** CAPÍTULO 1: ASSINANDO O DESTINO **

Nunca pensei que o dia do meu "casamento" seria tão... estéril.

O cartório de Manhattan tinha aquele cheiro característico de papel velho e café frio. As paredes bege sem vida pareciam julgar cada movimento que eu fazia, enquanto segurava a caneta que selaria minha farsa.

"Oliver Miller", anunciei quando chegou minha vez, minha voz saindo mais baixa do que eu gostaria.

Sebastian estava ao meu lado, impecável como sempre em seu terno cinza escuro. Mesmo naquele ambiente sem charme, ele emanava uma elegância natural que fazia as pessoas se virarem para olhar. Incluindo o oficial do cartório, que parecia impressionado por estar casando duas pessoas claramente de classes sociais diferentes.

"Sebastian Blackwood", ele respondeu quando solicitado, sua voz grave ecoando pela sala pequena.

Nossas famílias estavam dispostas em duas fileiras de cadeiras de plástico atrás de nós. Meus pais, Margaret e Robert Miller, sentados rigidamente, observando cada movimento com olhos críticos. Ao lado deles, meu irmão Christopher com sua esposa Victoria - ela linda como sempre, ele me dando sorrisos encorajadores quando nossos olhares se encontravam.

Do outro lado, a família Blackwood irradiava uma tranquilidade que eu invejava. Richard Blackwood, o pai de Sebastian, tinha a mesma postura ereta do filho, mas seus olhos eram mais gentis. Catherine, sua mãe, me ofereceu um sorriso genuíno quando cheguei, e sussurrou "que lindo você está" no meu ouvido durante o cumprimento.

Que contraste gritante com meus próprios pais.

"Os anéis", pediu o oficial.

Sebastian tirou duas alianças de uma pequena caixa de veludo. Simples, elegantes, caras. Claro que ele havia pensado em tudo.

Quando ele segurou minha mão para colocar o anel, seus dedos estavam frios. Os meus provavelmente tremiam. Por um segundo, nossos olhos se encontraram, e vi algo que não consegui decifrar - talvez resignação, talvez... gentileza?

"Eu, Sebastian Blackwood, aceito você, Oliver Miller, como meu esposo", ele disse as palavras obrigatórias com uma seriedade que quase me fez acreditar que eram verdadeiras.

Quando chegou minha vez, tive que pigarrear antes de falar: "Eu, Oliver Miller, aceito você, Sebastian Blackwood, como meu esposo."

As palavras saíram como um sussurro, mas foram suficientes.

"Pelos poderes que me foram conferidos pelo Estado de Nova York, eu os declaro marido e marido."

Marido e marido. As palavras ecoaram na minha mente como sinos distantes.

Sebastian se inclinou e me deu um beijo casto nos lábios - rápido, apropriado para a ocasião, mas que ainda assim fez meu coração disparar. Quando nos afastamos, ele sussurrou apenas para mim ouvir:

"Está feito."

***

O restaurante escolhido para o almoço era requintado demais para meu gosto - o tipo de lugar onde os garçons te olham com desaprovação se você não sabe qual garfo usar primeiro. Mas era exatamente o tipo de estabelecimento que impressionaria meus pais.

Estávamos todos sentados em uma mesa redonda grande: Sebastian e eu lado a lado, nossos pais de frente um para o outro, e Chris com Victoria completando o círculo.

"Então, Sebastian", meu pai começou depois que pedimos as entradas, "conte-nos mais sobre como vocês se conheceram."

Senti meu estômago se contrair. Essa era uma das perguntas que eu temia.

Sebastian, no entanto, não hesitou: "Oliver começou a trabalhar como meu secretário há dois anos. Devo admitir que no início eu era... exigente demais. Mas ele sempre mantinha a calma, mesmo quando eu estava sendo impossível." Ele me olhou com um sorriso que quase parecia genuíno. "Acho que me apaixonei pela sua paciência primeiro."

Mentira linda, contada com tal naturalidade que até eu quase acreditei.

"Que romântico", suspirou Catherine, levando a mão ao peito. "Richard também era meu chefe quando nos conhecemos, não é querido?"

Richard riu: "A diferença é que Catherine era muito mais esperta que eu desde o primeiro dia. Oliver, você deve ter muita paciência mesmo."

Eu estava prestes a responder quando minha mãe interrompeu: "Oliver sempre foi... dedicado ao trabalho. Não é como Christopher, que sempre soube exatamente o que queria da vida."

O comentário caiu como uma pedra no meio da mesa.

"Mãe", Chris disse baixo, com tom de aviso.

"O que foi? É verdade." Ela se virou para Catherine com um sorriso forçado. "Christopher é nosso filho mais velho. Médico cirurgião, casado com uma modelo internacional. Sempre foi o orgulho da família."

Victoria pareceu desconfortável, mexendo no guardanapo sobre o colo. Chris segurou a mão dela e me olhou com uma expressão de desculpas.

Senti meu rosto esquentar de vergonha. Ali estava ela novamente, diminuindo-me na frente de pessoas importantes.

"Bem", disse Sebastian, e havia uma frieza em sua voz que eu nunca havia ouvido antes, "acho que Oliver é bastante excepcional. Não conheço muitos secretários que conseguiriam gerenciar uma empresa do tamanho da Blackwood Industries com tanta eficiência."

Meus pais pareceram surpresos com a defesa.

"Claro, claro", meu pai se apressou em concordar. "Nós somos muito orgulhosos do Oliver também. É só que... bem, Christopher sempre foi mais..."

"Tradicional?" Sebastian sugeriu, e havia definitivamente uma ironia em sua voz agora.

O silêncio que se seguiu foi tenso até Richard mudar de assunto para negócios, e a conversa fluiu mais naturalmente depois disso. Mas eu notei como Sebastian observava tudo com olhos atentos - cada comentário sutil dos meus pais, cada vez que eles elogiavam Chris enquanto me ignoravam, cada momento em que eu encolhia um pouco mais na cadeira.

***

Horas depois, estávamos no meu quarto na casa dos meus pais. Era pequeno comparado ao que Sebastian provavelmente estava acostumado - cama de solteiro, escrivaninha simples, algumas prateleiras de livros. Basicamente o quarto de um adolescente, não de um homem de vinte e sete anos.

Sebastian estava de pé perto da janela, ainda de terno, mas havia tirado o paletó e afrouxado a gravata. Parecia cansado.

"Sinto muito", eu disse pela terceira vez naquele dia, sentado na borda da cama com as mãos entrelaçadas. "Por tudo isso. Por ter te colocado nessa situação."

Ele se virou para me olhar: "Você já se desculpou o suficiente, Oliver."

"Mas é que... meus pais são..." Parei, não sabendo como explicar.

"Difíceis", ele terminou por mim. "Eu percebi."

Ficamos em silêncio por um momento.

"Eles sempre foram assim com você?", perguntou Sebastian, sua voz mais suave agora.

"Não é nada demais", eu disse rapidamente, desviando o olhar. "Eles só... têm expectativas diferentes para mim e para o Chris."

"Oliver." Havia algo em sua voz que me fez olhar para ele novamente. "Você não precisa mentir para mim. Não depois de tudo que aconteceu hoje."

Senti minha garganta apertar: "Eles não são ruins. Só... nunca souberam lidar comigo sendo... diferente."

Sebastian se aproximou e se sentou na cadeira da escrivaninha, de frente para mim: "E você acha que é culpa sua?"

A pergunta me pegou desprevenido. "Eu... não é culpa de ninguém."

"Isso não foi o que eu perguntei."

Olhei para minhas mãos: "Às vezes sinto que se eu fosse mais como Chris, se tivesse feito escolhas diferentes..."

"Oliver." Sua voz era firme agora. "Olhe para mim."

Relutantemente, levantei os olhos.

"Não há nada de errado com você. Nada."

As palavras foram ditas com tanta convicção que senti meu peito se apertar de uma maneira estranha.

"Eu precisei mentir para eles sobre ter um namorado", sussurrei. "Que tipo de filho precisa mentir sobre isso?"

"O tipo que tem pais que o fazem se sentir mal por ser quem é", ele respondeu sem hesitar.

Ficamos nos encarando por um momento longo, e senti como se ele estivesse vendo mais de mim do que eu gostaria de mostrar.

"Bem", ele disse finalmente, se levantando e pegando o paletó, "amanhã você pode tirar a manhã para arrumar suas coisas. Vamos precisar manter as aparências, então... você vai ter que se mudar para meu apartamento."

Realidade. Ali estava ela novamente.

"Sebastian", eu comecei, "sobre isso tudo... as regras, as expectativas..."

"Conversamos sobre isso amanhã", ele me interrompeu gentilmente. "Foi um dia longo para nós dois."

Ele caminhou até a porta, então parou e se virou para mim uma última vez.

"E Oliver? Pare de se desculpar. Nós dois nos metemos nessa situação. Agora precisamos descobrir como sair dela... ou como torná-la funcional."

Depois que ele saiu, fiquei sentado sozinho no meu quarto pequeno, olhando para a aliança no meu dedo. Em menos de 24 horas, minha vida inteira havia mudado.

E a única coisa que eu sabia com certeza era que Sebastian Blackwood era ainda mais complicado do que eu havia imaginado.

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**Continua no Capítulo 2...**

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