Capítulo – 5

O bar estava cheio, a música pulsava, e pela primeira vez em dias, eu não tinha pressa. Sentei-me ao balcão, pedi um whisky e deixei que o ambiente me engolisse. Era estranho como, depois de uma semana no silêncio da minha própria mente, os risos e conversas pareciam quase... reconfortantes.

Foi então que a vi.

Um vestido preto que abraçava o corpo, cabelo solto que caía em ondas, e aquele olhar curioso, mas não tímido. O tipo de olhar que não foge, mas também não se entrega de imediato.

Levantei o copo, num brinde invisível, e ela percebeu. Sorriu. Eu sabia que já tinha meio caminho andado.

Aproximei-me devagar, como quem não tem nada a perder.

Protagonista — Posso apostar que este sorriso não é para qualquer um.

Mulher — (arqueia uma sobrancelha) E o que te faz pensar que foi para ti?

Protagonista — A forma como não desviaste os olhos. Quem não quer ser notada olha para outro lado. Tu olhaste para mim.

Ela mordeu o lábio, divertida, e girou o copo nas mãos.

Mulher — E se eu disser que estava só a observar?

Protagonista — Então digo que foste apanhada a observar. E que eu não me importo de ser o alvo.

O riso dela foi leve, cristalino, quase inocente.

Um contraste delicioso com os gritos que ainda ecoavam na minha memória.

Mulher — E o que mais tens para além de frases ensaiadas?

Protagonista — Uma noite inteira, se quiseres descobrir.

Ela inclinou-se para mim, o perfume invadiu-me os sentidos. Doce, quente, quase perigoso.

Mulher — Confiança não te falta.

Protagonista — Confiança é só a forma bonita de dizer que aprendi a não perder tempo com máscaras.

Se ela soubesse a ironia escondida nessa frase...

O silêncio entre nós não era desconfortável. Era como um fio elétrico, prestes a incendiar algo.

Protagonista — A música é boa… mas o teu sorriso consegue abafá-la.

Mulher — (vira-se, curiosa, mas sem perder o tom de desafio) Sério? Essa é a tua entrada?

Protagonista — Não. Essa é apenas a primeira verdade que encontrei hoje.

Ela sorriu de canto, como quem mede terreno.

Mulher — Então costumas dizer muitas verdades a desconhecidas?

Protagonista — Só quando elas parecem estar a esconder alguma.

O olhar dela mudou ligeiramente, surpresa misturada com diversão.

Mulher — E o que achas que eu estou a esconder?

Protagonista — Talvez solidão. Talvez curiosidade. Ou talvez nada… mas é mais divertido imaginar que tens segredos.

Ela levou o copo aos lábios, sem pressa. O jogo tinha começado.

Mulher — E tu? Tens muitos segredos?

Protagonista — Mais do que deveria.

Mulher — Isso soa perigoso.

Protagonista — Só para quem tenta descobrir depressa demais.

O silêncio entre nós pesou por alguns segundos, mas não de forma desconfortável. Era quase magnético.

Ela inclinou-se levemente para mim, aproximando o rosto o suficiente para que eu sentisse o perfume quente que usava.

Mulher — Tens cara de quem já se divertiu muito com esse tipo de conversa.

Protagonista — Enganas-te. Eu não falo assim com toda a gente. Só com quem faz o tempo abrandar.

Ela soltou uma gargalhada baixa, verdadeira. Era música para mim.

Mulher — Estás a fazer um bom trabalho em não parecer… perigoso.

Protagonista — E estou a conseguir?

Mulher — (olha-o de cima a baixo) Por agora. Mas ainda não decidi se isso é bom ou mau.

Eu sorri, inclinei ligeiramente a cabeça, como quem aceita o desafio.

Protagonista — Então deixa-me prolongar a dúvida.

O copo dela pousou de leve na bancada, e os olhos claros fixaram-se nos meus como se quisessem testar até onde eu aguentava sem desviar.

Mulher — Então… prolongar a dúvida? É isso que costumas oferecer às mulheres?

Protagonista — Não. Às vezes ofereço silêncio. Mas contigo seria um desperdício.

Ela arqueou uma sobrancelha, divertida.

Mulher — Silêncio? Essa é nova.

Protagonista — O silêncio revela mais do que qualquer frase ensaiada. Mas tu… tu parece que mereces palavras.

O sorriso dela apareceu de canto, quase impercetível, e percebi que tinha acertado no tom.

Mulher — E que palavras achas que eu mereço ouvir?

Protagonista — As que não se dizem facilmente. As que ficam na garganta, presas, porque têm medo de soar verdadeiras demais.

Ela mordeu o lábio inferior, como quem saboreia uma provocação.

Mulher — Tens um jeito curioso de jogar.

Protagonista — E tu tens um jeito curioso de resistir.

Mulher — Quem disse que eu estou a resistir?

Protagonista — A forma como cruzas as pernas… o copo que giras sem beber… esse sorriso que nunca é completo. Isso é resistência disfarçada.

Ela inclinou-se um pouco mais, reduzindo a distância. A proximidade fez o perfume dela envolver-me de forma quase intoxicante.

Mulher — Ou talvez seja só a forma de te manter interessado.

Protagonista — Nesse caso, parabéns. Conseguiste.

Ela riu, baixa, quase no meu ouvido. O som fez a minha pele arrepiar.

Mulher — Estás a falar como se já soubesses o fim desta noite.

Protagonista — Não. Eu nunca adivinho finais… prefiro escrevê-los.

Ela ficou alguns segundos em silêncio, observando-me com um olhar que oscilava entre cautela e entrega.

Mulher — Tens esse ar… seguro de ti. Quase perigoso.

Protagonista — E tu tens esse ar… de quem gosta de brincar com o perigo.

O jogo estava cada vez mais íntimo, cada frase carregava uma promessa escondida. A tensão já não era apenas verbal; estava nos olhares demorados, nos gestos pequenos, no ritmo desacelerado das palavras.

Ela bebeu o último gole do copo, devagar, antes de pousá-lo de novo na bancada.

Mulher — Sabes… há uma parte do bar onde só deixam entrar convidados especiais.

Protagonista — Estás a convidar-me?

Mulher — Talvez. Mas ainda não decidi se mereces.

Eu inclinei-me para ela, aproximando os lábios do ouvido, deixando a voz descer para um tom quase sussurrado.

Protagonista — Então dá-me a chance de provar que mereço.

Ela mordeu o sorriso e, sem responder, pousou a mão no meu braço — leve, quase impercetível, mas firme o suficiente para me guiar.

E assim, como num pacto silencioso, levantou-se e fez sinal para que a seguisse até a porta discreta ao fundo do bar.

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