A noite tava brilhando feito um diamante falso: linda por fora, perigosa por dentro.
Quando o carro de Lorenzo parou diante da mansão dos Duarte, meu estômago embrulhou.
Não era só nervoso. Era instinto.
O ar tava carregado daquele silêncio pesado que só quem vive no submundo reconhece — o cheiro de pólvora disfarçado por perfume caro, risadas altas demais pra serem verdadeiras, olhares que avaliam antes de cumprimentar.
Lorenzo saiu primeiro, contornou o carro e abriu a porta pra mim. Estendeu a mão.
— Não precisa ficar nervosa — sussurrou, perto do meu ouvido. — Eles vão te amar.
— E se não gostarem de mim? — A voz saiu trêmula, apesar do vestido vinho que me fazia sentir poderosa.
Ele sorriu, mas os olhos permaneceram sérios.
— Então eu farei com que tenham que gostar.
No salão, fomos recebidos por Scarlet Duarte — alta, vestido vermelho como sangue seco, sorriso afiado como lâmina.
— Você deve ser a Sophia de quem o Lorenzo tanto falava — disse, me abraçando com um gesto que parecia mais inspeção do que acolhimento. — Bem-vinda à família. Você é… muito bonita.
— Obrigada — respondi, sentindo-me como um objeto sendo avaliado sob luz fria.
Scarlet me puxou pelo cotovelo.
— Vou apresentá-la aos outros.
— Já vai me roubar, Scarlet? — brincou Lorenzo, mas havia um aviso na voz.
— Pode ficar tranquilo. Eu a devolvo… inteira.
Fui conduzida por um salão onde cada olhar pesava como uma sentença.
Alguns curiosos. Outros hostis.
Conheci Alicia — doce, calorosa, o oposto da ironia cortante de Scarlet.
— Muito prazer, Sophia. Espero que nos vejamos mais vezes.
— Eu também — respondi, aliviada por encontrar um rosto gentil.
Mas Anthony não perdoou a oportunidade:
— O que você fez com meu amigo? — perguntou, os olhos fixos em mim. — Ele era um lobo solitário. Agora… está domado.
Fez uma pausa, a voz descendo a um sussurro perigoso:
— Só um conselho: não o deixe vulnerável demais.
As palavras se cravaram na minha mente como espinhos.
Depois, veio o momento que derreteu meu coração:
Luna e Benjamim.
Luna, de vestidinho rosa e olhos brilhantes, correu até mim.
— É verdade que você tá esperando nosso primo? Quando ele vem morar aqui?
— Vai demorar um pouquinho — respondi, entregando o presente. — Mas ele vai ser muito amado.
— Você vai casar com o tio Lorenzo? — perguntou, sem rodeios.
Todos riram. Mas eu senti o rosto queimar.
— Quem sabe um dia, Luna.
— Você pode morar aqui comigo? — insistiu, agarrando minha mão.
O gesto era puro. Mas, naquele mundo, até a inocência podia ser usada como arma.
Sorri, mas por dentro, uma pergunta ecoava:
Estou pronta pra ser “tia”? Pra ser “esposa”? Pra ser alvo?
Enquanto isso, Lorenzo e Anthony conversavam num canto, vozes baixas, olhares varrendo o salão como se procurassem uma ameaça invisível.
Não ouvi as palavras, mas vi a tensão nos ombros de Lorenzo — rígidos, prontos pra guerra.
Quando ele voltou, segurou minha mão com firmeza.
— Tá se divertindo?
— Sim. Todos são… acolhedores.
— Não confie em todos — disse, os olhos escuros fixos nos meus. — Aqui, nem sempre as máscaras caem.
Naquele instante, Luna nos interrompeu, e a ternura da cena — Lorenzo segurando a sobrinha no colo, prometendo doces escondidos — quase me fez esquecer o perigo.
Quase.
Durante o parabéns, fui colocada no centro da mesa, como uma peça de honra… ou um troféu.
Riam, brindavam, mas eu sentia os sussurros cortantes:
“Quem é ela?”
“O chefe se apaixonou?”
“Será que dura?”
Foi então que Scarlet se inclinou, os olhos perfurantes.
— Você é forte, Sophia. Vai precisar ser.
— O que você quer dizer?
— Esse mundo… tem muitos pregos. Mas agora você tem uma família. E família protege.
A frase soou como bênção… e como advertência.
Na saída, Lorenzo me conduziu pelo braço como se temesse que alguém me levasse.
Dentro do carro, o silêncio pesou.
— Lorenzo… o que tá acontecendo? Por que sinto que todos me veem como um problema?
Ele respirou fundo, as mãos apertando o volante.
— Porque você é. Pra eles, você é a mulher que me fez sentir. Que me fez querer algo além do poder.
Virou-se pra mim, a voz grave como um juramento:
— E vulnerabilidade, nesse mundo, é a fraqueza mais perigosa.
Fez uma pausa.
— Sim, você corre perigo.
Mas então segurou meu rosto, os olhos queimando de intensidade:
— Mas ninguém vai encostar em você sem passar por mim. Nem que eu tenha que queimar tudo.
Quis acreditar.
Mas, ao olhar pela janela, vi uma sombra se mover entre as árvores do jardim dos Duarte.
Alguém nos observava.
Alguém que não tava na lista de convidados.
Naquele baile de máscaras, sob risos educados e balões coloridos,
entendi a verdade:
Não era só o amor que me prendia a Lorenzo.
Era o destino.
E o destino, naquele mundo,
nunca perdoa.
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Atualizado até capítulo 32
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