Aula de etiqueta = Ato de heroísmo

O bolo desmanchava na boca de Melinda, mas sua mente estava distante. A cada garfada, lembranças da vida passada invadiam sua cabeça: o caixão branco, a lembrança de quando seu padrasto havia tentado várias vezes feri-la, de quando sua mãe nunca acreditava nela… Mas, para ela, o pior foi perceber que Helena apenas fingia uma amizade por pena, quando na verdade a odiava.

Ela fechou os punhos embaixo da mesa.

Nunca mais. Eu não serei desprezada. Nunca mais serei vista como inútil ou descartável. Nessa vida, eu vou provar meu valor.

— Melinda — a voz do duque cortou seus pensamentos.

Ela ergueu os olhos, surpresa por ele falar primeiro.

— S-Sim, pai?

Ele a observava em silêncio, como se tentasse decifrá-la.

— Você… está diferente.

Melinda piscou, nervosa.

— Diferente… bom ou ruim?

O duque levou o cálice aos lábios, pensativo.

— Ainda não sei. Mas… talvez seja bom.

O coração dela disparou. Aquela resposta seca e dura era, na verdade, uma brecha. Uma porta que poderia se abrir se ela insistisse.

— Então vou me esforçar para que seja bom — respondeu, sorrindo.

Por um instante, o duque desviou o olhar, e ela jurou ver a sombra de um sorriso em seus lábios. Mas logo a frieza voltou.

— Termine logo seu café, temos compromissos hoje.

— Compromissos? — Melinda inclinou a cabeça.

— Sim. Sua tutora de etiqueta chegará mais tarde. É hora de você começar a se portar como uma verdadeira dama da Casa Brond.

Melinda engoliu seco.

Etiqueta? Eu mal sei andar sem tropeçar, quanto mais equilibrar livros na cabeça!

Mesmo assim, ela sorriu.

— Entendido, pai. Vou dar o meu melhor.

...

Mais tarde naquele dia

O quarto de Melinda estava cheio de vestidos, sapatos envernizados e uma empregada ocupada em arrumar tudo. Melinda observava pelo espelho, perdida em pensamentos.

No mangá, é aqui que começa a descida de Melinda. Ela fica cada vez mais isolada, fria e arrogante… até que a protagonista aparece e todos passam a odiá-la. Não… eu não vou repetir esse destino.

A porta se abriu, e uma mulher de aparência elegante entrou. Seu olhar era sério, mas educado.

— Senhorita Melinda? Sou sua tutora de etiqueta, Madame Clarisse. A partir de hoje, irei moldá-la para que se torne uma dama digna de sua posição.

Melinda engoliu em seco.

E lá vamos nós…

O salão de treino era amplo, com cortinas bordadas e um tapete grosso que abafava os passos. Sobre a mesa, uma pilha de livros finos e pesados aguardava sua nova dona.

— Muito bem, senhorita Melinda — disse Madame Clarisse, batendo a bengala levemente no chão. — A postura é a base de toda dama. Ombros eretos, queixo erguido, e equilíbrio perfeito. Vamos começar.

Dois livros foram colocados sobre a cabeça de Melinda. Ela respirou fundo.

Ok… não é tão difícil… só preciso… andar em linha reta…

Deu o primeiro passo. O segundo. No terceiro, os livros despencaram com um estrondo.

— Céus, senhorita! — exclamou a empregada, correndo para pegar os livros. — A senhorita não consegue nem andar?

Melinda sorriu sem graça.

— Hahaha… parece que não.

Madame Clarisse suspirou, mas seus olhos brilharam com certo interesse.

— Ao menos a senhorita está tentando. Estou surpresa que ainda não saiu daqui batendo o pé

As palavras a fizeram congelar por um instante.

Acho que na história original, Melinda odiava as aulas de etiqueta, via aquilo apenas como correntes que a prendiam ainda mais em um mundo que a sufocava.

Determinada, ela ergueu a cabeça.

— Eu vou conseguir, Madame. Prometo.

E tentou novamente. E novamente. E novamente. Cada vez que os livros caíam, Melinda os recolhia sem reclamar, até que, após incontáveis tentativas, conseguiu atravessar o salão inteira sem deixar nada cair.

— Consegui! — ela abriu um sorriso genuíno, quase infantil.

A empregada a observava boquiaberta.

— Céus… quem diria que a senhorita Melinda poderia sorrir assim…

Madame Clarisse, por sua vez, escondeu um pequeno sorriso atrás do leque.

— Muito bem, senhorita. Talvez ainda haja esperança para a senhorita se tornar uma verdadeira dama.

Melinda, ofegante mas feliz, pensava: Um tropeço de cada vez até que lady Melinda conquiste o mundo

....

A aula de etiqueta finalmente terminou, e Melinda decidiu ir ao jardim para pegar um pouco de ar.

— AAA, finalmente terminei! — exclamou, soltando um suspiro de alívio. Caminhou lentamente entre os canteiros floridos, sentindo o vento fresco tocar seu rosto. O perfume das flores e o som dos pássaros ajudavam-na a relaxar.

Ela se deitou sob a sombra de uma grande árvore, fechando os olhos, prestes a adormecer. Mas um grito cortou o ar:

— SOCORRO! SOCORRO! ALGUÉM ME AJUDE!

O coração de Melinda disparou. Ela se levantou rapidamente, os olhos arregalados, e correu na direção da voz desesperada.

Ao chegar mais perto, viu o lago agitado. Um menino, visivelmente mais jovem que ela, lutava para não ser engolido pela água. Seus braços se agitavam freneticamente, e sua cabeça desaparecia sob a superfície a cada instante.

Sem pensar, Melinda pulou no lago. O choque do frio a fez engolir água imediatamente, e o pânico tomou conta dela: ela não sabia nadar. Nunca havia entrado em um rio ou lago antes, e agora estava cercada por água profunda e correnteza traiçoeira.

— Fique calmo! Eu vou te salvar! — gritou, embora sua voz tremesse de medo.

O menino olhou para ela com olhos aterrorizados, e isso deu a Melinda um impulso desesperado. Ela esticou os braços, conseguindo finalmente agarrar seu braço. Cada movimento exigia esforço extremo; a água parecia puxá-los para baixo a cada instante.

Com respirações rápidas e movimentos desesperados, Melinda conseguiu empurrar o menino para a margem. Suas mãos arrastavam-no pela lama e pelas pedras, até que ambos finalmente tocaram terra firme. O menino caiu de joelhos, ofegante, e olhou para ela com gratidão e alívio.

— Está… está tudo bem… — disse Melinda com dificuldade, tentando sorrir.

Mas o esforço, o frio e o choque físico cobraram seu preço. Seu corpo não aguentou, e antes que pudesse respirar plenamente, Melinda desabou, inconsciente, sobre a grama, junto do menino salvo.

— Senhorita… senhorita, por favor, não morra! — gritou, a voz tremendo. Ele estendeu a mão, mas hesitou, sem saber como ajudá-la.

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Comments

Ánh sáng

Ánh sáng

O amor presente na história me fez acreditar novamente.

2025-09-01

1

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