Na manhã seguinte, o sol iluminava suavemente o quarto, quando a porta se abriu devagar. Uma empregada entrou com uma bandeja de chá e pão fresco. Ao lado dela estava o menino que Melinda havia salvado.
Ele parecia ter uns seis anos. Seus olhos rubi brilhavam como brasas vivas, cheios de curiosidade e timidez. Os cabelos castanhos claros caíam em ondas suaves sobre a testa, contrastando com sua pele clara como porcelana. Vestia roupas simples, mas bem cuidadas, e segurava firme na saia da empregada, como se ainda tivesse receio de se afastar.
— Senhorita Melinda, vejo que acordou. Graças aos céus! — disse a empregada, aliviada, colocando a bandeja sobre a mesinha de madeira. — Foi esse pequeno quem insistiu em ficar por perto. Ele ajudou a chamar socorro e não quis desgrudar um só instante.
O menino corou e desviou o olhar, mas, com um passo hesitante, se aproximou da cama.
— S-senhorita… está se sentindo melhor? — perguntou, a voz suave, quase tímida.
Melinda o encarou por alguns instantes. A imagem dele se debatendo no lago ainda lhe causava um nó na garganta, mas agora, em segurança, parecia outro. Seu rosto delicado trazia uma gratidão silenciosa que a fez sorrir.
— Estou bem, obrigada a você — respondeu com ternura. — Mas e você? Está machucado?
Ele balançou a cabeça rapidamente, e os olhos rubi brilharam, como se aliviados por ouvir aquelas palavras.
A empregada observava de perto, emocionada. Melinda, no que lhe concerne, estendeu a mão e afagou de leve os cabelos úmidos do garoto. Não precisava de palavras grandiosas naquele instante — o gesto falava por si só.
O menino baixou a cabeça, envergonhado, enquanto Melinda continuava a passar a mão em seus cabelos macios. As bochechas dele ficaram coradas, e seus lábios se contraíram num muxoxo infantil.
— E-ei… não precisa me tratar como uma criança… — murmurou, quase inaudível.
Melinda arqueou uma sobrancelha, surpresa. Então riu baixinho, um riso leve que quebrou a tensão do quarto.
— Ora, mas você não passa de um garotinho… — provocou, apertando de leve a bochecha dele. — E eu sou a mais velha aqui, certo?
Ele levantou o olhar rubi, ofendido e tímido ao mesmo tempo.
— Só dois anos! — retrucou com firmeza, tentando soar maduro, mas a voz suave e infantil o traía. — Não é justo me tratar assim!
A empregada, que observava a cena de lado, levou a mão à boca para conter o riso. Melinda, por sua vez, piscou de maneira brincalhona.
— Dois anos ou dez, você ainda é só uma criança para mim — disse em tom carinhoso. — E, a partir de agora, vou cuidar para que nunca mais corra perigo sozinho. Mas afinal qual é o seu nome?
O menino desviou o olhar, emburrado, mas não se afastou. Pelo contrário, deixou-se ficar ao lado da cama, ainda ruborizado, enquanto Melinda continuava a lhe fazer cafuné — Meu nome é Téo
— Téo? Mais que nome mais bonito
A empregada observava a cena em silêncio, os olhos arregalados. Aquela não era, de forma alguma, a mesma jovem que os corredores da mansão descreviam em cochichos.
"Senhorita Melinda? Fazendo carinho em alguém? E ainda por cima em uma criança?”, pensava, surpresa. Costumava ouvir que a filha do duque era altiva, mimada, fria… incapaz de mostrar afeto até mesmo com quem lhe servia.
No entanto, diante dela estava uma moça de olhar suave, sorrindo com ternura, tratando aquele garotinho como se fosse seu próprio irmão. Era como se estivesse vendo uma versão completamente diferente da Melinda que conhecia.
— Senhorita… — murmurou a empregada, hesitante, quase sem acreditar. — É… é bom vê-la sorrindo assim.
Melinda ergueu o rosto, surpresa com a observação. Então deu de ombros e riu baixinho, ainda acariciando os cabelos castanhos claros do menino.
O menino, ainda vermelho, tentou disfarçar a vergonha, mas seu coração batia acelerado. Aquela senhorita, que para todos era temida e mal compreendida, agora o tratava com uma gentileza que ele jamais esqueceria.
A empregada desviou o olhar, tentando esconder o próprio sorriso. Pela primeira vez, pensou que talvez a fama da jovem não fosse tão verdadeira quanto diziam… ou, quem sabe, estava presenciando um lado de Melinda que ninguém jamais ousara enxergar.
Nos dias seguintes, a recuperação de Melinda correu tranquila. O menino sempre aparecia para visitá-la, trazendo flores colhidas no jardim ou apenas se escondendo atrás da saia da empregada, que já não estranhava mais aquela cena.
A cada dia, a mulher reparava mais nos detalhes. Melinda não apenas aceitava a companhia do garoto como se preocupava de verdade com ele — perguntava se havia comido, se estava estudando, se tinha dormido bem. Pequenos gestos que não combinavam com a imagem de “vilã arrogante” que os corredores viviam espalhando.
Uma tarde, quando Melinda pegou discretamente uma maçã da bandeja e a entregou ao menino, sorrindo ao vê-lo morder com entusiasmo, a empregada se pegou mordendo o lábio.
“Se as outras donzelas da casa vissem isso… ninguém acreditaria”, pensou.
Certa vez, ao descer até a cozinha, ouviu duas criadas rindo e cochichando:
— Aposto que a senhorita Melinda deve ter surtado com a confusão do lago.
— Ah, com certeza! Aquela mimada jamais teria coragem de ajudar alguém…
A empregada parou na porta, hesitou por um instante… mas, surpreendendo até a si mesma, ergueu a voz:
— Vocês estão enganadas. — As duas mulheres se calaram, surpresas. — A senhorita Melinda arriscou a própria vida para salvar aquele menino. Se não fosse por ela, ele não estaria mais entre nós.
As criadas se entreolharam, sem jeito. Não ousaram responder.
Enquanto voltava para os aposentos, a empregada percebeu que, pela primeira vez, sentia orgulho de trabalhar para Melinda. Talvez todos estivessem apenas cegos, julgando-a por rótulos e rumores.
E naquele instante, prometeu em silêncio:
“Enquanto eu estiver aqui, não deixarei ninguém falar mal dela sem saber a verdade.”
No fim da tarde, a notícia finalmente chegou aos ouvidos do duque. Ele estava em seu escritório, cercado de papéis e relatórios, quando a empregada pediu permissão para entrar.
— Com licença, Vossa Excelência… preciso relatar algo que ocorreu com a senhorita Melinda.
O duque ergueu os olhos, impaciente. — O que foi desta vez? — perguntou em tom frio, já esperando ouvir sobre algum capricho ou escândalo da filha.
Mas a resposta o surpreendeu:
— Ela… salvou um menino que havia caído no lago. Arriscou a própria vida, mesmo sem saber nadar. Se não fosse por ela, certamente ele teria morrido.
Por um instante, o silêncio se espalhou pelo escritório. Então, como se tivesse levado um choque, o duque empurrou a cadeira para trás e se levantou de súbito, derrubando-a no chão.
— O quê?! — a voz ecoou mais alta que o esperado. — Melinda?!
— S-sim, senhor! — respondeu a empregada, assustada. — Eu mesma a socorri, ela chegou a desmaiar na margem!
O coração do duque disparou. Sem pensar duas vezes, ele atravessou a sala a passos largos e saiu pelos corredores quase correndo. O barulho de suas botas ecoava pelas paredes, chamando a atenção de criados que jamais o tinham visto apressar-se daquela forma.
“Ela desmaiou… Melinda…” — repetia em sua mente, a cada passo mais aflito.
Quando chegou diante da porta do quarto da filha, hesitou por um segundo, tentando controlar a respiração acelerada. Mas ao ouvir uma risadinha fraca e suave do outro lado — o som delicado de Melinda — abriu a porta de repente.
Lá estava ela: ainda deitada, mas sorrindo ao lado de um menino de olhos rubi.
O duque parou na soleira, o peito arfando. Pela primeira vez em muitos anos, não soube o que dizer. Apenas sentiu o alívio quente se espalhar por dentro, sufocando qualquer palavra.
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Atualizado até capítulo 26
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