caso 4 Parte 1
Ano: 2009
Local: Bath, Inglaterra
Era uma tarde fria e chuvosa quando um pacote misterioso chegou à porta dos Moore. O carteiro não trocou uma palavra, apenas deixou a caixa de madeira escura sobre o degrau e se afastou. A madeira parecia antiga, marcada por símbolos estranhos entalhados na superfície e com um cheiro de mofo úmido, como se tivesse passado décadas trancada em um sótão esquecido.
Nathan empurrou a caixa para dentro, apoiando-a na mesa do escritório, enquanto Leonor observava cada detalhe. Seus olhos se fixaram nos entalhes: pequenas figuras humanas em expressões de dor, mãos crispadas, bocas abertas em gritos silenciosos.
— Isso não parece apenas decorativo… — murmurou ela, quase sem respirar.
Nathan abriu a tampa, revelando um tecido preto gasto. Ao desdobrá-lo, encontraram um espelho oval com moldura de prata envelhecida. O vidro parecia vivo; a luz da sala ondulava sobre sua superfície, criando reflexos distorcidos que não correspondiam à realidade.
Na parte de trás, uma etiqueta antiga, quase ilegível, dizia:
> “Propriedade de Margaret Holloway — 1887.
Não olhar por mais de 13 segundos.”
Antes que pudessem discutir o aviso, o telefone fixo tocou. Leonor atendeu com cuidado. Do outro lado, uma voz feminina, baixa e abafada, disse:
> — Ele já viu você… e agora vai querer mais.
A ligação caiu abruptamente. Nathan olhou para o espelho, e por um instante, viu uma sombra atrás de Leonor — mas quando se virou, não havia ninguém.
O ambiente ao redor começou a esfriar, e um choro baixo emergiu do vidro, tão real que parecia ecoar pelo cômodo. Leonor aproximou-se lentamente, observando o reflexo: não era apenas o próprio reflexo que via, mas imagens de pessoas contorcidas em agonia, em cenas que pareciam saídas do passado.
— Nathan… — sussurrou ela, tremendo — isso não é apenas um objeto amaldiçoado. É uma porta… uma porta para algo que não deveríamos abrir.
O casal trocou um olhar. A investigação estava prestes a começar, mas já sabiam que aquele espelho não seria apenas mais um caso. Ele tinha vida própria, vontade própria… e fome de atenção.Parte 2
Ano: 2009
Local: Bath, Inglaterra
A chuva continuava a cair forte, batendo nas janelas como se quisesse avisá-los do perigo. Nathan e Leonor organizaram o equipamento: câmeras, gravadores, crucifixos e água benta. O espelho estava sobre a mesa, emanando uma sensação de frio cortante que parecia penetrar nos ossos.
Leonor abriu o caderno e começou a anotar cada detalhe: os símbolos na moldura, o reflexo distorcido da luz, o peso opressivo no ar. Nathan posicionou as câmeras, tentando registrar qualquer anomalia.
> — Esses rostos… não são apenas figuras decorativas — murmurou Leonor. — Eles parecem capturar sofrimento… talvez até mortes.
Nathan observou o vidro com cuidado:
> — E aquele aviso de 13 segundos? Parece exagero… mas algo me diz que não é.
No momento em que Leonor olhou diretamente para o espelho, o ar ao redor pareceu escurecer. O reflexo começou a ondular, mostrando imagens fugazes de pessoas contorcidas em dor, gritando em silêncio. Um choro distante e real ecoava do vidro, preenchendo o cômodo de uma maneira impossível de ignorar.
— Nathan… — disse Leonor, tremendo — ele quer nos puxar.
De repente, no reflexo, surgiu uma mulher de cabelos escuros e olhos fundos, chorando silenciosamente. Ela estendeu a mão, e a imagem parecia avançar para o mundo real, empurrando uma onda de frio que os forçou a recuar.
Nathan ergueu o crucifixo, tentando conter a influência do espelho, enquanto Leonor pegava a caixa de prata onde guardavam objetos de casos anteriores. Juntos, desenharam símbolos de proteção ao redor do espelho e começaram a recitar orações baixinho.
O vidro pulsou, liberando uma pressão intensa que empurrou ambos contra a mesa. A luz das velas tremeluziu, e o choro transformou-se em gritos distorcidos. Mas, no instante em que Leonor completou a última oração, o espelho estourou em um clarão de luz, e o som cessou.
Quando a luz se dissipou, a mulher ainda estava lá, imóvel, os olhos vazios e penetrantes. Nathan suspirou, guardando a caixa de prata:
— Isso não acabou. Ele quer mais…
O casal percebeu que o espelho não apenas refletia sofrimento, mas o atraía, testando a coragem de quem ousasse encará-lo. A investigação estava apenas começando, e algo dentro do vidro já sabia que eles estavam observando.
Parte 3 (Final)
Ano: 2009
Local: Bath, Inglaterra
O ar na sala estava gelado a ponto de cortar a pele. Cada respiração parecia condensar-se em pequenas nuvens de vapor, e a luz das velas tremeluzia, projetando sombras que dançavam nas paredes. O espelho estava sobre a mesa, pulsando com uma energia própria, ondulando como se respirasse.
Leonor aproximou-se, segurando a caixa de prata com força. Nathan ergueu o crucifixo, mas mesmo assim, uma sensação de peso começou a pressionar seus ombros e peito, tornando cada movimento difícil.
O vidro começou a mudar. Não mais reflexos simples: imagens de mortes passadas, violentas e agonizantes, surgiam e desapareciam rapidamente. Rostos contorcidos, corpos quebrados, e cada cena parecia emitir um sussurro, um chamado que parecia atravessar a própria mente deles.
— Ele está tentando nos atrair — murmurou Leonor, voz trêmula. — Se não o contivermos, pode nos levar.
O espelho tremeu e a figura da mulher de cabelos escuros surgiu novamente, agora mais próxima, avançando do vidro como se pudesse atravessar a superfície. Seus olhos vazios pareciam sugar a energia da sala, e uma onda de desespero os envolveu.
Nathan recitou uma oração firme, enquanto Leonor posicionava a caixa de prata sobre o espelho, unindo o objeto aos artefatos recuperados em outros casos. A caixa começou a vibrar violentamente, emitindo uma luz própria que colidiu com a escuridão do espelho.
A entidade gritou através do vidro, um som que parecia rasgar os ossos, e a mulher ergueu as mãos para fora do vidro, tentando alcançar Nathan e Leonor. O chão tremeu, livros caíram, velas se apagaram, e o frio atingiu seu ponto máximo.
Leonor desenhou símbolos de proteção ao redor do espelho e da caixa, pronunciando a última oração com toda a força de sua voz. Nathan segurou firme, sentindo cada fibra do seu corpo contra a força que tentava abrir a caixa e destruir a barreira.
No instante seguinte, um clarão branco iluminou a sala. O espelho tremeu violentamente e, finalmente, explodiu em silêncio. A mulher desapareceu, o frio se dissipou e o choro cessou. Apenas o silêncio absoluto permaneceu.
Leonor respirou fundo, olhando para Nathan:
— Conseguimos… mas ele ainda existe. Ele não foi destruído.
Nathan assentiu, guardando a caixa de prata.
> — Ele vai esperar… e sempre encontrará uma forma de se manifestar.
Enquanto saíam da casa, a chuva continuava, mas algo parecia observá-los do outro lado da rua, refletido em uma vitrine. O espelho havia sido contido, mas sua influência se espalharia, e Nathan e Leonor sabiam que este era apenas mais um aviso do que o mundo sobrenatural ainda escondia.
O Caso 4 estava encerrado.
Mas o Espelho do Lamento jamais seria esquecido.
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Atualizado até capítulo 20
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