O sol mal havia nascido quando Lily já estava de pé. Apesar da noite longa, o hábito de ajudar no orfanato falava mais alto. Colocou um vestido simples, prendeu os cabelos loiros num coque apressado e foi direto para a cozinha da grande casa que abrigava as crianças.
O cheiro de mingau doce e pão fresco logo se espalhou, e as risadas infantis começaram a ecoar pelos corredores. Lily corria de um lado para o outro, servindo tigelas, organizando mesas, consolando os pequenos que disputavam atenção.
— Lily, olha! — uma menininha de olhos castanhos ergueu um desenho colorido.
— Está lindo, querida! — ela se abaixou para admirar, sorrindo como se cada traço fosse uma obra-prima.
Do lado de fora, parado à sombra de uma árvore, Ethan observava.
Os braços cruzados no peito davam uma falsa imagem de frieza, mas por dentro, a cada gesto dela, seu peito queimava.
"Ela não é só luz para mim… é para todos. Essas crianças a olham como se fosse o próprio sol."
Alex se aproximou silencioso, parando ao lado dele.
— Está ficando perigoso, meu rei. — comentou em voz baixa. — Se continuar olhando assim, qualquer um vai perceber.
Ethan não desviou o olhar dela.
— Eles não veem. Só eu vejo.
O beta suspirou, mas manteve a seriedade.
— Você precisa se manter firme. Ela ainda é muito jovem.
— Eu sei. — a resposta saiu num rosnado baixo, mais para si mesmo do que para Alex. — Mas o instinto não entende de idade. Ele só grita o óbvio… ela é minha.
Naquele instante, Lily saiu do orfanato carregando um cesto vazio, caminhando até o quintal para buscar frutas no pomar. Seus olhos percorreram os arredores e, por um momento, encontraram os de Ethan.
Ela parou, surpresa, segurando o cesto contra o peito. Um leve rubor coloriu suas bochechas, mas, educada, inclinou a cabeça num cumprimento respeitoso.
— Alfa Ethan…
Ele não se moveu. Apenas respondeu com um aceno curto, mantendo a postura rígida.
Mas por dentro, o caos crescia.
"Ela nem imagina o quanto me consome apenas com esse olhar."
Lily sorriu de leve e seguiu seu caminho, voltando a cantarolar baixinho enquanto colhia frutas. Ethan acompanhou cada passo até que ela desaparecesse atrás das árvores.
Alex lançou um olhar de lado.
— E se ela descobrir antes da hora?
Ethan fechou os olhos por um segundo, inspirando fundo.
— Então… terei que ser mais forte que o meu próprio lobo.
— Lily! — a voz animada ecoou no quintal do orfanato.
Ela se virou e viu Leo correndo em sua direção, com o mesmo sorriso travesso de sempre. O irmão mais novo de Ethan tinha aquele jeito leve que contagiava qualquer ambiente. Diferente do Alfa, carregava no olhar a rebeldia da juventude.
— O que está fazendo aqui tão cedo? — Lily perguntou, ajeitando o cesto de frutas no braço.
— Vim roubar maçãs. — ele disse, erguendo uma sobrancelha, e logo arrancou uma do cesto dela, mordendo sem cerimônia.
Ela riu, fingindo estar brava.
— Isso é para as crianças, Leo!
— Calma, eu compenso… — ele estendeu outra maçã para ela. — Vamos dividir?
Os dois se sentaram na grama, lado a lado. Leo contava histórias engraçadas de quando fugia dos treinos do irmão, e Lily ria com gosto, esquecendo por um instante o peso de sua própria vida.
— Sabe… — ele disse mais sério depois de um tempo. — Ontem, na floresta, eu quase te perdi de vista. E percebi que não quero isso de novo. Você… é diferente, Lily.
Ela desviou o olhar, um calor estranho subindo pelo rosto.
— Diferente como?
Leo abriu um sorriso torto.
— Como alguém que me faz querer ser melhor.
O silêncio que se seguiu foi quebrado por um rosnado baixo vindo das árvores. Lily se assustou, mas Leo se levantou depressa.
Do outro lado do pomar, Ethan estava parado, os olhos intensos fixos neles.
— Irmão… — Leo engoliu seco, tentando parecer natural. — Eu só vim visitar.
Ethan não respondeu. Caminhou devagar até eles, a imponência em cada passo. Lily se levantou também, abaixando a cabeça em respeito.
— Bom dia, Alfa.
O olhar dele passou dela para Leo, e então voltou a ela, demorando um segundo a mais do que deveria.
— Bom dia, Lily. — a voz dele saiu grave, controlada.
O silêncio pesou. Ethan sabia que não tinha direito de reclamar da aproximação entre eles, mas o lobo dentro dele urrava, exigindo afastar o próprio irmão da sua companheira.
"Paciência. Controle. Ainda não é hora."
Leo, percebendo a tensão, pigarreou.
— Ahn… eu já vou indo. Te vejo mais tarde, Lily. — deu um meio sorriso para ela antes de recuar.
Ethan ficou. Seus olhos azuis escuros queimavam, mas a máscara de Alfa permanecia firme.
— Não confie tanto em Leo. — disse de repente, a voz baixa, quase um aviso.
Lily piscou, surpresa.
— Ele é seu irmão… por que não deveria confiar?
Ele hesitou. Quis dizer a verdade. Quis arrancar todos os segredos de dentro de si e jogá-los a seus pés. Mas não podia.
— Apenas… escute o que digo.
E virou-se, indo embora sem olhar para trás, mesmo que cada fibra de seu ser implorasse para ficar.
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