O Sussurro na Névoa

Ano: 2011

Local: Praga, República Tcheca

A neblina cobria Praga como um manto cinzento e frio, transformando cada rua de paralelepípedo em um labirinto de sombras. O inverno apertava o ar, tornando cada respiração visível, e o som distante de sinos parecia ressoar em um eco que nunca terminava. Nathan e Leonor Moore caminharam pelo centro histórico, o som de suas botas sobre a pedra molhada marcando um ritmo tenso e desconfortável.

Eles haviam sido chamados pelo professor Pavel Richter, um especialista em manuscritos antigos e simbologia medieval, que afirmava ter descoberto um padrão aterrador: os símbolos encontrados no medalhão de Marselha e na caixa de Londres pertenciam a um conjunto de sete peças ritualísticas — todas ligadas a um selo que mantinha aprisionada uma entidade que a Igreja, séculos atrás, classificou apenas como “O Abismo”.

O encontro foi marcado em um antigo porão de biblioteca, acessado por uma escadaria estreita e íngreme, escondida atrás de uma porta de ferro enferrujada. O ar cheirava a mofo, livros antigos e cera de vela queimada. As paredes de pedra exalavam um frio que parecia penetrar na espinha.

— Vocês entenderam o risco? — perguntou Pavel, sem rodeios, sua voz baixa e trêmula. — Se alguém interferir no selo, mesmo que seja por curiosidade ou estudo, aquilo que está contido pode escapar. Não é apenas uma história de fantasmas. É algo… real.

Leonor, sempre meticulosa, abriu seu caderno e começou a desenhar os símbolos à medida que Pavel falava. Nathan, por sua vez, analisava cada canto do porão, as sombras que pareciam se mover sutilmente à medida que a vela tremeluziu.

> — Estas peças… — continuou Pavel, apontando para uma gravura antiga — …são sete, como vocês já sabem. Cada uma carrega parte da essência da entidade. Londres e Marselha correspondem às duas primeiras. A terceira, creio eu, ainda está aqui em Praga, escondida em um local que ninguém ousou investigar por séculos.

Antes que Nathan pudesse perguntar detalhes, um estalo ecoou atrás deles, seguido por um som metálico — como se correntes fossem arrastadas. Pavel engoliu em seco e desviou o olhar para o canto escuro do porão.

— Não… não pode ser tão rápido — murmurou ele.

O ar começou a ficar pesado. Uma corrente de vento gelado soprou de um ponto invisível, apagando as velas. O silêncio absoluto tomou o ambiente, interrompido apenas pelo som da própria respiração deles, agora acelerada.

— Mostrem-se! — Nathan ordenou, segurando firme o crucifixo.

No canto do porão, uma sombra começou a se formar. Não tinha contornos definidos, mas parecia pulsar, como se tivesse vida própria. Um cheiro de enxofre e ferro queimado tomou o ar, e a temperatura caiu rapidamente, formando um orvalho frio nas paredes e nos cabelos de Leonor.

Do nada, uma voz gutural e arranhada, que parecia vir de todos os lados ao mesmo tempo, sussurrou:

> “Vocês não verão a terceira peça… não chegarão à fonte.”

A sombra começou a se contorcer, crescendo, espalhando um medo quase físico. Leonor sentiu uma pressão em seu peito, como se algo invisível tentasse esmagá-la contra o chão. Nathan, firme, ergueu o gravador de campo e começou a registrar, enquanto Pavel apenas observava, incapaz de reagir.

— Precisamos sair daqui antes que… — começou Leonor, mas Nathan a interrompeu:

— Não podemos. Isso nos foi entregue para investigar. Se sairmos agora, alguém mais pode encontrar a terceira peça sem saber do risco.

A sombra avançou, e eles perceberam que a entidade não estava apenas tentando assustá-los — estava testando limites. O porão parecia se alongar, o chão estalar sob passos invisíveis, as paredes respirarem. Cada símbolo que Leonor havia desenhado no caderno parecia vibrar sutilmente, como se reconhecesse a presença da entidade.

Nathan então percebeu algo no fundo do porão: uma porta de madeira, coberta por teias e pó, com símbolos gravados muito semelhantes ao do medalhão. A porta parecia pulsar, respirando com a sombra, e a sensação de perigo aumentou.

— Ali — disse ele, apontando. — É lá que está a terceira peça.

Leonor engoliu seco, ajustando o caderno e a pequena caixa de prata que sempre carregava.

— E se ela não quiser que a encontremos?

Antes que pudessem se aproximar, um estrondo estourou o teto do porão, e a sombra se projetou contra a parede, formando uma figura que lembrava uma criança… mas com proporções impossíveis e olhos negros como brasas.

Nathan segurou firme o crucifixo, Leonor o caderno, e Pavel recitou uma oração hesitante. Mas o perigo estava apenas começando.

O primeiro capítulo do Caso 3 termina ali: com a terceira peça à vista, mas a entidade se manifestando de forma mais agressiva, testando os limites deles — e deixando claro que a série de arquivos proibidos estava apenas se tornando mais mortal.

Parte 2

Ano: 2011

Local: Praga, República Tcheca

A porta de madeira antiga parecia pulsar sob a mão de Nathan. Cada golpe que ele dava com o punho ecoava como um tambor de alerta, reverberando pelo porão úmido. Leonor segurava a caixa de prata contra o peito, ciente de que aquela peça poderia ser a chave para conter o que quer que estivesse por trás do selo.

Pavel tremia enquanto observava, murmurando palavras de advertência:

— Não… não forcem a abertura. Qualquer descuido…

Antes que pudesse terminar, o ar mudou. Um vento súbito e cortante atravessou o porão, apagando a última vela que restava. O frio era tão intenso que seus ossos pareciam rachaduras de gelo.

Leonor sentiu uma presença atrás de si. Virou-se lentamente e viu a silhueta da criança novamente, agora pairando sobre o chão, imóvel, mas com os olhos negros brilhando como carvão em brasa. Um sussurro ecoou pelo espaço:

> “Vocês não deveriam estar aqui…”

O som parecia vir de todos os cantos, reverberando no peito e na mente de cada um deles. A sombra começou a se contorcer, crescer, esticar braços impossíveis pelas paredes do porão, rasgando o ar. Livros caíram das prateleiras, poeira subiu e cada passo do trio se tornou perigoso, como se a gravidade estivesse sendo alterada.

Nathan ergueu o crucifixo e começou a recitar uma oração em latim, firme, com voz firme apesar do medo. Leonor, sentindo a pressão no ar aumentar, colocou a caixa de prata no chão e abriu-a. Dentro, o medalhão negro pulsava, lançando uma luz vermelha fraca que parecia sugar a escuridão ao redor.

O momento era delicado — o medalhão parecia consciente, vibrando em resposta à presença da entidade. Pavel recuou, mas Nathan se aproximou, determinado:

— Precisamos estudar isso, precisamos entender.

Quando Nathan tocou o medalhão com um pano, um grito que parecia vir de mil vozes explodiu pelo porão. A silhueta da criança se projetou contra eles, movimentando-se rápido demais para os olhos humanos, atravessando paredes como fumaça.

Leonor recitou rapidamente uma oração, desenhando símbolos de proteção no ar com a ponta do caderno. O medalhão começou a tremer violentamente. A sombra gritou de forma distorcida, um som que parecia quebrar os ossos e gelar a mente ao mesmo tempo.

De repente, uma corrente invisível arrastou Nathan e Leonor para trás, pressionando-os contra a parede. Pavel caiu de joelhos, tentando não olhar para a força que emanava do medalhão.

Leonor, respirando com dificuldade, percebeu que o medalhão emitia um som próprio, quase musical, que parecia ressoar diretamente em seu cérebro. Ela entendeu então que a peça não era apenas um objeto — era um foco de energia, uma âncora que prendia algo muito antigo e maligno.

— Nathan… se abrirmos completamente essa porta… — sua voz falhou, mas Nathan a interrompeu:

— Não podemos recuar agora. Se o que está aqui está ligado às outras peças… precisamos agir antes que outra pessoa encontre a terceira e cause algo irreversível.

Com um esforço conjunto, eles empurraram a porta, revelando um compartimento escondido, cheio de teias e velas apagadas. No centro, repousava um terceiro medalhão, idêntico ao que tinham visto em Londres e Marselha. Mas uma corrente negra parecia fluir dele para o teto e para as paredes, conectando-o à sombra que agora se agitava furiosa.

O porão inteiro tremeu. Um estrondo profundo fez as pedras se soltarem do teto, e a sombra da criança se projetou para dentro do compartimento, tentando se fundir com o medalhão.

Nathan e Leonor se entreolharam, cientes de que estavam lidando com algo que não podiam vencer com força física — apenas inteligência, fé e coragem. Eles precisavam conter a entidade ali mesmo, naquele instante, ou todo o trabalho dos casos anteriores seria em vão.

O capítulo termina com a tensão máxima: a terceira peça encontrada, a entidade mais agressiva do que nunca, e a consciência de que apenas um erro poderia liberar um poder que ninguém podia controlar.Parte 3 (Final)

Ano: 2011

Local: Praga, República Tcheca

O porão parecia vivo. Cada pedra, cada viga, parecia pulsar com a presença da entidade. O medalhão negro, agora revelando sua energia em ondas que sacudiam o ar, iluminava parcialmente o espaço, projetando sombras distorcidas que pareciam atacar os investigadores.

A silhueta da criança, agora completa, com braços desproporcionais e olhos como brasas, avançava. Cada passo fazia o chão tremer, como se a própria fundação da biblioteca estivesse reagindo à sua presença.

— Leonor, segura firme! — Nathan gritou, enquanto erguia o crucifixo e começava a recitar a oração em latim que haviam memorizado desde Londres.

Leonor, trêmula, segurava o caderno aberto sobre o medalhão, desenhando rapidamente símbolos de proteção, como se cada traço fosse uma barreira invisível. A pressão no ar aumentava, quase tirando-lhes o ar, e a sombra avançava, emitindo gritos que distorciam a realidade ao redor.

Pavel, apavorado, tentou recuar, mas uma força invisível o puxou para o chão, segurando-o com brutalidade.

— Nathan… — Leonor gritou — ele não vai resistir!

— Então nós vamos ajudá-lo! — respondeu Nathan.

Eles perceberam que não poderiam apenas recitar orações; precisavam usar os objetos que carregavam. A caixa de prata, com o medalhão de Marselha dentro, começou a vibrar violentamente. Nathan e Leonor colocaram a terceira peça dentro da caixa, unindo todas as partes do selo.

No instante em que a tampa se fechou, um grito coletivo de vozes espectrais reverberou pelo porão, e a entidade lançou-se contra eles. O impacto os jogou contra as paredes. Livros, velas, teias, tudo voava pelo ar.

Leonor gritou a última oração, desenhando símbolos luminosos ao redor da caixa. Nathan, segurando firme, sentiu o peso da força que tentava abrir a tampa. Cada músculo do corpo dele ardia, mas ele não cedeu.

De repente, o porão tremeu violentamente, pedras se soltaram do teto, mas a caixa permaneceu firme. A entidade gritou uma última vez, uma mistura de raiva e desespero, antes de ser sugada de volta para dentro do selo. Um silêncio absoluto caiu sobre o lugar.

Pavel, exausto e pálido, engoliu em seco:

— Conseguiram… — murmurou, sem acreditar.

Leonor fechou os olhos por um instante, respirando fundo.

— Não acabou… — disse ela, olhando para Nathan. — Isso é só uma peça de algo muito maior.

Nathan assentiu, olhando para a caixa.

— E cada vez que uma dessas peças for removida ou aberta… alguém vai enfrentar o mesmo que nós enfrentamos aqui.

Enquanto saíam do porão, a neve caía pesada sobre as ruas de Praga, cobrindo pegadas e apagando rastros. Mas algo pairava acima da biblioteca: uma sombra que observava, silenciosa, aguardando o próximo movimento.

O Caso 3 estava encerrado.

Mas Nathan e Leonor sabiam que não haviam visto o fim.

O Abismo ainda estava lá, e ele nunca esquecia.

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