Acordei com a luz do sol me esfaqueando os olhos.
Daquele jeito cruel que só o amanhã sabe fazer depois de uma noite que você não devia ter tido.
Tava deitada de lado, abraçando o travesseiro vazio.
O cheiro dele ainda tava no lençol — couro, uísque, algo mais… algo que me fez sentir segura, mesmo que por algumas horas.
Me sentei devagar, a cabeça latejando, a boca seca como se eu tivesse engolido algodão.
Mas não era só a ressaca.
Era o peso do que tinha feito. Do que tinha sentido
Lembrei dos lábios dele no meu pescoço.
Da voz baixa dizendo: “Você não tá sozinha.”
Do jeito que me segurou — como se eu fosse frágil, mas não fraca.
Meus olhos caíram no travesseiro ao lado.
Tinha um bilhete ali.
Dobrado certinho, como se ele tivesse levado tempo pra escrever. Como se aquilo importasse.
Meu coração deu um pulo.
Peguei com as pontas dos dedos, com medo de que sumisse se eu apertasse.
Bom dia, gata.
Tive que sair pra resolver um problema. Não quis acordar você.
Tá linda dormindo.
Aqui tá meu número. Se precisar de algo, é só ligar.
— Lorenzo.
Fiquei olhando praquelas palavras como se elas fossem me morder.
Meu Deus… o que foi que eu fiz?
Levantei cambaleando, os pés descalços encontrando o chão frio do quarto de hotel.
No espelho do banheiro, vi uma mulher que mal reconhecia: cabelo emaranhado, olheiras fundas, rímel escorrido.
Mas nos olhos… tinha alguma coisa nova.
Não era felicidade.
Era consequência.
Passei a mão na barriga, sem querer.
E foi aí que senti — um frio no estômago que não era só fome.
Voltei pra cama e me enrolei nos lençóis, como se ainda pudesse voltar pra noite passada.
Como se, se eu fechasse os olhos bem forte, ele estivesse ali de novo, me dizendo que eu não era invisível.
Mas o quarto tava vazio.
Só eu, o bilhete e o número de um homem que eu mal conhecia.
Liguei?
Ignorei?
Joguei fora e fingi que nada disso aconteceu?
Meus dedos coçaram pra pegar o celular.
Mas parei.
Porque, no fundo, eu sabia:
uma vez que alguém te vê… você nunca mais consegue voltar a ser invisível.
E Lorenzo me viu.
Fiquei ali por um bom tempo, ouvindo o silêncio do quarto estranho, sentindo o cheiro dele ainda no lençol.
Por um instante, me permiti acreditar que aquilo tinha sido real. Que, por uma noite, eu não fui invisível.
Mas o sol entrando pela cortina fina me lembrou:
o mundo não muda da noite pro dia.
E homens como ele…
não ficam.
Peguei o celular.
Desbloqueei a tela.
Abri o teclado.
Comecei a digitar o número do bilhete.
Apaguei.
Digitei de novo.
Meus dedos tremiam.
E se ele não atender?
E se atender… e sumir de novo?
Fechei os olhos.
Respirando fundo, como se o ar pudesse me dar coragem.
Porque, pela primeira vez em anos,
alguém tinha me dito que eu não era dispensável.
E eu…
eu não sabia se merecia acreditar nisso.
Mas queria.
Meus dedos pairavam sobre o botão de chamada.
O coração batendo tão forte que doía no peito.
Ligar ou não ligar?
Essa pergunta tava maior que eu.
Porque, se eu ligasse…
não dava mais pra voltar atrás.
E se eu não ligasse…
talvez nunca soubesse o que era ser vista de verdade.
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Atualizado até capítulo 32
Comments
Leitora compulsiva
aquela dúvida né, será que ele quer mesmo que ligue 🫣🤔
2025-10-02
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