Meus primeiros dias na escola, não foram nada demais, fico afastada dos demais alunos, quero ser discreta, estou me dando muito bem nas lutas, o professor disse que se eu quiser posso até ir a campeonatos. Os dias são tranquilos, no final de semana meus avós me mostram como tocar a fazenda, cuidando dos animais e da plantação, meu avô me ensinou a montar em um cavalo muito simpático. Sempre tem alguns alunos na escola que tentam me provocar, mas sempre deixo passar, estou muito focada em melhorar para perder tempo com crianças burras e inúteis. Estou andando pelos corredores sozinha, quando sou parada por três garotas, vamos chamá-las de princesinhas.
-Veja se não é a garota pobre e órfão. (Disse uma delas)
-Veja se não é o trio do desespero. (Falei)
-Como? (Uma delas perguntou)
-Desespero por atenção é lógico, o que vão fazer é chamar seus pais, derrubar meus cadernos no chão, não chega perto do que posso fazer com vocês.
-A escola é nossa, nossos pais estão no conselho, mandamos aqui. (Disse uma delas)
-Isso é o máximo que podem fazer, eu posso acabar com vocês apenas com meu punho, sem ajuda, e a propósito se falarem para o conselho sobre mim vão saber que sou a melhor atleta desta escola, e que querem me mandar para o campeonato, tenho certeza que os pais de vocês vão colocá-las de castigo. Afinal, estão ameaçando a estrela dessa escola.
-Estrela, tem várias dessas por aí. (Uma garota falou me dando um empurrão)
-Não como eu, veja bem, antes de fazer qualquer coisa, fale com o diretor sobre mim. (Abro caminho por elas e sigo em frente)
Poderia ter batido nelas, mas no máximo me traria uma expulsão, não quero que meus avós passem por isso, ter perdido a filha já foi duro demais, eu sou o que resta á eles.
Quando volto a noite para casa minha avó já está com o jantar pronto e um bolo recém saído do forno, dá para perceber que estão bem cansados, preciso ajuda-los mais, não quero perdê-los também.
-Como foi o dia hoje, Mel? (Minha avó perguntou)
-Foi tranquilo, nada com que se preocupar.
-Está gostando daquela escola? Se não estiver, podemos tirá-la. (Meu avô perguntou)
-Estou sim, que outra escola tem tantas aulas extras?
-Não está sendo demais querida?
-Não vovó, estou me dando bem, as lutas são parecidas, e a lógica é fácil pra mim, o que ajuda no resto. (Dou uma garfada na comida)
O jantar acaba e vou para o meu quarto estudar um pouco, estou gostando dos códigos que tenho aprendido nas aulas de informática. Parece tão fácil, me dedico muito, afinal preciso de uma mente afiada, isto me ajuda a focar em tudo que preciso.
Meus avós são ótimos para mim, me tratam como seu eu fosse um tesouro e confesso que em alguns momentos até penso em viver uma vida normal, mas todas as noites quando deito em meu travesseiro me vem a lembrança do meu pai sendo morto na minha frente, o corpo ensanguentado do meu irmão, consigo até lembrar do odor metálico do sangue.
Estou muito focada nas lutas, preciso aprender tudo que puder para me proteger, assim que minha jornada começar não vou parar até matar ou ser morta. Tenho treinado minha mira com uma velha espingarda da fazenda, foi bem legal meu avô me ensinar a usá-la, rimos bastante a mira dele é horrível. Estou vivendo uma boa vida como Melissa, confesso que às vezes esqueço meu verdadeiro nome.
O tempo vai passando, semanas, meses, anos, finalmente estou pronta com vinte anos já posso seguir o meu plano, mas algo ainda me segura, meus avós, não quero deixá-los sozinhos, nosso vizinho Moacir já faleceu a um ano, foi uma grande perda para todos, estou fazendo até uma faculdade on line no ramo da tecnologia, consigo projetar e invadir um sistema como ninguém. Um barulho na porta do quarto me tira do transe.
-Mel, pode ajudar seu avô com os cavalos, estão dando muito trabalho hoje.
-Claro vovó, vou só trocar de roupa.
Troco de roupa, boto minha bota e vou em direção a criação dos cavalos, lá está meu velho avô escovando o pelo do maior cavalo que temos, relâmpago. Ele tem o costume de fazer isso todos os dias, diz que o pelo fica mais bonito, queria que ele cuidasse do cabelo dele assim também, está sempre com seu cabelo desgrenhado, parece aqueles cientistas malucos dos filmes. Mas está sempre com um lindo sorriso no rosto, não importa o que aconteça.
-Vovô deixa que eu alimento os cavalos, pode curtir a companhia do relâmpago.
-Ele é um bom garoto, um pouco teimoso igual a minha neta.
-Não sou teimosa, só focada.
-Mesmo assim um doce. (Ele riu)
-Quer ajuda para escovar os outros?
-Deixe que eu os escovo, você pode alimentar as galinhas e os porcos por mim.
-Faço tudo por vocês. (Dou um sorriso para ele)
Vou em direção dos outro animais e alimento um a um, o dia vai passando é divertido cuidar de tudo, ver um velhinho correndo atrás das galinhas é muito engraçado, já está escuro pegamos nossas coisas e vamos em direção da casa o jantar já deve estar pronto pela hora, ainda não conseguimos sentir o cheiro da comida o que será que a vovó está aprontando?
-Me dê as coisas, sua avó vai ficar louca se entrarmos com estas coisas sujas em casa.
-Qual será que ela mataria primeiro?
-A mim é claro, você é a favorita dela, ela mima muito você.
Entro em casa devagar sem fazer barulho, adoro assustá-la, ultimamente ela anda mais esperta e está me assustando também, escuto o barulho da chaleira chiando, vou em direção da cozinha, ela deve estar preparando um café ou chá, ela adora tomar algo antes de comer. Vou em direção ao fogão e desligo, olho para o lado e não a vejo.
-Vovó, vovó. (Chamo sem resposta)
Olho para os lados e vou em direção da mesa de jantar, lá vejo apenas a ponta do pé de minha avó, ela está deitada desacordada, vária lembranças afogam minha mente, mas preciso agir, corro em direção a ela e me abaixei ao lado do seu corpo frágil.
-Vovó, está me escutando? Não me assuste assim, vamos levantar.
Meu avô entrou correndo e me encontrou abraçada a ela.
-O que houve?
-A encontrei assim, liga para uma ambulância.
O velho senhor correu para o telefone, meia hora depois a ambulância estava a porta de nossa casa, eles vieram o mais rápido possível.
-Afaste-se. (Disse o paramédico)
Larguei minha avó devagar no chão, enquanto outro homem me agarrava e me levava para a sala junto do meu avô, era como se o tempo tivesse parado, tudo estivesse em câmera lenta. Estamos sentados lado a lado apenas esperando o tempo passar, até que o paramédico finalmente aparece na sala, seu olhar me faz gelar como nunca antes.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 42
Comments