Amigos = um convite

O duque mal deixou a empregada terminar de falar. Assim que ouviu o nome da filha e a palavra “desmaiou”, ele praticamente saltou da cadeira, o coração acelerado.

— Onde ela está?! — perguntou, já atravessando o corredor com passos firmes, quase correndo.

As portas se abriram uma após a outra, criados recuavam ao vê-lo passar, e em poucos instantes ele chegou diante do quarto de Melinda. Sem esperar anúncio, entrou.

Lá estava ela: sentada na cama, ainda pálida, mas desperta. O menino de olhos rubi permanecia ao seu lado, segurando sua mão como se temesse soltá-la.

— Melinda… — a voz do duque saiu mais baixa do que ele esperava, quase trêmula. — Está bem?

Ela levantou os olhos, surpresa. Não lembrava a última vez em que o pai havia entrado em seus aposentos — e muito menos com aquela expressão de preocupação.

— Eu… estou melhor agora, pai — respondeu, tentando soar firme.

O duque se aproximou alguns passos, como se quisesse se certificar por si mesmo de que ela realmente estava bem. O silêncio pairou por alguns segundos, até que ele pigarreou, recobrando sua postura rígida.

— Muito bem. Se já está recuperada, preciso que saiba de algo importante. Depois de amanhã é o seu aniversário.

Melinda piscou, confusa.

— Aniversário…?

— Sim. — Ele cruzou os braços. — Este ano haverá uma celebração no salão principal. Todos os nobres foram convidados. É uma ocasião importante, e você deverá estar presente.

O coração dela bateu mais forte. Em sua vida passada, nunca tivera comemorações, e o pai e sua mãe… jamais comparecera a datas como aquela. Ouvindo aquelas palavras, não sabia se sentia alegria ou um aperto estranho no peito.

....

Na manhã seguinte, Melinda já estava recuperada. O corpo ainda guardava um leve cansaço, mas nada que a impedisse de se levantar. Ao abrir a porta do quarto, no entanto, deparou-se com uma cena caótica: corredores apressados, criados tropeçando em tapetes, bandejas balançando perigosamente, tecidos esvoaçando e caixas de enfeites voando como se tivessem vida própria.

— Cuidado com esses vasos! — uma das empregadas gritava, enquanto quase colidia com um mordomo carregando uma pilha de toalhas. — O salão precisa estar impecável antes do pôr do sol!

— Já trouxeram as flores do jardim de inverno? — outro mordomo perguntava, equilibrando três buquês enormes, enquanto tentava não derrubar tudo no chão.

Melinda piscou várias vezes, boquiaberta. Em todos os cantos, parecia que o castelo havia se transformado em um circo. Ela segurou a barra de sua camisola e deu um passo atrás, tentando não se envolver na confusão.

— Isso… tudo é por causa do meu aniversário? — murmurou, mais para si do que para os outros.

Uma das empregadas mais velhas, vendo a cara de Melinda, sorriu e fez uma reverência apressada.

— Sim, senhorita Melinda. O duque quer que seja uma celebração digna de sua posição. Depois de amanhã, o salão estará repleto de nobres, todos para homenageá-la.

Melinda fechou os olhos e respirou fundo, tentando absorver a informação enquanto se esquivava de uma pilha de almofadas voadoras.

“Depois de amanhã… repletos de nobres… e eu mal consigo atravessar o corredor sem me enrolar nos tapetes!”, pensou, tentando conter um sorriso nervoso.

Ela voltou lentamente para o quarto, evitando um criado que quase caiu sobre ela. Parte dela queria rir, parte queria chorar — e parte só queria se esconder debaixo da cama.

....

Melinda estava andando no jardim e parou de repente, o coração batendo acelerado. Ela olhou para o pequeno Téo, correndo pelo jardim com aqueles olhos rubi cheios de energia e curiosidade, e uma lembrança súbita a atingiu como um choque:

“Espera… Téo… aquele Téo…”

O frio subiu pela espinha. Em suas memórias da vida passada, do mangá que tanto amava, ela se lembrou de detalhes que agora faziam sentido de um jeito horrível. Téo não era apenas o menino que ela havia salvado; ele era filho de uma empregada. Sua mãe acabaria morrendo, e, consumido pela raiva, ele cresceria culpando os Brond por tudo. Por vingança, quando adulto, ele acabaria matando o duque — seu próprio pai — e espalhando caos sobre a família.

Ela piscou várias vezes, tentando processar a informação. O menino inocente que ria e tropeçava nos próprios pés agora tinha um destino sombrio gravado na memória dela.

— Ok… respira, Melinda, respira — murmurou, tentando manter a calma, embora uma veia de pânico percorresse sua testa. — Ele ainda tem seis anos! Só… só é um menino fofo!

Mas a mente dela não parava de revisitar o mangá: todas aquelas cenas trágicas, os capítulos finais que ela tanto odiava… e Téo, com toda a fofura e inocência, prestes a se tornar o futuro “matador Brond”.

Ela respirou fundo e, num impulso meio cômico, balançou a cabeça:

— Tá, tá, vamos lá… nada de entrar em pânico agora. Não vou deixar que ele perceba que sei do futuro… por enquanto.

Téo, distraído, estava tentando subir em um tronco para alcançar uma maçã baixa. Melinda observou, tentando parecer casual, mas por dentro pensava: “Como posso ensinar esse pequeno órfão travesso sem acabar traumatizando ele… ou sem desmoronar de medo do que vai acontecer?”

Téo, distraído, estava tentando subir em um tronco para alcançar uma maçã baixa que pendia teimosamente. Seus pés escorregavam, e os braços se esticavam com esforço desajeitado.

— Téo! Cuidado! — gritou Melinda, correndo.

Num instante, ele escorregou e começou a despencar do tronco. Sem pensar duas vezes, Melinda correu e o segurou com firmeza, levantando-o no estilo “princesa”.

O menino ficou totalmente vermelho, os olhos rubi arregalados de surpresa e um leve gaguejo escapou de sua boca:

— E-É… senhorita… Melinda…

Ela piscou para ele, tentando parecer calma e casual, mas por dentro pensava:

— Esse pequeno vai me matar de susto antes mesmo de crescer…

— Está tudo bem, Téo — disse Melinda, ainda o segurando com cuidado. — Só não tente se pendurar em troncos sem supervisão, combinado?

Téo assentiu, corando ainda mais, enquanto suas mãos se agarravam timidamente aos braços dela. Melinda não pôde evitar um sorriso divertido:

— Acho que vou precisar treinar “como salvar meninos travessos sem fazê-los desmaiar de vergonha” — murmurou, quase rindo.

O momento misturava ternura, comédia e aquele leve suspense que Melinda sentia ao lembrar do futuro sombrio que a aguardava… mesmo para alguém tão pequeno e fofo como Téo.

....

Melinda parou e olhou para Téo, os olhos brilhando de animação.

— Téo, sabia que amanhã é o meu aniversário? — disse, sorrindo. — Vai ter bolo, docinhos, brincadeiras… você precisa ir!

O menino piscou algumas vezes, hesitante.

— Eu… eu não posso ir — disse, baixando o olhar. — Eu sou filho de uma empregada… não posso ir a festas dos nobres.

Melinda franziu a testa, surpresa e um pouco desapontada.

— Ah, mas por quê? Vai ser divertido! Eu quero que você esteja lá!

Téo desviou o olhar, corando levemente.

— Eu… não posso, mesmo…

Melinda suspirou, cruzando os braços e fazendo uma cara dramática.

— Que injustiça! As festas de aniversário deviam ser pra toda mundo que eu for chamar — disse, irritada com a situação e triste porque seu novo amigo não pode ir

O menino sorriu timidamente, sem saber o que dizer, e Melinda não pôde deixar de rir baixinho.

— Tudo bem, tudo bem… então vou aproveitar por nós dois! Mas saiba que vai ter um pedaço de bolo reservado para você, viu?

Melinda sorriu e estendeu a mão para ele.

— Téo, pode me chamar só de Melinda. Nós… agora somos amigos.

O menino piscou, surpreso e corando levemente.

— A-a-amigos?! — gaguejou, quase sem acreditar.

— Sim! — confirmou ela, animada, dando um leve toque de brincadeira no ombro dele.

Téo sentiu o coração acelerar. Um calor bom se espalhou pelo peito, uma sensação nova e estranha, mas agradável. Ele balançou a cabeça, tentando disfarçar, mas não conseguiu esconder o sorriso tímido.

— O-obrigado… Melinda — murmurou, ainda sentindo a estranha palpitação em seu peito.

Enquanto caminhavam pelo jardim, rindo e brincando, um movimento brusco chamou a atenção de Melinda. Dos arbustos, um lobo feroz saltou, os olhos brilhando e os dentes à mostra.

— T-Téo! — gritou ela, surpresa, sentindo o coração disparar.

Instintivamente, Melinda agarrou a mão do menino e puxou com toda a força que tinha. Corriam pelo gramado, desviando de árvores e pedras, enquanto o lobo tentava alcançá-los. Com reflexos rápidos e coragem inesperada, Melinda conseguiu desviar do ataque, e o animal sumiu nos arbustos, bufando frustrado.

Téo parou, respirando com dificuldade, os olhos arregalados. Ele olhou para Melinda, ainda sem dizer nada.

— Téo? — perguntou ela, preocupada. — Está tudo bem?

O menino respirou fundo, ergueu o punho e falou com intensidade que fez Melinda quase rir de surpresa:

— Senhorita… eu… você já me salvou três vezes! E agora… eu quero retribuir. Prometo que quando eu crescer, vou pagar esse favor!

Melinda piscou, surpresa, mas logo sorriu e se agachou para ficar na altura dele.

— Então, Téo… fique mais forte, para que possa cumprir essa promessa! — disse, com leveza, mas firmeza no olhar.

O menino corou intensamente, desviando o olhar, o coração acelerado, sem conseguir esconder a mistura de determinação e timidez.

Os dois continuaram caminhando até chegarem a um lugar tranquilo do jardim. Sentaram-se na grama, o sol da tarde atrás deles iluminando suavemente os cabelos e criando um halo dourado em volta de suas silhuetas.

Sem precisar de mais palavras, ficaram ali, lado a lado, sentindo a brisa, o calor do sol e a estranha sensação de segurança e cumplicidade que compartilhavam.

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Comments

Rafaela Braga

Rafaela Braga

não entendi o duque é pai de teo?

2025-09-04

1

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