizado até capítulo 61
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