A Noite do Eclipse

O céu de Raventon estava tingido de vermelho profundo. As nuvens se moviam como se fossem puxadas por uma força invisível, e o ar parecia mais denso, mais elétrico. Alaric observava o horizonte com olhos preocupados.

— Está começando — ele disse. — O eclipse não é apenas um fenômeno astronômico. É um portal. E Lucien vai atravessá-lo.

Helena sentia a marca em seu pulso arder. Não era dor — era chamado. Como se algo dentro dela estivesse sendo acordado contra sua vontade.

Damon segurou sua mão com firmeza.

— Estou com você. Não importa o que aconteça.

Ela assentiu, tentando ignorar o medo que crescia em seu peito.

Alaric os levou até o antigo cemitério da cidade, onde as linhas de energia mágica se cruzavam. No centro, havia um círculo de pedras com símbolos ancestrais. Era ali que o eclipse atingiria seu ponto máximo.

— Fiquem dentro do círculo — disse Alaric. — Ele vai proteger vocês. Mas só até Lucien decidir quebrar as regras.

O céu escureceu de repente. A lua começou a se mover diante do sol, e uma sombra profunda caiu sobre Raventon. O vento parou. O tempo pareceu congelar.

E então, ele apareceu.

Lucien Moreau surgiu entre as árvores, envolto em uma névoa escura. Os olhos dele brilhavam com um tom violeta, e o sorriso era puro veneno.

— Que reencontro bonito — ele disse, caminhando lentamente. — Helena, você está ainda mais radiante do que eu lembrava.

Damon deu um passo à frente.

— Fica longe dela.

Lucien riu.

— Sempre tão protetor, irmão. Ou deveria dizer... traidor?

Helena franziu o cenho.

— Irmão?

Lucien olhou para ela com prazer.

— Ah, ele não te contou? Somos da mesma linhagem. Filhos da Rosa Negra. Mas enquanto ele fugiu do poder, eu abracei cada gota.

Damon cerrou os punhos.

— Você matou inocentes. Corrompeu tudo que tocou.

— E você desperdiçou o que era seu por medo. Mas agora... Helena vai escolher. E eu sei que ela sente. A marca já despertou.

Helena sentiu o pulso latejar. A marca brilhava com uma luz escura, como se respondesse à presença de Lucien.

— Eu não sou sua arma — ela disse, firme.

Lucien se aproximou do círculo, mas não entrou.

— Ainda não. Mas quando o eclipse atingir o ápice... você vai sentir o que é ser completa. E então, veremos quem você realmente é.

A lua cobriu o sol por inteiro. O mundo mergulhou em escuridão. E Helena caiu de joelhos, tomada por uma energia que não conseguia controlar.

Damon correu até ela, segurando-a nos braços.

— Fica comigo. Respira. Você é mais forte do que isso.

Ela olhou para ele, os olhos agora tingidos de violeta.

— Eu... não sei se consigo...

Alaric começou a entoar um cântico antigo, tentando conter a energia. Mas Lucien apenas sorriu.

— É inútil. Ela já começou a se transformar.

Helena gritou, e uma onda de energia explodiu do círculo, lançando Damon e Alaric para trás. Lucien entrou no círculo, agora vulnerável.

— Escolhe, Helena — ele disse. — O poder... ou o amor.

Ela olhou para Damon, caído no chão, sangrando. Olhou para Lucien, estendendo a mão.

E então, com o último fio de consciência, ela fez sua escolha.

— Eu escolho... mim mesma.

Uma luz branca explodiu da marca. Lucien gritou, sendo lançado para fora do círculo. Helena desmaiou nos braços de Damon, exausta, mas intacta.

O eclipse começou a se desfazer. A luz voltou ao mundo.

Alaric se aproximou, aliviado.

— Ela resistiu. Mas isso foi só o começo.

Damon segurou Helena com força.

— E eu não vou deixá-la enfrentar isso sozinha.

A luz do eclipse se dissipava lentamente, como se o mundo estivesse despertando de um pesadelo. O céu voltava ao azul pálido, mas o ar ainda carregava uma tensão invisível — como se algo tivesse sido quebrado, ou libertado.

Helena abriu os olhos devagar. Estava deitada sobre o chão frio do círculo de pedras, com Damon ajoelhado ao seu lado, o rosto marcado por preocupação e alívio.

— Você voltou — ele disse, com a voz rouca.

Ela tentou se sentar, mas o corpo parecia pesado, como se tivesse corrido por dias sem parar.

— O que aconteceu?

Alaric se aproximou, limpando o sangue de um corte na testa.

— Você resistiu à invocação. Quando escolheu a si mesma, a Rosa Negra respondeu com luz. Mas isso não significa que o poder foi contido. Apenas... adiado.

Helena olhou para o pulso. A marca ainda estava ali, mas agora envolta por uma aura branca, como se tivesse sido purificada — ou selada.

— Eu senti tudo — ela disse, com a voz baixa. — O poder. A escuridão. A tentação. Era como se Lucien estivesse dentro de mim, sussurrando.

Damon segurou sua mão.

— Mas você venceu. Você escolheu não se perder.

Ela olhou nos olhos dele.

— Eu escolhi não ser de ninguém. Nem dele. Nem sua. Eu escolhi ser minha.

Damon assentiu, respeitando a força dela.

— E é por isso que eu te amo. Porque você nunca se curva. Nem ao destino.

Alaric interrompeu com um tom mais sério.

— Mas Lucien não foi derrotado. Apenas recuou. Ele vai tentar de novo. E da próxima vez, não será durante um eclipse. Será quando vocês menos esperarem.

Helena se levantou com dificuldade.

— Então precisamos nos preparar. Descobrir tudo sobre essa marca. Sobre minha mãe. Sobre o que realmente sou.

Damon a apoiou com o braço.

— E eu vou estar com você. Não como escudo. Mas como aliado.

Alaric olhou para os dois com um misto de esperança e preocupação.

— A Rosa Negra floresceu. Mas ainda não desabrochou. E quando isso acontecer... o mundo vai mudar.

Helena olhou para o horizonte, onde o sol começava a se firmar novamente.

— Então que o mundo mude. Mas que seja pela minha escolha.

E com isso, ela deu o primeiro passo fora do círculo. Não como vítima. Não como herdeira. Mas como guerreira.

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