Capítulo 4

O silêncio depois do desejo e depois do pedido da Fernanda parecia pesado. A respiração dos dois ainda estava acelerada, ofegantes o cheiro de chuva misturado ao calor da pele dominava o escritório. Apolo afastou-se dela, ajeitando a camisa aberta e os cabelos bagunçados.

— Eu vou tomar banho. — disse seco, levantando-se.

Fernanda sorriu maliciosa, mordendo o lábio.

— Então eu vou junto.

Apolo parou no meio do caminho, olhou para ela com seriedade e falou firme:

— Fernanda, você sabe que eu não sou pessoa para namoro. Eu já lhe disse isso. Banho junto, pra mim, já é demais.

Ela se levantou, caminhando até ele, insistente:

— Ah, Apolo… é só um banho. Não precisa transformar isso num drama. A gente já fez coisa muito mais íntima que isso.

Ele respirou fundo, a paciência se esgotando.

— Independente Fernanda, eu disse não. Não insiste.

O tom de voz firme cortou o ar. Fernanda parou por um instante, sentindo a barreira que ele ergueu, mas não desistiu.

— Você sempre faz isso. Me deixa sentir que tem algo mais, e depois joga um balde de gelo.

Apolo virou as costas e saiu em direção ao quarto.

— Porque não tem. Nunca teve e você saber bem disso. — jogou por cima do ombro.

Ela ficou parada, mordendo os lábios com raiva e dor, mas logo o seguiu.

No banheiro, a água quente escorria pelo corpo de Apolo. Ele apoiou as mãos na parede de azulejos, deixando a mente vagar. “O que eu tô fazendo? Não sinto nada. Não mais. Fernanda é só fixação… uma companhia que não cobra demais, na verdade as vezes cobra demais como se fosse minha namorada. Nem quando eu era casado a Clara era assim. Mas não é só ela. Eu tenho outras. Ela sabe disso. Desde o começo e eu dou total liberdade para ela se . envolver com qualquer pessoa”

Ele fechou os olhos, deixando a água cair forte sobre a nuca. Mas o barulho da porta se abrindo o trouxe de volta.

— Fernanda! — exclamou, erguendo o olhar quando a viu entrando. — Eu já disse que não. Não vai entrar.

Ela apoiou-se no batente, quase nua, o olhar cheio de desejo e também de desafio. — Por que não? Você tem medo de sentir alguma coisa? De se apaixonar por mim?

Ele desligou o chuveiro de imediato, pegou a toalha e se enrolou. Ainda deu uma risada um pouco sarcástica. — Medo? E eu me apaixonar por você?

Fernanda diz com um sorriso no rosto. — Sim, medo de se apaixonar por mim!

Apolo responde friamente. — Não é medo, é regra, sempre foi. Você sabia disso desde o primeiro dia, não inventa agora. E eu nunca me apaixonaria por você!

Fernanda cruzou os braços, magoada. — Você é frio demais, Apolo. Eu não sei como aguentei tanto tempo. E porque você nunca se apaixonaria por mim?

Ele saiu do banheiro sem olhar para trás. — Porque você sempre soube o que era, não confunde as coisas. Eu nunca me apaixonaria por você pelo simples motivo de você sem querer mandar na minha vida, eu não sou cachorro e você também não é minha dona!

Ela o seguiu até o quarto, ainda insistindo. — Um ano, Apolo! Um ano nessa história… você me usa, me chama quando quer, me manda embora quando bem entende… e eu aceito porque gosto de você! E eu não quero ser sua dona, mas

Apolo se virou de repente, a voz mais alta: — Então a culpa é sua, Fernanda! Eu nunca prometi nada. Nunca disse que ia ser diferente. Você entrou nisso sabendo o que era. Agora aceite as consequências, se quiser ir embora a porta é serventia da casa.

Ela engoliu em seco, os olhos marejando. — Você podia ao menos ser menos cruel… Nesse caralho!

— Cruel seria deixar você achar que existe algo além disso. — Ele passou a toalha pelo cabelo, impaciente. — Vai se vestir, Fernanda. Eu preciso dormir. Amanhã eu trabalho cedo.

Ela piscou, segurando o choro. — Então é só isso que eu sou pra você?

Ele olhou firme, quase duro demais: — Foi sempre isso. Companhia, prazer. Nunca amor. Você sabia.

O silêncio caiu como um soco. Fernanda virou-se devagar, vestindo-se em silêncio, tentando esconder o choro.

Quando saiu do banheiro, ainda arrumando a roupa, perguntou com a voz baixa: — Me leva pelo menos amanhã? Minha casa é no caminho da sua escola…

Apolo ajeitava os livros na escrivaninha. — Não. — respondeu sem hesitar. — Eu chamo um táxi pra você.

Ela se aproximou um pouco, como se buscasse um resto de humanidade nele. — Nem isso, Apolo? Nem uma carona?

Ele se virou, sério, sem se abalar. — Não vou misturar as coisas. Você vai embora de carro pago, mas não comigo.

As lágrimas desceram de vez no rosto dela. — Você é mesmo impossível…

— E você é abusada, Fernanda. Sempre foi. Mas se acostumou porque eu nunca disse diferente. Agora eu tô dizendo: não insiste.

Ela respirou fundo, a voz embargada. — Um dia você vai sentir falta de alguém que só queria te dar carinho.

Apolo não respondeu. Voltou-se para os papéis da mesa, como se nada tivesse acontecido.

Fernanda saiu do quarto devagar, o som dos pés descalços pelo corredor do apartamento era abafado pela chuva que ainda caía lá fora. Pela primeira vez em um ano, ela sentiu que não havia mais nada para insistir. E Apolo, mesmo ouvindo o choro engolido dela no corredor, não pediu desculpas. Não olhou para trás. Não era o tipo de homem que olhava para trás.

A manhã amanheceu com a chuva fina ainda batendo nas janelas do apartamento. O cheiro de terra molhada entrou pelos vidros, misturando-se ao leve aroma de café recém-preparado na cozinha, que Apolo havia deixado pronto antes de se aproximar do quarto. Ele segurou a maçaneta por um instante, respirou fundo, e bateu levemente na porta de madeira.

— Fernanda… — chamou com a voz firme, mas baixa, quase hesitante. — Podemos conversar um pouco?

Do outro lado, a voz dela respondeu, ainda sonolenta: — Hum… Claro.

Ele abriu a porta devagar, evitando movimentos bruscos, e entrou no quarto. Ela estava sentada na cama, os cabelos ainda levemente úmidos da chuva da noite anterior, o rosto com traços de quem dormira pouco. O contraste entre a fragilidade daquele instante e a mulher forte que ele conhecia fez com que Apolo travasse por um segundo.

— Eu… — começou Apolo, coçando a nuca, olhando nos olhos dela. — Queria pedir desculpas, Fernanda. Acho que fui duro demais ontem à noite. Eu estava de cabeça quente, e… acabei falando coisas de forma fria, sem considerar como você se sentia.

Ela olhou para ele com os olhos levemente marejados, mas abriu um sorriso pequeno, quase tímido.

— Tá tudo bem, Apolo. Eu também exagerei um pouco… A gente tava… enfim. — Ela deu de ombros, tentando rir da situação. — Aceito suas desculpas.

Apolo relaxou, sentindo o peso da tensão da noite anterior diminuir um pouco. Ele se aproximou da janela e abriu as cortinas, deixando a luz cinza da manhã entrar, iluminando os pequenos detalhes do quarto que agora pareciam mais suaves.

— Bom… então que tal a gente tomar um café? — sugeriu, um pouco mais leve, tentando quebrar o clima ainda carregado.

Ela assentiu e seguiu-o até a cozinha. Ele preparou duas xícaras de café fumegante, e sentaram-se à mesa pequena perto da varanda, observando as gotas de chuva escorrerem pelo vidro. O silêncio era confortável, quase intimista, cheio da intimidade construída em anos de proximidade.

— Sabe… — começou Fernanda, mexendo na xícara. — Eu gosto dessas manhãs com você. Mesmo com tudo… — ela parou, desviando o olhar, um leve rubor subindo às bochechas.

— Eu também. — respondeu Apolo, firme, mas com um toque de suavidade. — Mas você entende que não posso dar carona hoje, né? Tenho que passar na casa da Giovana antes de ir para o trabalho.

Ela sorriu, compreensiva: — Sem problemas, Apolo. Tá tudo bem. Eu pego um táxi.

Ele assentiu, o canto da boca quase esboçando um sorriso discreto. Depois de terminar o café, levantou-se e foi até a porta, pegando o telefone para chamar um táxi para ela.

— Pronto. Tá tudo certo, Fernanda. O carro chega em alguns minutos. — disse, a voz firme, mas sem a frieza de antes.

Ela se levantou, arrumando o casaco e o cabelo. — Obrigada. — falou, e ele percebeu que havia um brilho de afeto no olhar dela.

— De nada. — respondeu, mantendo a distância emocional, mas sem perder a gentileza. — Lembre-se: nada muda do que a gente sempre teve. — Ele lhe dá um beijo de leve na boca.

Ela assentiu, e retribuiu o beijo entendendo o limite que ele estabelecia, e saiu do apartamento com o táxi, deixando Apolo sozinho. Ele suspirou, recolhendo as xícaras, pensando em como era difícil equilibrar o desejo e o distanciamento.

Com o carro de Fernanda saindo pela rua molhada, ele pegou o chaveiro e saiu em direção à casa da irmã Giovana, no Costa Azul. O trânsito matinal ainda era tranquilo, e o som da chuva se misturava com os ruídos de Salvador acordando. Chegando ao prédio da irmã, percebeu que ainda era cedo. Alguns vizinhos abriam portas, crianças corriam para a escola. Ele subiu rapidamente até o apartamento, tocando a campainha.

Giovana

Giovana abriu a porta quase imediatamente, ainda de pijama, com os cabelos presos em um coque desajeitado. — Apolo! Não esperava você tão cedo. — disse ela, surpresa, mas sorrindo ao mesmo tempo. — Entre, entre.

— Prefiro chegar cedo do que atrasado — respondeu ele, entrando, fechando a porta atrás de si. — Bom dia, Gi.

Ela o guiou até a sala, onde Daniel seu cunhado já tomava café, e suas sobrinhas circulavam pelo apartamento, ainda meio sonolentas que nem reparam ele ali no sofá aí.

— Bom dia, Apolo! — cumprimentou Daniel, estendendo a mão. — Chegou cedo hoje, hein?

— Sempre achei melhor estar aqui antes do trabalho começar. — Apolo respondeu, cumprimentando-o com um aperto firme de mão. — Como estão todos?

Gi sorriu e se sentou no sofá, cruzando as pernas: — Tudo bem… Mas precisamos conversar sobre o fim de semana, sobre a visita aos nossos pais. E… sobre você e a Fernanda. — Ela arqueou a sobrancelha, provocativa. — Tá enrolando essa menina ainda, né Apolo?

Apolo respirou fundo, ajeitando-se na poltrona: — Giovana, não tem enrolação. Nada sério entre nós. Ela sabe que é só… casual, sem compromisso. — Ele olhou para a irmã com sinceridade. — Quero que você entenda isso, não é algo para confundir.

Ela assentiu, ainda curiosa, mas satisfeita com a resposta. Apolo percebeu que, poderia relaxar um pouco e começou a observar a família ao redor.

Aurora

Isis

A sobrinha do meio, prestes a completar 6 anos Aurora, olhava para ele com um sorriso tímido enquanto mexia na xícara de leite. A mais novo, talvez com uns 3 anos Isis, tentava pegar o pão na mesa sem se fazer notar.

Daniel

— Então, Apolo — disse Daniel, mudando de assunto — como vão as aulas? Algum aluno te dando trabalho? — Ele tomou um gole de café, curioso.

— Ah… alguns sim, mas nada fora do normal. Este início de ano está sendo intenso. — Apolo respondeu, e um sorriso quase cansado passou pelo seu rosto. — Os alunos estão focados, mas sabe como é, a adolescência tem seus altos e baixos.

— E com os jogos da Copa? Viu o Brasil no começo do ano?

— Giovana entrou na conversa, animada. — Aquela partida contra a Suécia! Que sufoco!

Apolo riu, lembrando do campeonato: — Sim, vi. Foi um jogo marcante. Lembro que quase não respirava nos minutos finais. E Ronaldo, claro… impressionante como sempre. — Ele comentou, deixando que a memória do futebol nacional misturasse-se à rotina da família.

Enquanto conversavam, a sobrinha de 12 anos, Luísa entrou na sala, toda animada:

Luísa

— Tio Apolo, posso ir com você para a escola hoje? É perto… — pediu, com aquele jeitinho esperto.

— Claro, minha flor, mas precisa se arrumar antes. Vou esperar você terminar, tá bom? — respondeu ele, com paciência e um sorriso no rosto.

Enquanto Luísa subia para se preparar, Apolo se voltou para a irmã:

— E a Paula? Como está? — perguntou casualmente, referindo-se à irmã mais nova deles.

— Ah, você sabe… sempre ocupada, mas boa. — Giovana deu de ombros. — Aliás, a gente tem que combinar de passar nos nossos pais neste fim de semana. Acho que seria bom todos juntos, o que acha?

— Concordo. — Apolo respondeu, olhando para o cunhado que apenas assentiu. — Só preciso organizar algumas coisas do trabalho antes.

Eles conversaram sobre aulas, alunos rebeldes, notas e provas, pequenos eventos no colégio e até estratégias para lidar com certas turmas. O cunhado comentou sobre um jogo do Campeonato Brasileiro de 1994 que tinha assistido, e Apolo entrou na conversa, detalhando táticas, desempenho de jogadores e momentos decisivos. A conversa fluiu naturalmente, com risadas ocasionais e lembranças de infância.

Quando a sobrinha terminou de se arrumar, desceram juntos pelo prédio. O ar ainda estava úmido da chuva, e o cheiro de terra molhada misturava-se ao da maresia que vinha da praia próxima. O sol começava a se abrir por entre nuvens pesadas, iluminando a rua de forma tímida. Apolo caminhava ao lado de Luíza, que ajeitava a mochila nos ombros, falando animadamente sobre a prova de matemática que teria naquele dia.

Ao passar por um prédio vizinho, Apolo diminuiu o passo. Algo chamou sua atenção. Na frente do prédio vizinho, uma silhueta feminina apareceu, ajeitando os cabelos cacheados. O rosto lhe pareceu imediatamente familiar. Safira.

O impacto foi instantâneo. O coração dele disparou por um segundo, como se tivesse sido pego desprevenido. O olhar demorou-se mais do que deveria, e antes que pudesse disfarçar, a sobrinha percebeu.

— Tá olhando pra onde, tio? — perguntou Luíza, franzindo a testa, curiosa.

Apolo pigarreou, tentando recompor-se. — Pra lugar nenhum. Só observando o trânsito. — murmurou, desviando os olhos rapidamente.

Mas a garota, esperta como era, não deixou passar. Ela seguiu o olhar dele até a janela do prédio vizinho e arregalou os olhos: — Ah! Eu conheço ela… é Safira!

Apolo virou-se para a sobrinha, tentando manter o tom neutro. — Você conhece ela?

Luíza sorriu, balançando a cabeça afirmativamente, como quem revelava um segredo trivial. — Conheço sim. A gente é amigas. Porque nossos prédios são quase colados um no outro, e tem aquele gramado na frente, sabe? Todo mundo da vizinhança se encontra lá. Eu e ela já brincamos várias vezes.

O coração de Apolo acelerou de novo. Ele tentou manter a expressão controlada, mas sua mente começou a conectar pontos rapidamente. Safira, ali, tão perto, dentro de uma rotina que até então ele não percebeu.

— Hum… E vocês se veem sempre? — perguntou, tentando soar casual.

— Às vezes sim, às vezes não. Ela tem outros amigos também, tipo a Thai e o Vini. Eles são os melhores amigos dela, inseparáveis. Mas a gente se dá bem. — Luíza contou, balançando a mochila. — Eu já dormi uma vez na casa dela, num aniversário, foi bem divertido. Depois ela também dormiu lá em casa um dia.

Apolo arqueou as sobrancelhas, fingindo desinteresse, mas por dentro a cabeça dele fervia. Ele lembrou de Safira com clareza — aquele rosto, aquele jeito marcado na memória. Era estranho pensar que ela tinha estado tão próxima, até em convívio com sua família, sem que ele tivesse se dado conta.

— Interessante… — murmurou, tentando disfarçar. — E ela é… como é?

Luíza sorriu, já percebendo o interesse do tio. — É legal, tio. Meio quieta às vezes, mas quando abre a boca, fala mesmo. E dança bem também. Ela adora música.

O silêncio de Apolo se prolongou por alguns segundos, até que a menina resolveu provocar:

— Ué, tio, você conhece ela também?

Ele desviou o olhar para a rua, respirou fundo e respondeu baixo: — Conheço.

A sobrinha arregalou os olhos, surpresa: — Sério? Então por que você não falou antes?

Apolo sorriu de canto, sem entregar demais: — Porque eu queria saber um pouco mais sobre ela.

Ela riu, balançando a cabeça. — Ah, mas agora eu fiquei curiosa! O senhor conhece ela de onde, tio?

— Ela é minha aluna, conheço ela desde quando ela entrou lá na escola que eu trabalho.

— Então… se o senhor conhece ela, por que não chama pra dar carona também?

Apolo a olhou de lado, surpreso com a naturalidade da sugestão. — Não, melhor não Luísa. — respondeu firme, mas a mente já lhe pregava peças.

— Ia ser mais fácil pra ela, tio.

— Ela deve ir com alguém. — Apolo rebateu, lembrando da família dela.

— É, geralmente vai com o irmão. — Luíza confirmou, pensativa. — Mas não custa oferecer, né, tio?

Ele respirou fundo, olhando rapidamente de volta para o prédio onde Safira tinha aparecido, mas já estava vazia. A imagem dela, porém, permanecia nítida na mente dele. O coração parecia insistir numa lembrança que ele não queria alimentar.

— Deixa isso pra lá, Luíza. — murmurou, quase ríspido, mas depois suavizou o tom. — Melhor não.

A sobrinha, ainda curiosa, sorriu de canto, como se tivesse entendido mais do que o tio gostaria de admitir.

— Tá bom, tio.... — disse, com aquele tom maroto de adolescente que gosta de provocar.

Apolo não respondeu. Apenas apressou o passo até a escola, tentando sufocar as perguntas que vinham em sua mente. Deixou a sobrinha na porta, desejou-lhe boa aula, e seguiu para o trabalho.

Mas, enquanto dirigia, a cena repetia-se dentro dele como um filme em câmera lenta. O impacto de ver Safira ali, tão perto, misturado com a revelação inocente da sobrinha, deixava-o inquieto. Era como se ele tivesse perdido no mundo.

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Comments

LalyGamer 590

LalyGamer 590

História emocionante! 😢

2025-09-02

1

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