O céu estava coberto por nuvens densas quando Luna e Mateus partiram rumo à encosta norte da floresta. O mapa desenhado no caderno preto indicava um caminho tortuoso, ladeado por árvores retorcidas e trilhas que pareciam se mover com o vento. O Olho da Serpente não era apenas uma formação rochosa — era um lugar de passagem.
— Você está pronta? — Mateus perguntou, com a voz baixa.
Luna não respondeu. Ela apenas apertou o medalhão contra o peito e seguiu em frente.
A trilha se estreitava à medida que se aproximavam. O silêncio era absoluto, como se a floresta estivesse prendendo a respiração. Quando chegaram à clareira, viram a formação: uma pedra circular, com uma fenda no centro que lembrava uma pupila. Ao redor, símbolos entalhados no chão, semelhantes aos do círculo de pedra.
Mateus se ajoelhou e começou a desenhar com giz os traços do símbolo rachado — o mesmo que aparecia no diário de Clara. Luna posicionou o medalhão no centro da fenda. Por um momento, nada aconteceu.
Então, o chão tremeu.
A pedra brilhou com uma luz pálida, e uma névoa espessa começou a se erguer. No centro da formação, uma figura surgiu — encapuzada, imóvel, com olhos que pareciam feitos de vidro líquido.
> “O Véu foi tocado. O elo retornou. Mas o preço ainda não foi pago.”
Luna deu um passo à frente. — Eu não vim para repetir o ritual. Eu vim para entender. Para lembrar.
A figura se aproximou. — Lembrar é perigoso. Mas esquecer é fatal.
A névoa envolveu os dois. Imagens começaram a surgir ao redor: Clara chorando diante da pedra, Eloísa sendo levada pela névoa, Luna ainda criança, escondida sob o altar. Cada memória vinha com dor, mas também com clareza.
Mateus segurou a mão de Luna. — Estamos aqui. Juntos.
A figura encapuzada tocou o medalhão. Ele se partiu em dois, revelando um fragmento de cristal escuro. Dentro dele, havia uma imagem: o chalé, envolto em chamas, e uma voz que sussurrava:
> “O fogo purifica. Mas também consome.”
A névoa começou a se dissipar. A figura desapareceu. E no chão, restava apenas o cristal e uma nova inscrição:
> “O Véu se abriu. Agora, escolham.”
Luna sabia que o próximo passo não seria apenas descobrir — seria decidir. E que, a partir daquele momento, cada escolha teria um preço.
O cristal escuro ainda pulsava com uma luz interna, como se guardasse algo vivo. Luna o segurava com cuidado, sentindo que aquele fragmento era mais do que um objeto — era uma chave. Mateus observava em silêncio, o rosto pálido sob a luz difusa da névoa.
— Isso é parte do Véu — ele disse. — Um pedaço do que separa os mundos.
Luna olhou ao redor. A clareira estava diferente. As árvores pareciam mais próximas, como se estivessem se inclinando para ouvir. O chão sob seus pés vibrava levemente, e o ar tinha um cheiro metálico, como sangue antigo.
De repente, o cristal brilhou com força. Uma imagem surgiu diante deles, projetada no ar como um reflexo distorcido: o chalé em chamas, Clara gritando, e Luna — ainda criança — sendo levada por mãos invisíveis para dentro da floresta.
Mateus caiu de joelhos. — Isso... isso é o que aconteceu. Clara tentou impedir. Mas o ritual foi iniciado. E você foi marcada.
Luna sentiu uma dor aguda no peito. O medalhão partido parecia reagir ao cristal, e uma nova rachadura surgiu no chão da clareira, formando um símbolo completo — o mesmo que aparecia nas cartas, no diário, e agora, diante deles.
> “O elo foi restaurado. O Véu enfraquece. A escolha se aproxima.”
A voz não vinha de nenhum lugar específico. Era como se a própria floresta falasse. Luna se levantou, determinada.
— Se há uma escolha, eu quero saber qual é. E quero saber quem está por trás disso.
Mateus assentiu. — Então precisamos voltar ao chalé. Há algo que Clara deixou escondido. Algo que só pode ser revelado quando o Véu é tocado.
Enquanto voltavam pela trilha, a névoa se dissipava lentamente, mas o silêncio permanecia. A floresta não dormia mais. Ela observava.
Ao chegarem ao chalé, Luna sentiu o ar mudar. A porta estava entreaberta. E sobre a mesa, o caderno preto estava aberto em uma nova página — com uma única frase escrita em tinta dourada:
> “A verdade está na madeira. Onde o sangue foi selado.”
Luna olhou para Mateus. Eles sabiam o que precisavam fazer.
O próximo passo os levaria ao coração da casa — e ao segredo que Clara tentou esconder com sua própria vida.
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Atualizado até capítulo 26
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