Capítulo 2

Capítulo 2 – A vida de Juliana

Quando fecho os olhos e volto no tempo, não vejo silêncio. Vejo barulho. Muito barulho. Gente correndo, chorando, rindo, brigando, chamando pelo meu nome.

Nasci em Roma, em 1959, e fui a 10ª filha de um total de 20. Sim, vinte. Minha mãe, Graziela, deu à luz seis pares de gêmeos ao longo da vida, e eu sempre digo que ela devia ter ganhado um prêmio por isso. Meu pai, Lorenzo, era um homem simples, vendedor no mercado central, mas com uma paciência que eu nunca vi igual.

A casa onde crescemos era apertada para tanta gente, mas sempre cheia de vida. O cheiro de pão assando misturava com o de café fresco, e o som da rua entrava junto com o som da família: portas batendo, risadas, brigas por causa de brinquedos e vestidos emprestados sem pedir. Eu era a do meio, o que significa que não era nem a mais paparicada nem a mais responsável. Mas eu tenho uma irmã gemia que é mais nova que eu 15 minutinhos o nome dela é Jaqueline e por um tempo a gente não ia muito uma com a cara da outra, mas no entanto atualmente nós damos muito bem. Isso me dava uma certa liberdade, mas também me fazia sentir… invisível, às vezes por ter tantos irmãos e irmãs.

Desde pequena, aprendi a dividir tudo — comida, espaço, roupas, sonhos. Acho que foi aí que cresceu em mim essa necessidade de conquistar algo que fosse só meu. Talvez por isso, quando conheci Enzo, eu tenha me agarrado à ideia de que ele poderia ser esse “meu” no meio do caos. Conheci Enzo quando tinha 18 anos, numa ida à loja de sapatos do tio dele, onde minha mãe comprava sempre que precisava calçar tantos pés de crianças. Ele me atendeu com aquele sorriso seguro, fez um comentário bobo sobre meus olhos, e eu… ri. Simples assim. Não tinha nada de extraordinário naquele momento, mas foi o suficiente pra plantar uma semente.

No começo, ele parecia perfeito: educado, atencioso, sabia falar de um jeito que me fazia sentir única, coisa que eu não sentia nem dentro da minha própria casa, com tantos irmãos. Passeios de lambreta, flores baratas, cartas cheias de promessas — e eu acreditava em todas. Até porque eu era inocente demais pra perceber qualquer outra coisa. Casei com 21 anos. Minha mãe me achava jovem demais, mas ela mesma tinha se casado cedo, e no fundo acho que estava orgulhosa. Meu pai gostava do Enzo. Dizia que ele tinha “boa postura” e que saberia cuidar de mim.

O primeiro ano de casamento foi doce. Vivíamos num pequeno apartamento em Roma, ríamos muito, eu cozinhava e sonhava com uma família pequena — duas crianças, no máximo. Não queria repetir a história da minha mãe, não porque não amasse meus irmãos, mas porque eu queria tempo para viver cada filho. Davi nasceu quando eu tinha 22 anos. Enzo chorou no parto, prometeu que ia ser o melhor pai do mundo. Por um tempo, parecia que seria verdade. Mas, aos poucos, as ausências começaram. As desculpas também.

Quando Safira chegou, seis anos depois, eu já sentia o peso da solidão dentro do casamento. Enzo parecia cada vez mais distante, e eu me ocupava cuidando das crianças e tentando tapar os buracos que ele deixava.

Hoje, olhando para trás, sei que já havia sinais de que nossa história iria ruir. Mas, naquela época, eu acreditava que, com esforço, eu conseguiria manter tudo de pé.

Eu estava errada.

Sabe quando a gente sente que algo mudou, mas não sabe exatamente o quê? Foi assim que começou. O cheiro dele estava diferente, os horários já não batiam, e, de repente, tinha perfume de mulher na camisa que não era meu, perfumes adocicados do qual eu não reconhecia e não usaria por nada até porque tanto eu quando os meus filhos tínhamos alergia a perfumes muito doce e aquele era um perfume irritativo. Ele dizia que era “coisa da rua”, que eu estava ficando neurótica. Eu fingia acreditar. Até que parei de fingir.

As ausências começaram a ter hora marcada: toda quinta-feira à noite, “reunião com amigos do trabalho”. Chegava tarde, com o cabelo desalinhado, e um sorriso torto que não me convencia. Eu conhecia aquele sorriso… não era de quem estava cansado. Era de quem estava escondendo algo.

O pior é que, por ser minha amiga desde a adolescência, Francisca frequentava nossa casa, conhecia meus filhos, sentava à mesa comigo. Nunca passou pela minha cabeça que ela poderia ser a “outra”. Mas foi ela. E foi justamente isso que me matou por dentro: não só perdi meu marido, perdi minha amiga.

A noite da descoberta ainda é um corte aberto na minha memória. Eu tinha deixado uma pasta de documentos na casa da Francisca, e, como já era de casa, entrei sem bater na porta o que era normal. Lá de baixo, ouvi risadas abafadas vindas do quarto dela. Uma das risadas… eu conhecia. E não era a dela. Era a dele. Subi as escadas com o coração martelando nas costelas. Quando abri a porta…

Juliana: Enzo?! (Minha voz saiu cortando o ar.)

Ele estava lá. Nu. Ela também. E os dois rindo como se aquilo não fosse a pior cena da minha vida.

Não lembro exatamente a ordem das coisas. Sei que voei em cima dele primeiro. O soco que dei no peito fez ele cambalear. Depois foi a vez dela: um puxão de cabelo que deve ter arrancado metade. Gritei, xinguei, bati com toda a força que eu tinha acumulado de todas as vezes que chorei escondido no banheiro para as crianças não ouvirem.

Juliana: Você destruiu tudo, nossos anos de casado foram por água abaixo e vc me troca por essa puta! (Eu berrava.)

Enzo: Foi um erro… Eu não queria fazer isso, eu juro mon chérie .(Ele dizia, tentando se cobrir.)

Juliana: Erro é confiar em você! Erro é achar que você era homem suficiente pra cuidar da própria família! E nunca mais se ouse a me chamar de mon chérie seu vagabundo!

No meio do caos, ouvi os passinhos do Davi no corredor e acabei me esquecendo que as crianças tinham vindo comigo. Mandei ele descer com Safira no colo e esperar na sala. Ele obedeceu, mas sei que ouviram os gritos de lá de baixo. A discussão durou horas. Eu o expulsei de casa naquela noite, mas ele ainda tentou voltar no dia seguinte. Não deixei. Poucos dias depois, ele sumiu de vez.

Foi só quando as crianças foram passar uns dias na casa da minha mãe, para eu tentar respirar, que o destino me deu outro choque: estava grávida. Descobri no consultório do médico. A mão suava, o estômago revirava, e a única coisa que consegui pensar foi: “Meu Deus! mais um filho dele! Como isso foi acontecer?” Sei que isso pode soar sarcástico, mas já tinha algum tempo ao qual eu e ele não nós relacionamos. Mas eu lembro de uma vez específica que os meninos foram para casa de minha irmã, ele chegou em casa sob efeito de algumas bebidas, acabou que nós bebemos um pouco de vinho o clima foi ficando quente coisa que já não acontecia a alguns anos.

Ele me levou para o quarto e foi naquele dia que tudo isso aconteceu, a gente fez sem cautela, sem análises, eu estava no período fértil sem saber. Engravidei de primeira, mas não tive sintomas nenhum da gravidez.

Quando cheguei em casa chorei até não ter mais lágrimas, não era culpa da criança — nunca seria. Mas a ferida ainda estava aberta, e a ideia de trazer outra vida ao mundo, sozinha me apavorava. Nesse momento, decidi que não importava o que fosse preciso, eu ia criar meus filhos longe de qualquer sombra dele. Foi quando comecei a planejar a mudança conversei com outra amiga que morava na Itália, mas se mudou para o Brasil então eu resolvi que iria para lá fiz o comunicado algumas pessoas da minha família dizendo que me mudaria para o Brasil e que não saberia quando irá voltar.

Ninguém além dessa amiga minha sabia dessa minha gravidez e foi melhor assim pois depois de alguns meses que a gente chegou no Brasil em um dia específico eu estava na faculdade e acabei passando mal e fui levada para enfermaria, quando cheguei lá eu acabei descobrindo tinha perdido o meu bebê. Eu tinha pouco tempo de gestação não sabia nem o sexo ainda, eu tava com uns 4 meses quando perdi o meu bebê e enterrei isso junto com ele e junto com os meus sentimentos. A única pessoa que sabia era minha amiga meus filhos não fazem ideia que isso aconteceu eu prefiro continuar poupando eles disso até hoje, mas sei que um dia de alguma forma eles irão descobrir.

Atualmente moramos no Costa Azul em Salvador perto da praia. Safira tem 14 anos irá fazer 15 anos está no primeiro ano do segundo grau, Davi já em 21 já concluiu a faculdade de administração que ele sempre quis fazer. A Safira estuda no colégio São Paulo desde pequena e continua lá até hoje e o Davi ele estudou por um período lá, mas pediu para sair e eu tirei ele. Atualmente não temos contato nenhum com o pai e ele também nunca mais tentou entrar em contato. O Davi não demonstra muita coisa depois do abandono do pai, mas eu sei que afetou bastante foi a Safira, pois ela não consegue confiar em homem nenhum.

Assim ela confia no Davi que é irmão dela, nos meus irmãos, nos meus cunhados e algumas pessoas que viram ela pequena. Mas são essas pessoas como parentes muito próximos que ela conhece, alguns primos ela já olha torto e alguns professores da escola também.

Isso foi algo que eu sempre tentei ensinar para ela, que ninguém é culpado por nada que o pai dela fez, mas ela continua dizendo que ela não confia em homem e que homem é tudo igual já cheguei a ser chamada duas vezes na secretaria por arrogância da Safira com outros professores um professor específico de matemática o Apolo. O coitado é aquele professor que parece tentar entender ela, mas quanto mais ele tenta mais a Safira toma raiva dele e isso é desde do sexto ano. Quando eu não consigo ir para esses ocorridos de última hora quem vai resolver é o Davi então às vezes ele sabe de mais situações do que eu, mas eu penso que dia isso melhora pode ser a fase da adolescência e um dia tudo amadurece na cabeça dela. Ela vai entender que nem todo homem é que nem o pai dela ou que nem todo homem é culpado pelo que ocorreu nenhuma pessoa é igual ao outro.

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