Acordei com dor de cabeça.
Não era comum para mim - geralmente durmo bem, acordo descansado, mantenho minha rotina. Controle é algo que sempre valorizei. Mas desde que Oliver Miller entrou na minha vida de forma... permanente, o controle parecia estar constantemente escorregando dos meus dedos.
Eram 5h45 quando saí do quarto. Quinze minutos atrasado da minha rotina habitual. Oliver já estava na cozinha.
Isso também não era normal.
Ele estava de costas para mim, preparando café, vestindo uma camiseta simples e calças de moletom. Seus cabelos loiro-platinados estavam bagunçados de sono, e por um momento, pareceu... jovem. Vulnerável.
Afastei o pensamento imediatamente.
"Bom dia", disse eu, mantendo o tom neutro.
Ele se virou, e notei imediatamente as olheiras escuras sob seus olhos âmbares. Ele havia dormido mal também.
"Bom dia", respondeu ele, sua voz mais baixa que o normal. "Seu café está pronto."
Ele colocou uma xícara na bancada e se afastou, mantendo distância física óbvia. Distância que eu havia exigido na noite anterior.
Por que isso me incomodava?
Tomamos o café em silêncio. Oliver olhava para qualquer lugar exceto para mim - a janela, seu telefone, a parede. Quando terminei, ele já havia lavado sua xícara e estava se dirigindo para o corredor.
"Vou me arrumar", murmurou, desaparecendo antes que eu pudesse responder.
Fiquei sozinho na cozinha, olhando para a xícara de café que ele havia preparado para mim. Exatamente como eu gosto - forte, sem açúcar. Ele havia prestado atenção aos detalhes durante essas semanas.
Detalhes que eu nunca pedi para ele notar.
***
A viagem para o escritório foi mais silenciosa que o habitual. Oliver estava sentado o mais longe possível de mim no banco do passageiro, olhando pela janela com uma expressão que eu não conseguia decifrar.
Eu deveria estar satisfeito. Era exatamente isso que eu queria - distância profissional, limites claros. Então por que me sentia... inquieto?
Talvez fosse porque, pela primeira vez em semanas, Oliver não estava tentando puxar conversa. Não estava me oferecendo para ajustar minha agenda, ou lembrando sobre reuniões que eu já sabia que tinha. Ele estava simplesmente... ausente.
Quando chegamos ao escritório, ele saiu do carro com um "tenha um bom dia, Sr. Blackwood" formal e se dirigiu diretamente para o elevador sem esperar por mim.
Sr. Blackwood. Não Sebastian.
Observei-o entrar no elevador com outros funcionários, mantendo aquela postura respeitosa e distante que ele usava com todos os outros. Como se eu fosse apenas mais um chefe.
Como se as últimas semanas não tivessem acontecido.
***
Oliver foi um modelo de profissionalismo durante toda a manhã. Atendeu ligações, organizou documentos, marcou reuniões. Quando trouxe café para meu escritório, ele o colocou na mesa sem fazer contato visual e saiu imediatamente.
Nenhum "como você quer que eu lide com isso", nenhum "precisa de mais alguma coisa", nenhuma daquelas pequenas preocupações que eu havia começado a associar com ele.
Ele estava me dando exatamente o que eu havia pedido - distância profissional.
Então por que isso me irritava tanto?
Por volta das onze, Sarah da recepção me ligou pelo interfone.
"Sr. Blackwood? O Sr. Harrison está aqui para vê-lo."
David Harrison. Um dos nossos clientes mais importantes e, coincidentemente, um dos mais difíceis de lidar. Sua empresa representava cerca de vinte por cento da nossa receita anual.
"Mande-o subir."
Cinco minutos depois, Harrison estava no meu escritório - um homem robusto de cinquenta e poucos anos, sempre vestindo ternos caros demais e usando um sorriso que nunca chegava aos olhos.
"Sebastian!" Ele estendeu a mão com entusiasmo exagerado. "Como vai a vida de casado?"
Ah. É claro que ele sabia.
"Muito bem, David. Obrigado por perguntar."
"Tenho que admitir, fiquei surpreso quando soube. Seu secretário, não é? Que romântico - amor no local de trabalho e tudo mais."
Havia algo no tom da sua voz que não gostei. Uma insinuação que me fez tensionar os ombros.
"Oliver é muito mais que meu secretário", disse eu, mantendo a voz controlada. "É um profissional extremamente competente."
"Tenho certeza de que é", Harrison riu, mas não havia humor real ali. "Deve ser... talentoso mesmo, para impressionar um Blackwood."
A implicação era clara e repugnante.
"David", disse eu, minha voz ficando mais fria, "se você veio aqui apenas para fazer insinuações sobre minha vida pessoal, posso sugerir que reconsidere."
"Não, não", ele levantou as mãos em falsa rendição. "Apenas comentando. Na verdade, vim aqui porque quero conhecer melhor meu novo... cunhado? É assim que funciona?"
Antes que eu pudesse responder, a porta se abriu e Oliver entrou com uma bandeja - café e alguns documentos que eu havia pedido.
"Sr. Blackwood", ele disse formalmente, "os relatórios que o senhor solicitou."
Ele colocou a bandeja na mesa sem olhar para Harrison, mas eu vi quando o homem mais velho o avaliou da cabeça aos pés de uma forma que me fez cerrar os punhos.
"Você deve ser Oliver", Harrison disse com aquele sorriso falso. "David Harrison. Prazer em conhecê-lo finalmente."
Oliver se virou e estendeu a mão educadamente. "Prazer, Sr. Harrison."
"Por favor, me chame de David. Afinal, somos praticamente família agora, não é?"
Vi Oliver hesitar por uma fração de segundo antes de forçar um sorriso. "Claro."
"Devo dizer", Harrison continuou, ainda segurando a mão de Oliver por tempo demais, "Sebastian tem muito bom gosto."
Senti algo escuro se revirar no meu estômago.
"Oliver", interrompi, "pode nos dar alguns minutos?"
"Claro." Ele se afastou rapidamente, claramente desconfortável, e saiu do escritório.
Assim que a porta se fechou, me virei para Harrison.
"Vamos direto ao ponto. O que você quer?"
Ele sorriu, mas agora havia algo predatório nessa expressão.
"Direto como sempre. Admiro isso em você, Sebastian. O que eu quero é simples - quero ter certeza de que nossa... parceria comercial permanece forte, independente de quaisquer... mudanças na sua vida pessoal."
"Nossa parceria sempre foi baseada em resultados profissionais", respondi friamente. "Nada mudou nesse aspecto."
"Claro, claro. Mas você entende minha posição. Alguns dos meus colegas no conselho estão... preocupados. Um casamento tão repentino, especialmente com um funcionário... pode levantar questões."
"Que tipo de questões?"
"Bem, você sabe como são os homens de negócios. Eles se perguntam se suas decisões pessoais podem afetar seu julgamento profissional. Se talvez você esteja... distraído."
A ameaça indireta era clara. Harrison estava questionando minha competência com base no meu casamento com Oliver.
"Meu julgamento profissional nunca foi melhor", disse eu. "Como nossos resultados do último trimestre claramente demonstram."
"Sim, sim, os números são impressionantes. Mas percepção é tudo nos negócios, Sebastian. E a percepção é que você se casou com seu secretário muito rapidamente. Algumas pessoas podem pensar que há... motivações ocultas de ambas as partes."
Levantei-me da cadeira, sinalizando o fim da conversa.
"David, se você tem preocupações sobre nossa parceria comercial, podemos discuti-las baseadas em fatos e números. Se você veio aqui para questionar minha vida pessoal ou fazer insinuações sobre meu marido, então não temos mais nada a conversar."
Harrison também se levantou, mas manteve aquele sorriso irritante.
"Apenas expressei algumas preocupações, Sebastian. Nada pessoal. Espero que possamos continuar trabalhando juntos... produtivamente."
Depois que ele saiu, fiquei parado na janela do meu escritório por vários minutos, tentando processar a conversa. Harrison havia deixado claro que nosso casamento estava sendo visto como um ponto fraco - algo que poderia ser usado contra mim em negócios futuros.
Mais importante, ele havia olhado para Oliver de uma forma que me fez querer quebrar algo.
***
Uma hora depois, Oliver trouxe alguns contratos para eu revisar. Ele os colocou na mesa silenciosamente e estava prestes a sair quando falei.
"Oliver."
Ele parou, mas não se virou. "Sim, Sr. Blackwood?"
"Sente-se."
Ele hesitou por um momento antes de obedecer, sentando-se na beirada da cadeira como se estivesse pronto para fugir a qualquer momento.
Estudei seu rosto - as olheiras, a tensão em seus ombros, a forma como evitava meu olhar.
"Sobre ontem à noite", comecei.
"Não precisa dizer nada", ele me interrompeu rapidamente. "Entendi perfeitamente quais são os limites. Não vai acontecer de novo."
Havia algo na sua voz - uma resignação que me incomodou mais do que deveria.
"Oliver, talvez eu tenha sido... duro demais."
Ele finalmente me olhou, surpresa clara em seus olhos âmbares.
"Não foi", disse ele baixo. "Você estava certo. Eu ultrapassei limites que não deveria ter ultrapassado. Foi... inadequado da minha parte."
A palavra "inadequado" soou estranha vinda dele. Muito formal, muito distante.
"A situação é... complicada para nós dois", continuei, tentando encontrar as palavras certas. "Talvez eu devesse ter sido mais claro desde o início sobre... expectativas."
"Suas expectativas foram muito claras ontem à noite."
Silêncio.
"Harrison ficou impressionado em conhecê-lo", disse eu, mudando de assunto.
Oliver franziu o rosto. "Ele pareceu... interessado demais."
"Você percebeu também."
"É difícil não perceber quando alguém está te avaliando como se você fosse um pedaço de carne."
A crua honestidade da observação me surpreendeu. Oliver raramente era tão direto.
"Ele está questionando nossa... parceria", expliquei. "Tanto a comercial quanto a pessoal."
"E isso é um problema?"
Olhei para ele - realmente olhei. Seus cabelos estavam perfeitamente arrumados, como sempre no trabalho. Sua camisa estava impecavelmente passada. Ele parecia profissional, competente.
Também parecia cansado. Triste.
"Pode ser", admiti. "Harrison representa uma fatia significativa dos nossos negócios. Se ele decidir que nosso casamento é... problemático, pode influenciar outros clientes."
"Então o que fazemos?"
A pergunta era prática, profissional. Mas havia algo mais ali - uma aceitação resignada de que nossa situação poderia se tornar ainda mais complicada.
"Por enquanto, nada. Continuamos como planejado."
Ele assentiu, levantando-se para sair.
"Oliver."
Ele parou novamente.
"Você não precisa me chamar de Sr. Blackwood quando estamos sozinhos."
Por um momento, vi algo passar pelo seu rosto - alívio, talvez. Ou gratidão.
"Obrigado... Sebastian."
Depois que ele saiu, fiquei pensando na conversa. Havia algo sobre Oliver que eu não conseguia entender completamente. A forma como ele havia reagido às minhas palavras duras na noite anterior - não com raiva ou ressentimento, mas com aceitação imediata. Como se ele estivesse acostumado a ser repreendido, a ser told que havia cruzado limites.
E havia a questão que me incomodava desde o início: por que ele havia criado aquela mentira em primeiro lugar?
Não fazia sentido. Oliver não era manipulador ou calculista. Na verdade, ele parecia genuinamente constrangido com toda a situação. Então por que inventar um relacionamento comigo especificamente?
A menos que...
Afastei o pensamento antes que pudesse se formar completamente. Não era possível. Oliver havia criado a mentira por desespero, para impressionar seus pais difíceis. Nada mais.
Mas enquanto voltava ao trabalho, uma pequena voz na minha mente continuava sussurrando uma pergunta que eu não queria responder:
E se não fosse apenas uma mentira conveniente? E se houvesse algo mais por trás da escolha de Oliver?
E mais perturbador ainda - por que essa possibilidade me deixava tão... inquieto?
Balancei a cabeça e me forcei a focar nos contratos à minha frente. Especulação emocional não era meu forte. Nunca foi.
Alguns problemas eram melhor deixados sem solução.
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**Continua no Capítulo 5...**
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Atualizado até capítulo 32
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