A estrada para Raventon era estreita e cercada por árvores altas, que pareciam observar cada passo. O silêncio era quase sobrenatural. Damon dirigia em silêncio, os olhos fixos na estrada, enquanto Helena observava a paisagem com o diário de Eleanor aberto sobre o colo.
— Você está quieta — ele disse, sem tirar os olhos da estrada.
— Estou pensando — ela respondeu. — Tentando entender se o que estamos fazendo é certo. Se confiar em você de novo é certo.
Damon apertou o volante com mais força.
— Eu entendo. Mas não posso mudar o passado. Só posso estar aqui agora.
Helena fechou o diário e olhou para ele.
— E se o agora não for suficiente?
Damon parou o carro no acostamento. Virou-se para ela, os olhos ardendo com emoção.
— Então me diz o que é suficiente, Helena. Me diz o que você precisa pra acreditar em mim.
Ela hesitou. O orgulho falava mais alto. A dor ainda era recente. Mas havia algo mais profundo: o medo de se entregar e se perder de novo.
— Eu preciso que você pare de tentar me salvar. E comece a me ouvir.
Damon recuou, surpreso.
— Eu achei que estava te protegendo.
— Mas você nunca perguntou o que eu queria. Sempre decidiu por mim. Fugiu por mim. Voltou por mim. Mas nunca me deixou escolher.
O silêncio entre eles era denso. Damon abaixou o olhar.
— Você tem razão. E eu... não sei como mudar isso.
Helena tocou o pingente que agora estava de volta ao seu pescoço.
— Começa por aqui. Me deixa decidir o que fazer com o que sinto. Com o que sei. Com o que sou.
Damon assentiu, com humildade.
— Então eu vou te seguir. Não como protetor. Mas como parceiro.
Eles voltaram à estrada. Raventon surgiu no horizonte como uma cidade esquecida pelo tempo — casas abandonadas, postes tortos, janelas quebradas. Mas havia uma energia ali. Algo que pulsava sob a terra.
No centro da cidade, uma igreja antiga ainda permanecia de pé. Helena desceu do carro e caminhou até a porta. Gravado na madeira, estava o símbolo da Rosa Negra.
— É aqui — ela disse.
Damon se aproximou.
— Alaric vive aqui?
— Se vive... ele já sabe que chegamos.
A porta se abriu sozinha, rangendo como se desse boas-vindas. E ali, no altar coberto de poeira, um homem de cabelos brancos e olhos dourados os esperava.
— Helena Vasconcellos — ele disse, com voz grave. — A guardiã desperta. E Damon Salvatore... o elo quebrado.
Helena deu um passo à frente.
— Estamos aqui pra entender. Pra lutar. Pra escolher.
Alaric sorriu.
— Então preparem-se. Porque o amor que vocês carregam será testado. E o orgulho que os separa... será a primeira batalha.
Alaric desceu lentamente os degraus do altar, os olhos fixos em Helena. Havia algo inquietante nele — não ameaçador, mas antigo. Como se carregasse séculos de verdades que ninguém ousava dizer.
— A Rosa Negra não floresce no coração de quem ama com medo — ele disse. — E vocês dois... ainda têm medo um do outro.
Helena franziu o cenho.
— Medo?
— Medo de se entregar. Medo de confiar. Medo de perder o controle. O orgulho é a armadura que vocês usam pra não se ferirem de novo.
Damon cruzou os braços, desconfiado.
— E o que isso tem a ver com Lucien?
Alaric se aproximou dele.
— Lucien não precisa destruir vocês. Basta que vocês se destruam sozinhos.
Helena sentiu o peso daquelas palavras. Sabia que eram verdade. Por mais que quisesse lutar ao lado de Damon, ainda havia barreiras. Mágoas. Silêncios.
— Então o que fazemos? — ela perguntou.
Alaric apontou para uma porta lateral da igreja.
— Lá dentro, há um espelho. Mas não é comum. Ele mostra o reflexo da alma. Vocês vão entrar juntos. E vão ver o que realmente são — um para o outro.
Damon hesitou.
— E se não gostarmos do que vemos?
— Então saberão o que precisam curar. Ou o que precisam deixar para trás.
Helena olhou para Damon. Ele a encarou. E sem dizer nada, os dois caminharam até a porta.
O corredor era estreito, iluminado por velas que tremulavam com uma brisa invisível. No fim, havia uma sala circular, com um espelho alto no centro. Mas não havia reflexo. Apenas uma superfície escura, como água parada.
— Prontos? — perguntou Alaric, da entrada.
Helena deu um passo à frente. Damon ao lado dela.
— Sempre — ela disse.
O espelho brilhou. E então, imagens começaram a surgir.
Helena viu a si mesma, aos 17 anos, sorrindo ao lado de Damon sob a chuva. Depois, viu o momento em que ele partiu — e ela caiu de joelhos, sozinha.
Damon viu Helena escrevendo a carta que nunca enviou. Viu o rosto dela no dia em que ele voltou — e a dor que ela tentou esconder.
Mas então, o espelho mudou.
Mostrou Helena com os olhos escuros, tomada pela Rosa Negra. Damon tentando segurá-la, implorando para que ela voltasse. E ela... sorrindo com crueldade.
Helena recuou, assustada.
— Isso é o futuro?
Alaric entrou na sala.
— É uma possibilidade. Se vocês não enfrentarem o que os separa. Se o orgulho vencer o amor.
Damon segurou a mão de Helena.
— Eu não vou deixar isso acontecer.
Ela olhou para ele, os olhos marejados.
— Então me escuta. Me respeita. Me deixa ser forte ao seu lado — não por você, mas por mim.
Damon assentiu.
— Eu prometo.
O espelho escureceu. A sala ficou em silêncio.
Alaric sorriu.
— A primeira batalha foi vencida. Mas o eclipse se aproxima. E com ele... Lucien.
A sala do espelho estava mergulhada em silêncio. As velas tremulavam suavemente, como se tivessem testemunhado algo sagrado. Helena ainda segurava a mão de Damon, mas agora com menos tensão. Havia algo diferente ali — uma aceitação mútua, uma trégua silenciosa.
— Eu vi você me odiando — disse Damon, com a voz baixa. — No reflexo. E foi pior do que qualquer dor que já senti.
Helena se sentou no chão de pedra, puxando-o para perto.
— Eu vi você implorando por mim. E eu... eu estava perdida. Tomada por algo que não sou. Mas que talvez eu possa me tornar, se não tiver você por perto.
Damon se ajoelhou diante dela.
— Então não me deixa ir. Nem quando eu errar. Nem quando eu tiver medo.
Ela olhou nos olhos dele, e pela primeira vez desde que ele voltou, viu o homem que amou — sem máscaras, sem defesas.
— Eu não quero que você vá. Mas também não quero que você fique por culpa ou medo. Quero que fique porque acredita em nós. Porque acredita em mim.
Ele tocou o rosto dela com delicadeza.
— Eu acredito. Mesmo quando tudo parece contra. Mesmo quando o mundo diz que não devemos existir.
Helena sorriu, um sorriso pequeno, mas verdadeiro.
— Então vamos existir. Um dia de cada vez.
Eles se abraçaram ali, no centro da sala, com o espelho apagado atrás deles. E naquele abraço, não havia promessas. Havia presença. Havia escolha.
Alaric observava da porta, em silêncio.
— O amor verdadeiro não é perfeito — ele disse. — Mas é a única força capaz de enfrentar o que está por vir.
Helena se levantou, ainda de mãos dadas com Damon.
— Então estamos prontos. Que venha o eclipse.
Alaric assentiu.
— Mas lembrem-se: o eclipse não testa apenas o coração. Ele testa a alma. E nem todo amor sobrevive à escuridão.
Helena e Damon saíram da igreja juntos, o céu já tingido de vermelho. A noite se aproximava. E com ela, o primeiro confronto com Lucien.
Mas agora, eles estavam unidos. E isso mudava tudo.
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Atualizado até capítulo 21
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