Entre o Medo e o Desejo

Acordei com o cheiro de antisséptico e o zumbido baixo de máquinas.

Meu corpo tava pesado, a cabeça tonteava, mas o que mais doía era o vazio no peito.

Onde eu tava?

O que tinha acontecido?

Foi aí que senti a mão dele segurando a minha.

Firme. Quente. Real.

— Sophia… — A voz de Lorenzo tava rouca, como se tivesse gritado por horas. — Você tá acordada?

Virei a cabeça devagar. Ele tava ali, debruçado na beirada da cama, os olhos vermelhos, a barba por fazer, o terno amarrotado.

Parecia que tinha passado dias ali, sem dormir.

— Eu… desmaiei?

— No parque. Caí nos meus braços. — Ele apertou minha mão com mais força. — Tive tanto medo, Sophia…

— Medo do quê?

— De perder você. De perder… tudo.

Foi aí que o médico entrou, sorrindo.

— Bom dia. Como se sente?

— Confusa. Cansada.

— Isso é normal. Mas tenho boas notícias.

Ele olhou pra Lorenzo, depois pra mim.

— Você está bem. E o bebê também.

Lorenzo levantou tão rápido que quase derrubou a cadeira.

— Bebê?

Fechei os olhos.

Não dava mais pra fugir.

— Descobri há poucos dias…

— É seu.

Ele não perguntou. Não duvidou. Só afirmou:

— Esse bebê é meu.

— É seu.

O silêncio que se seguiu tava cheio de tudo que a gente não conseguia dizer: medo, destino, responsabilidade.

Lorenzo passou a mão pelos cabelos, como se tivesse levado um soco no peito.

— Eu… vou ser pai.

A voz dele tava embargada.

— Nunca imaginei ouvir isso um dia.

— Olha… — falei rápido, antes que ele dissesse algo que eu não podia aceitar. — Eu não quero te prender a nada. Posso cuidar sozinha.

— Não. — A palavra saiu firme, quase uma ordem. — Você não vai passar por isso sozinha.

Olhei pra ele. Nos olhos dele, não tinha dúvida. Tinha decisão.

— Podemos fazer o teste de DNA — sugeri, mais pra me proteger do que por desconfiança.

— Não quero arriscar o bebê — ele respondeu sério.

— É seguro — explicou o médico. — Sangue do cordão umbilical, depois do nascimento. Ou agora, com um exame não invasivo.

Lorenzo me olhou. E pela primeira vez, vi vulnerabilidade nele.

— Tá bom. Faz o teste.

Durante o exame, ele segurou minha mão. Não apertou, só… segurou.

Quando a agulha picou, eu fiz careta — e ele apertou meus dedos, só um pouco.

— Obrigada — sussurrei.

— Por quê?

— Por não ter saído correndo.

Ele não respondeu. Mas o olhar dele disse tudo.

Quando o médico entregou o resultado, Lorenzo abriu com calma.

Leu em silêncio. Depois virou pra mim.

— Eu sou o pai.

Nenhuma surpresa. Só aceitação.

— Você pode ir pra casa — disse o médico. — Descanse. Cuide-se.

— Ela vai cuidar — Lorenzo respondeu antes que eu abrisse a boca.

Horas depois, parado em frente ao meu prédio, ele abriu a porta do carro pra mim.

Mas, antes que eu entrasse, segurou minha mão.

— Você vai morar comigo.

Arregalei os olhos.

— O quê? Não… eu não posso.

— Pode e vai. — A voz dele tava baixa, mas não dava espaço pra discussão. — Você tá carregando meu filho. Eu não vou deixar vocês passarem necessidade. Nem medo. Nem fome.

Meu coração acelerou — parte medo, parte algo que eu não queria nomear.

Que homem é esse?

Misterioso. Intenso. Perigoso…

E agora, pai do meu filho.

— Lorenzo… eu não conheço seu mundo.

— Então eu te mostro. Devagar. Com cuidado.

— Mas e se eu não conseguir me adaptar?

— Você já se adaptou a tudo até hoje. — Ele olhou fundo nos meus olhos. — E agora você não tá mais sozinha.

Fiquei em silêncio.

Pensei no meu apartamento vazio, no aviso de despejo, na vida que eu tava prestes a perder.

Pensei nos olhos dele naquela noite no bar — quando ele me viu de verdade pela primeira vez.

— E se eu disser não?

— Eu respeito. — A resposta dele me surpreendeu. — Mas vou te proteger mesmo assim. De longe. De perto. Do jeito que for preciso.

Engoli em seco.

Porque, no fundo, eu sabia:

uma vez que alguém te vê… você nunca mais consegue voltar a ser invisível.

E Lorenzo me viu.

Respirei fundo.

— Tá bom. Eu vou com você.

Ele não sorriu. Só assentiu, como quem sabe que o mais difícil ainda tá por vir.

No carro, o silêncio tava pesado, mas não desconfortável.

Sentia o cheiro dele — couro, sândalo, perigo — e meu corpo reagia como se já o reconhecesse.

— Lorenzo…

— Sim?

— Por que você tá fazendo isso?

— Porque você é a mãe do meu filho.

Fez uma pausa. A voz desceu a um sussurro.

— E porque, pela primeira vez na minha vida, eu quero construir algo… em vez de destruir.

Olhei pela janela.

A cidade passava rápido, mas meu coração tava parado no tempo.

Eu tava deixando pra trás a vida que eu conhecia.

Entrando num mundo que não perdoa erro.

Mas, pela primeira vez,

não tava sozinha.

Quando a mansão apareceu no horizonte — alta, escura, cercada de muros —,

meu estômago embrulhou.

— É aqui que você mora?

— É aqui que a gente vai morar. — Ele corrigiu, suave. — A partir de hoje, essa casa é sua também.

Peguei sua mão.

Não por coragem.

Por necessidade.

Porque, no fundo,

eu já tinha escolhido.

Mesmo com medo.

Mesmo sem entender direito.

Eu escolhi confiar nele.

E, ao cruzar os portões daquela mansão,

soube que minha vida nunca mais seria a mesma.

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Comments

Isabela Santos

Isabela Santos

Espero que goste da história foi feita com muito carinho ❤️

2025-10-02

0

Leitora compulsiva

Leitora compulsiva

que bom que ele está com ela ❤️

2025-10-02

1

Elisangela Silva

Elisangela Silva

posta fotos 🥰

2025-10-09

0

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